Na esteira do debate da Linguagem Simples e de uma comunicação mais acessível no serviço público para a população, as organizações Conexão Inovação Pública e Linguagem Simples Lab realizaram neste mês o “Concurso Piores Palavras de 2023”. Ao todo, foram sugeridos pelo público em geral 111 termos, que foram julgados pela banca avaliadora e divididos em cinco categorias: Executivo, Legislativo, Judiciário, órgãos independentes e palavra mais crítica.
“É frequente que o poder público use expressões que dificultam encontrar, entender e usar informações importantes para o exercício da cidadania e a transparência. O objetivo, ao evidenciar alguns desses termos, é aprimorar a comunicação entre o poder público e a população”, explica a organização.
Na esfera do Executivo, a palavra escolhida pelo júri como pior em 2023 foi “ageusia”. O termo foi usado em em página oficial para explicar um dos sintomas da covid-19. Um sinônimo mais compreensível para o vocábulo poderia ser “perda do paladar”. Já no Legislativo, a expressão escolhida foi “ordem do dia”, que nada mais é do que a fase da sessão em que parlamentares discutem e votam propostas.
“Atermação” foi eleita a pior palavra do Judiciário. O termo é um meio de acessar a Justiça sem advogado. A banca julgadora apresentou como alternativa “entrar com ação judicial”. Na categoria dos órgãos independentes, o termo escolhido foi “jurisdicionado”, que significa qualquer pessoa ou instituição que pode ser fiscalizada por receber verba pública.
Por fim, a palavra “logradouro”, que significa endereço, foi apontada como a mais crítica por se tratar de um item de um formulário de preenchimento obrigatório para se obter vários direitos. “A pessoa que foi preencher pediu ajuda porque não tinha a menor ideia do que era para escrever. Perguntou em qual documento dela poderia encontrar essa informação. É um dos termos mais buscados no Google, segundo o UOL”, disse o cidadão que, anonimamente, indicou o termo.
Os participantes puderam indicar termos usados pelo poder público que fossem:
- de difícil entendimento (jargões, termos técnicos, siglas internas, palavras de pouco uso);
- que estivessem sendo usados para esconder ou minimizar o real significado de alguma informação, afetando a transparência;
- que piorassem a navegação em sites e aplicativos, dificultando encontrar a informação desejada e afetando negativamente a experiência do usuário (itens de menu, links, botões, formulários).
Todas as expressões classificadas foram avaliadas individualmente por cada integrante da banca julgadora, sob três critérios: alcance, criticidade e incompreensibilidade.
A criticidade avaliada diz respeito ao “dano potencial da má compreensão da comunicação para se obter um direito, encontrar ou compreender uma informação importante”. A banca considerou, então, se a má compreensão do termo impede a pessoa de terminar o serviço, o que é o caso do “logradouro”, uma vez que o endereço muitas é campo de preenchimento obrigatório.
Além desse critério, o concurso ainda levou em conta na votação o alcance e a incompreensibilidade. O primeiro avalia o número de pessoas potencialmente impactadas pela comunicação, enquanto o segundo analisa a dificuldade do cidadão em compreender o termo no contexto que foi apresentado.
A iniciativa das organizações Conexão Inovação Pública e Linguagem Simples Lab contou com representantes de outras cinco instituições. Segundo os organizadores, os órgãos que publicaram os termos selecionados “serão informados do resultado do concurso por comunicado oficial”, com as devidas sugestões de alteração do texto.
Participaram do júri:
Rodrigo Narcizo
Conexão Inovação Pública
Patrícia Roedel
Linguagem Simples Lab
Allana Albuquerque
Associação Brasileira de Comunicação Pública
Igor Britto
Instituto de Defesa do Consumidor
Claudia Cappelli
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital
Fábio Bruni
Rede Linguagem Simples Brasil
Paula Estellita
Tribunal de Contas da União
(Por Pedro Sales)