Enquanto o Governo Federal se recusa a exigir comprovantes de vacinação na entrada no Brasil, tramita na Assembleia Legislativa do Estado de SP um projeto de lei que proíbe que a carteirinha de vacinação seja exigida. Ambos contam com um apoio orquestrado de uma pequena, e barulhenta, parte da sociedade.
Se os problemas fossem apenas o barulho nas redes sociais, a pressão nos políticos e na imprensa já seria ruim. Mas é muito pior. Este movimento com a conivência do Governo Federal e de muitos políticos pelo Brasil corroem a cultura de vacinação do país. Uma de nossas principais conquistas civilizatórias que agora está em risco.
Veja bem, não pretendo aqui me estender nos dados que comprovam que a vacina salva vidas e é nossa única resposta efetiva à pandemia. Estes são abundantes e só não vê quem não quer, quem é fanático ou mal-intencionado.
Sob o manto de defesa das liberdades e da preocupação com a ciência estes movimentos crescem e abarcam pessoas bem intencionadas que, sem perceber, estão se prestando a este terrível fim. As pautas são de fato nobres, mas nem elas sustentam um questionamento mais estruturado aumentando ainda mais a irresponsabilidade daqueles que lutam contra as vacinas no Brasil.
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A defesa das liberdades é um alicerce importantíssimo da condição do desenvolvimento humano em toda a sua potencialidade. Se não exercida em detrimento da liberdade do outro. Este conceito básico da vida em sociedade parece não estar claro para as pessoas que defendem que não se vacinar é uma escolha individual. As vacinas funcionam como proteção coletiva que impedem a proliferação do vírus e suas mutações. Ao escolher não se vacinar e trazer a questão para âmbito íntimo perde-se a perspectiva do comum. E sem isso não há sociedade. Não quer se vacinar dentro da perspectiva de decisão íntima e da sua liberdade? Não saia de casa. Não tem como querer conviver socialmente e não cuidar do comum.
Questiona a segurança e a eficácia das vacinas? A ciência só existe pela possibilidade do questionamento. Pela dúvida que busca prova e contraprova. Assim que evoluímos tanto e em relação às vacinas não seria diferente. Questionar cientificamente estudos e a ciência é de grande valia. Eu sou mãe de crianças pequenas e neste momento questionei as vacinas disponibilizadas na pandemia que estão para ser aprovadas no Brasil. Porém questionar cientificamente só é possível se a dúvida colocada for genuína e permitir provas e contraprovas. Se o questionamento estiver no campo científico e não do fanatismo. O questionamento saudável lê estudos, acompanha, vê dados e números e se convence do que a ciência diz, e não do que se quer acreditar. E a ciência já robustamente colocou fim aos questionamentos em relação à vacina, inclusive de crianças, com benefícios indiscutíveis.
É, portanto, inconsistente qualquer defesa sem ser pelo fanatismo irresponsável. E o impacto negativo é tão grande que estamos com a menor cobertura vacinal de diversas doenças como sarampo, varíola e meningite em décadas. Doenças estas que já haviam sido superadas, erradicadas até, e que voltam a atingir os brasileiros.
A intenção é discutir como uma cultura de vacinação arduamente construída, que salvou milhões de vida, impediu doenças e sofrimentos para mais tantas outras e trouxe uma economia inestimável em gastos com saúde pública está sob ataque. E a gravidade disso.
As ferramentas usadas mostram o quão grave é a situação. Fake news elaboradas, supostas confirmações de Secretarias da Saúde, documentos e exames que comprovariam o óbito por vacinas falsos, narrativas criadas e elaboradas na internet sem nenhum lastro na realidade. A cultura de vacinação do país, de extensão nacional, está sob ataque.
Defender as vacinas e se opor frontalmente a estes movimentos é urgente e necessário.
Ainda que sejam poucos, é muito mais rápido destruir do que construir.
Ps: Esta coluna ao final do novembro negro seria sobre racismo, meio ambiente e minha branquitude. A extensão, complexidade e dores do tema ainda não permitiram que ela ficasse pronta. Mas vai chegar. Agora com compromisso público.
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