O número de jornalistas presos ao redor do mundo ficou em 488 este ano, aumento de 20% em relação ao ano passado. Segundo relatório divulgado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na quinta-feira (16), esse é o maior número já registrado desde 1995.
As detenções em função da profissão tiveram destaque em três países: Birmânia, onde a junta militar assumiu o poder em fevereiro; Belarus, sob o comando de Alexander Lukashenko desde agosto de 2020; e a China de Xi Jinping, que segue com aumentos progressivos do controle sobre a Região Administrativa Especial de Hong Kong, antes vista como um modelo de liberdade de imprensa na região.
“A alta histórica no número de jornalistas em detenção arbitrária é o resultado de três regimes ditatoriais”, observou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire. “É um reflexo do fortalecimento das ditaduras no mundo, de um acúmulo de crises e da falta de escrúpulos desses regimes. Também pode ser o resultado de novas disputas geopolíticas de poder, onde os regimes autoritários não sofrem pressão suficiente para limitar a repressão.”
O estudo diz que 46 jornalistas foram mortos neste ano – o menor número registrado pela organização desde 2003, além de apontar que 65 profissionais se encontram reféns e dois estão desaparecidos. Segundo o RSF, essa queda no número de mortes de profissionais em função do jornalismo se deu pela diminuição das tensões em áreas de guerra, como a Síria, o Iraque e o Iêmen.
Apesar da queda, um jornalista é morto a cada semana em algum lugar no mundo por exercer sua profissão. Os países de maior periculosidade para exercer a profissão são México e Afeganistão, com 7 e 6 repórteres mortos este ano, respectivamente. Iêmen e Índia dividem o terceiro lugar com 4 mortos cada. A RSF verificou que em 65% dos casos, os jornalistas foram deliberadamente assassinados.
Outro destaque é a quantidade de jornalistas mulheres presas, que totalizam 60, aumento de 33% em relação a 2020. A China é o país com maior número de mulheres detidas (19). Em Belarus, mais mulheres (17) estão detidas que homens (15). Entre elas, as duas repórteres da rede independente Belsat, Daria Tchoultsova e Katsiarina Andreyeva, condenadas a dois anos em colônia penal por terem transmitido ao vivo uma manifestação não autorizada. A Birmânia também tem 9 jornalistas mulheres atrás das grades (entre 53 detidos).
Sobre o Repórteres Sem Fronteiras
A RSF elabora, desde 1995, um relatório anual dos abusos cometidos contra jornalistas, com base em dados precisos estabelecidos entre 1o de janeiro e 1o de dezembro do ano de publicação de cada relatório.
A contagem total do relatório de 2021 estabelecido pela RSF inclui jornalistas profissionais e não profissionais, bem como colaboradores de veículos de comunicação. A entidade realiza uma coleta de informações que permite afirmar com certeza, ou ao menos com forte presunção, que a detenção, o sequestro, o desaparecimento ou a morte de um jornalista é uma consequência direta do exercício de sua profissão.
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