Em um fenômeno inédito desde 1998, a censura a jornalistas foi considerada a principal forma de violência contra a liberdade de imprensa em 2021. Ao todo, foram identificados 140 casos ao longo do ano, representando 32,56% dos ataques à imprensa no período em questão. O dado foi revelado na última edição do Relatório da Violência Contra Jornalistas, levantado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e divulgado na quinta-feira (27).
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), veículo público de imprensa, foi o principal alvo de censura, acumulando 138 dos 140 casos registrados em 2021. “Infelizmente, com o governo de Jair Bolsonaro, houve uma mudança de atuação da EBC, e os profissionais jornalistas passaram a ser cerceados no seu trabalho”, explicou a presidente da Fenaj, Maria José Braga.
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Em segundo lugar ficou a descredibilização da imprensa, com 131 casos registrados. Esta, por sua vez, já estava em alta desde 2019, ano em que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo. “Essa descredibilização consiste em falas genéricas de críticas à mídia como um todo, a veículos de comunicação específicos e ataques à categoria em geral”, define Maria José Braga.
Ela destaca que Bolsonaro foi o principal autor desses ataques, com xingamentos diretos a jornalistas em suas redes sociais, ataques a veículos em suas lives presidenciais e críticas à atuação da imprensa em seus discursos tanto em eventos quanto em suas recepções de apoiadores no Palácio da Alvorada.
Ataques presidenciais
O presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor de jornalistas em 2021, sendo responsável por 147 agressões de diversos tipos aos profissionais da imprensa. Destes casos, 129 foram episódios de descredibilização da imprensa e 18 de agressões verbais a jornalistas. É o terceiro ano seguido que o chefe do Executivo aparece como o maior responsável pelas agressões.
“A continuidade das violações à liberdade de imprensa no Brasil está claramente associada à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República”, afirma Maria José Braga, presidente da Fenaj. Desde 2019 que a federação identifica um aumento anormal nos índices de violência contra jornalistas.
Além dos ataques verbais, Bolsonaro demonstra evitar contatos com a imprensa na internet. De acordo com a federação, o presidente Bolsonaro é responsável por 82 bloqueios, liderando o ranking. Entre eles, está o perfil do Congresso em Foco no Twitter.
Tradicionalmente o relatório inclui a categoria de atos de violência cometida por manifestantes em atos de rua. Em 2021, a Fenaj decidiu por estabelecer uma categoria separada para manifestantes bolsonaristas, tendo em vista a discrepância entre os atos de violência cometida por estes em relação aos demais: enquanto a parcela que apoia Jair Bolsonaro esteve sozinha associada a 20 ataques, os demais grupos de manifestantes somaram nove casos.
Perfil das vítimas
Repórteres de televisão e fotojornalistas são os principais alvos de violência, somando juntos mais de 37% dos casos. Segundo a presidente da Fenaj, essa preferência não é por acaso. “Eles são visados porque são facilmente identificados pelos equipamentos que portam no desenvolver do seu trabalho”. A televisão sozinha contabilizou 94 vítimas em 2021.
As vítimas são em sua maioria homens, que contabilizam 55,89% dos casos contra 26,64% de mulheres e 17,47% de vítimas sem gênero identificado. Ataques virtuais, porém, são em sua maioria direcionados a mulheres. “Os ataques às mulheres ainda têm uma característica muitíssimo peculiar: são ataques com viés de gênero, com as mulheres sendo atacadas em sua vida pessoal, na sua qualidade de mulher”, destacou.
Manutenção da violência
A manutenção do número de ocorrências de violência contra jornalistas em relação aos dados de 2020, quando ocorreu a última explosão de casos, foi o dado mais preocupante para a presidente Maria José Braga. A tendência, conforme apontado por ela, é de elevação dos casos ao longo de 2022, tendo em vista a proximidade do período eleitoral.
A líder sindical destaca a urgência para que seja resolvida a situação da violência contra jornalistas no Brasil. “É preciso efetivamente que haja ação do poder público, ação das empresas de comunicação e apoio da sociedade brasileira para que haja o combate à violência contra jornalistas”, declarou.
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