Na segunda-feira (10), o governo Lula completa cem dias. A marca foi a razão do terceiro café da manhã que o presidente da República fez com jornalistas que acompanham o governo. O Congresso em Foco esteve presente em todos os três encontros. As respostas de Lula aos jornalistas mostram que o governo chega à marca compartilhando preocupações semelhantes às da sociedade e dos demais atores políticos. Recente pesquisa do Datafolha mostrou os temores do brasileiro com a situação econômica. E o Painel do Poder, pesquisa trimestral que o Congresso em Foco faz com líderes políticos, aponta que, para o Congresso, o governo até agora acertou na promoção da democracia e derrapou na economia. Lula disse, então, aos jornalistas: sua obsessão agora será a retomada da economia.
“Minha obsessão nos primeiros cem dias era retomar as políticas sociais. Agora, a obsessão será a retomada do crescimento”, afirmou o presidente. De acordo com Lula, a preocupação no começo do governo era retomar as políticas sociais que foram descontinuadas no governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele citou algumas: o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. “Estou satisfeito com os primeiros cem dias. Não esperava que se recolocasse o avião no ar com tanta rapidez”, afirmou. A partir de agora, segundo ele, os esforços se concentrarão em retirar o país da atual situação de estagnação econômica, alavancando o seu crescimento.
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“A economia precisa voltar a crescer. Não é um desejo do presidente. É uma necessidade”, disse Lula. O presidente considera que o caminho para isso é ter o governo como indutor do crescimento a partir da realização de obras. “Temos um potencial extraordinário que é a quantidade de obras paralisadas a serem retomadas”, afirmou. Uma das áreas que serão estimuladas, segundo ele, serão as obras de sanamento”.
Lula afirmou que, logo após a viagem que fará à China na semana que vem, pretende chamar os governadores para o anúncio das obras que serão retomadas nos estados. “O governo anterior investiu R$ 21 bilhões em obras de transportes. Só neste ano, investiremos R$ 23 bilhões no setor. E daqui para a frente será assim em todos os setores”, anunciou.
Nova crítica aos juros
Na “obsessão” anunciada por fazer o país retornar a crescer, Lula reconhece algumas dificuldades. E voltou a bater na tecla da política de juros altos mantida pelo Banco Central. Lula quer, na volta da China, discutir a criação de uma política de crédito para pequenos e médios empresários. Quer a retomada também de financiamentos mais facilitados para o retorno da compra pela população de automóveis populares. Mas considera que tudo isso se torna muito difícil com a manutenção da atual política de juros praticada pelo Banco Central.
“Não é possível a economia funcionando com esses juros. É impossível o BNDES emprestar com esses juros”, disse, referindo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Ao criticar a política de juros, Lula acabou gerando uma polêmica na resposta aos jornalistas. Ele comentou ter lido uma entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na qual ele disse que para manter a meta de inflação prevista para 2023, de 3,25%, os juros teriam que chegar a 26,5%, bem acima dos atuais 13,75% que já são a maior taxa de juros do mundo, criticada por Lula.
“Se a meta está errada, muda-se a meta”, respondeu Lula. “É humanamente inexplicável a taxa de juros de 13%. Não é possível a economia funcionar”.
Mais tarde, Lula esclareceu que não estava propondo uma mudança na meta de inflação. Mas falava de uma situação hipotética. O ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, reforçou depois da entrevista que era uma hipótese. Algo que poderia vir a ser discutido. Mas não descartou que a questão dos juros e formas de obter a sua redução farão de fato parte das preocupações de Lula após a viagem à China.
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