Cinco grandes empresários que se destacaram nos últimos anos como apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro foram beneficiados, por meio de suas famosas marcas, mais de R$ 150 milhões em benefícios fiscais em 2024. Os dados fazem parte da lista de 54,9 mil empreendimentos que desfrutaram, entre janeiro e agosto deste ano, o montante de R$ 97,7 bilhões em isenções fiscais, conforme levantamento divulgado pelo Ministério da Fazenda. Não há nada de irregular no recebimento desses incentivos, que estão previstos em lei. Mas é a primeira vez que a Fazenda torna públicas essas informações.
O líder nos benefícios é o Grupo Madero, de Junior Durski. Em 2020, durante a pandemia, o empresário criticou o isolamento social e afirmou que “o Brasil não pode parar por 5 ou 7 mil mortes”. Apesar da fala e do apoio a Jair Bolsonaro, em entrevista ao jornal O Globo, Junior Durski disse ter se arrependido pela crítica durante a pandemia e por ter apoiado o ex-presidente. A empresa teve benefício fiscal de R$ 70,9 milhões pelo Programa Emergencial de Retorno do Setor de Eventos (Perse).
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Criado em 2021, o Perse foi elaborado com objetivo de proteger o setor de eventos em meio à pandemia, o qual foi diretamente impactado pelas medidas de isolamento social. As empresas, então, foram beneficiadas com alíquota zero do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
O governo tentou terminar no final do último ano a continuidade do programa por meio de medida provisória, isto é, com efeito imediato. O Congresso, no entanto, opôs-se à suspensão. Após negociação entre as partes, o benefício foi mantido. Em abril, o Senado aprovou a manutenção do Perse com limite de gastos de R$ 15 bilhões até 2026.
A empresa do setor calçadista Grendene, chefiada pelos irmãos Alexandre e Pedro Grendene, é a segunda com maior benefício, R$ 40,6 milhões em virtude da desoneração da folha de pagamento. A indústria de calçados é um dos 17 setores contemplados pela medida.
Em 2022, os irmãos demonstraram apoio ao ex-presidente e então candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Na ocasião, cada um doou R$ 1 milhão para a campanha do então candidato à reeleição. Os irmãos doaram o mesmo valor para o petista Camilo Santana, à época candidato a senador pelo Ceará, e atualmente ministro da Educação.
PublicidadeSebastião Bomfim, dono das lojas de artigos esportivos Centauro, declarou, ainda em 2018, apoio a Bolsonaro, que disputou o segundo turno, na ocasião, contra Fernando Haddad (PT). Desde então, o empresário foi visto como apoiador do ex-presidente e, em razão disso, teve sua empresa na mira de boicotes por tal adesão.
A empresa SBF Comércio de Produtos Esportivos S.A., razão social da Centauro, teve benefício de R$ 39,9 milhões entre janeiro e agosto de 2024. De acordo com a tabela disponibilizada pela Fazenda, a origem das isenções decorre de “subvenções para investimentos”.
Bolsonarismo “raiz”
Dono das Lojas Havan, Luciano Hang ao longo dos anos despontou como uma das figuras do bolsonarismo raiz. Com estampas em verde-amarelo para reafirmar o patriotismo e sua posição política, a empresa também ostenta em suas unidades réplicas da Estátua da Liberdade, ícone dos Estados Unidos.
Outro representante desta vertente é Afrânio Barreira Filho, dono da rede de restaurantes Coco Bambu. Em 2020, assim como Durski, o empresário defendeu afrouxamento das medidas de isolamento social e, além disso, endossou o uso de cloroquina como combate ao coronavírus, bandeira levantada por Bolsonaro, no período.
Os dois empresários, inclusive, foram alvos de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) em agosto de 2022. No inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), foram reveladas mensagens em grupo de WhatsApp, no qual os integrantes defendiam um golpe de Estado caso Lula vencesse as eleições.
Afrânio Barreira reagiu a uma mensagem de José Khoury, dono do Barra World Shopping, em que dizia: “Prefiro golpe do que a volta do PT” com emoji de palmas, Já Luciano Hang não aparecia nas mensagens endossando golpe, apesar de integrar o grupo e, por isso, também foi alvo da operação.
Em relação aos benefícios fiscais dos empresários durante o governo Lula, o Ministério da Fazenda revelou que a Havan deixou de pagar R$ 299,3 mil em razão do Perse. O programa também foi responsável pelos benefícios do Grupo Coco Bambu que atingiu a cifra de R$ 1,8 milhão.