O Brasil e o mundo estão imersos em uma polarização extrema entre forças políticas antagônicas e entre pessoas com pensamentos e visões de mundo distintos, o que tem gerado um ambiente de fundamentalismo no qual o discurso de ódio e a violência verbal predominam, especialmente por parte das forças de extrema direita.
Este fenômeno, enraizado nas redes sociais, nos serviços de mensagens privados e até mesmo nas ruas, tem sufocado o diálogo entre essas forças opostas e contaminado todas as instituições, incluindo a instituição familiar. Esse grau de radicalismo não deixa espaço para civilidade, tolerância ou respeito às opiniões divergentes, caracterizando-se mais como uma batalha entre inimigos a serem eliminados do que uma busca por soluções. Essa escalada se aproxima perigosamente da barbárie.
Essa radicalização, baseada em ressentimentos e na culpabilização do adversário político pelos problemas enfrentados, ameaça a própria democracia. A estratégia utilizada, sobretudo pela extrema direita, de apontar culpados na esquerda e nos movimentos sociais sem oferecer soluções tem sido eficaz para incitar o ódio e criar seguidores fanáticos, porém é ineficaz na resolução dos problemas reais da população.
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Neste ambiente hostil, a civilidade, a razão e a verdade são substituídas por narrativas muitas vezes desprovidas de evidências, alimentando-se do negacionismo e das fake news. A persistência desse clima de conflito pode trincar os pilares democráticos, minar a confiança nas instituições políticas e desqualificar a política como instrumento civilizatório.
Esse desgaste do tecido social, que já vem ocorrendo no cotidiano das pessoas, atinge seu auge sempre que há consulta popular, como o plebiscito sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) ou eleições presidenciais, como as ocorridas nos últimos oito anos nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina, quando emergem os sentimentos e até os instintos mais primitivos do ser humano. Nas eleições municipais deste ano, especialmente nas médias e grandes cidades, não será diferente.
De fato, a escalada dessa divisão entre brasileiros preocupa especialmente porque as táticas da extrema direita, ancoradas em acusação sem provas e na desqualificação da política e de suas lideranças, buscam mesclar religião e política, explorando a fé e a ignorância de parte da população, além de também contar com financiamento de setores empresariais e partidos políticos. Se não for contida, essa escalada levará seus seguidores a uma realidade paralela, desconectada dos fatos.
PublicidadeNesse clima conflituoso e beligerante, a democracia e a política, que foram concebidas pela humanidade para resolver, de forma pacífica e pactuada, as contradições que os indivíduos na sociedade não podem nem devem resolver por si mesmos, estão em risco. E não há solução para os problemas coletivos fora da política. Sem ela, é cada um por si.
Para enfrentar esse desafio, além do trabalho que já está sendo realizado pelas instituições estatais, especialmente pelo Supremo Tribunal Federal, são urgentes um esforço conjunto do governo e das instituições da sociedade e uma abordagem multifacetada que promova o diálogo, a tolerância e a racionalidade. Esse esforço deve envolver educação cívica, reformas regulatórias para coibir práticas antidemocráticas, reforma no sistema político e, principalmente, mudança comportamental por parte das lideranças políticas e da mídia.
Sem esse esforço de pacificação do país, as eleições municipais estarão sujeitas à violência e à intolerância, prejudicando o debate público e o interesse das comunidades locais. O ovo da serpente está sendo chocado e não podemos permitir que ela nasça e cresça!
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