Oito dias depois da invasão de golpistas aos prédios principais dos três poderes da República, segue crescendo o número de presos decorrentes das investigações e das audiências de custódia dos detidos nos ataques e alvos das operações policiais que localizaram outros envolvidos que conseguiram escapar. Entre os detentos, o perfil foge do estereótipo moldado para tentar amenizar os apoiadores de um golpe militar. Os criminosos não são aposentados, velhinhas e velhinhas influenciados por grupos de Whatsapp. A maioria é formada por homens em plena idade de trabalho.
O eleitorado idoso é uma das principais marcas do bolsonarismo, que chegou a realizar campanhas específicas para esse público nas eleições. No planejamento dos atos golpistas, esse grupo acabou servindo de fachada para dar um ar de inocência ao que, na verdade, era bem mais grave. A propagação da falsa ideia de que a maioria dos participantes era idosa foi explorada mesmo pelos organizadores.
Todos os levantamentos realizados desde o início da divulgação oficial de detentos após os atos, porém, demonstram que o estereótipo de saudosista idoso da ditadura militar não condiz com a realidade dos verdadeiros golpistas. O Congresso em Foco analisou os dados da última listagem do Sistema Penitenciário do Distrito Federal (Seap), atualizada na segunda-feira (16). Eles revelam que o grupo dominante entre os golpistas é outro: dos 1.385 presos, 570 são homens entre 36 e 55 anos. Isso é mais do que a soma de todos os 333 homens das demais idades.
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A faixa etária dos 36 aos 55 é também a dominante entre as mulheres, que somam 323 detentas nessas idades. A diferença com relação às manifestantes da mesma idade também se mantém, com 159 mulheres presas dos demais recortes. Idosos são minoria nos dois gêneros: são 14 presos entre 66 e 75 anos, sendo nove homens e cinco mulheres. Também consta um preso maior de 75 anos de cada gênero.
Estereótipo engana
A associação do bolsonarismo à população idosa não foi explorada pelos golpistas apenas em seus códigos. Logo que o acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, foi desmontado pela Polícia Federal e os detentos foram transportados para a Academia Nacional de Polícia para passar por triagem, os canais bolsonaristas nas redes sociais e no Telegram iniciaram a produção de fake news envolvendo a morte de idosos presos.
Além da falsa ideia de que eram na maioria idosos, há outra ideia falsa por trás de muitos dos detentos: a de que eram honestos defensores da Pátria. Há um significativo número de golpistas com a ficha criminal suja. Foi o caso da manifestante de 67 anos Maria de Fátima Jacinto Souza, que ganhou fama ao ser filmada no Supremo Tribunal Federal (STF) afirmando que iria “para a guerra pegar o Xandão [Alexandre de Moraes]”. Em 2014, ela foi condenada por tráfico de drogas, chegando a vender pedras de crack a adolescentes. Ela ainda não está na lista de presos.
PublicidadeOutro participante de ficha suja, esse já preso pelas forças de segurança do DF, é o paraense Antônio Geovane Sousa de Sousa, foragido da Justiça desde 2018, quando foi detido ao cometer um assassinato e, em seguida, fugiu da delegacia. Em seu depoimento, ele afirma ter se refugiado no acampamento bolsonarista em Brasília.
No acampamento, outros ex-criminosos também estavam presentes. Um que ganhou especial notoriedade foi José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tserere, condenado em 2008 por tráfico de cocaína. No último 12 de dezembro, ele foi preso em meio às investigações do inquérito das fake news. Sua prisão foi o pretexto para o primeiro ensaio de golpe, no dia da diplomação de Lula como presidente eleito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os golpistas tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília e, em seguida, incendiaram automóveis e ônibus no centro de Brasília.
Outro com ficha suja é Wellington Macedo, ex-servidor do Ministério da Mulher durante a gestão Bolsonaro, preso em 2021 em meio às investigações do inquérito dos atos antidemocráticos. Ele é um dos réus pela tentativa de atentado à bomba no aeroporto de Brasília na última semana de dezembro, às vésperas da posse do presidente Lula.
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