Em declaração recente em que voltou a criticar a política de juros adotada pelo Banco Central, que mantém as taxas mais altas praticadas no mundo, o presidente Lula afirmou: “Não sou só eu quem critica. Pergunte a qualquer empresário”. Na linha da declaração de Lula, um dos mais importantes empresários brasileiros, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, endossou: “As taxas de juros elevadas vão continuar inibindo a atividade econômica e, por consequência, a industrial, ao longo do ano”.
A declaração de Robson Andrade está atrelada aos resultados do Informe Conjuntural da CNI para o primeiro trimestre de 2023, ao qual o Congresso em Foco teve acesso. Segundo os dados do informe, a economia brasileira terá uma expansão de 1,2% em 2023, após alta de 2,9% no ano passado. E a indústria vai crescer apenas 0,1%, ante alta de 1,6% em 2022. Ou seja, se o crescimento no ano passado já era preocupante, a manutenção da política de juros torna o quadro pior ainda agora.
Inflação de 6%
Mesmo com a expectativa de uma redução na taxa de juros a partir de agosto, a Selic será mantida em patamar elevado, com efeitos negativos sobre o crédito, os investimentos, o consumo e o comércio. A previsão da CNI é de que o Brasil encerre o ano com inflação em 6% e Selic 11,75%.
A economia brasileira sofre as consequências da falta de planejamento de longo prazo e da ausência de política industrial nos últimos trinta anos. “O Brasil não tem política industrial e a indústria tem perdido fôlego sufocada por uma série de disfunções, principalmente no sistema tributário. Quando a indústria vai mal, o Brasil perde, porque é a indústria que paga os melhores salários, desenvolve tecnologia e inovação”, afirma Robson Andrade.
A expansão de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro será financiada em grande parte pelo consumo das famílias, como ocorreu nos anos anteriores. Os dados apontam para o aumento da massa salarial ao longo do primeiro semestre, mas com expectativa de desaceleração do avanço do emprego. A perda de tração na atividade econômica neste ano também ocorre pela queda do ritmo de crescimento do setor de serviços.
Veja a íntegra do Informe Conjuntural da CNI:
A indústria ficará estagnada em 2023, com um crescimento pífio de 0,1%. A queda da confiança colocou os investimentos e as contratações em compasso de espera. Além disso, um dos principais problemas que preocupa o empresário industrial é o enfraquecimento da demanda, provado pelos juros altos, elevado grau de inadimplência e de endividamento das famílias.
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, explica que a queda na demanda já é percebida na queda do faturamento da indústria. “Observamos a redução da demanda, não apenas do consumidor final, mas entre empresas, como menor consumo de insumos industriais e bens de capital, por exemplo”, explica o economista.
A indústria foi o segundo principal responsável pelo crescimento econômico em 2022. Neste ano, os dados mensais da produção física industrial, que contemplam a indústria de transformação e a extrativa, apontam que o desempenho fraco da atividade industrial deve se manter ao longo de 2023.
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