Na manhã desta segunda-feira (24), a Polícia Federal avançou para uma nova etapa na investigação a respeito da autoria intelectual do assassinato da vereadora fluminense Marielle Franco, em 2018. O investigado Élcio de Queiroz, partícipe do crime, trouxe novos detalhes sobre a sucessão de eventos que resultou na atentado, bem como sobre a cadeia de comando entre os envolvidos.
Filiada ao Psol, Marielle foi eleita como defensora de pautas ligadas à inclusão social, mas começou sua carreira política no enfrentamento às milícias. Ela foi assessora de gabinete de Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, na época em que este assumia o cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro. Como parlamentar, Freixo presidiu a CPI das milícias.
Confira a seguir os principais fatos novos descobertos com a delação:
Tentativa frustrada
Em abril de 2019, a Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro prendeu os ex-policiais militares Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa. Até então, os dois eram suspeitos de executar o assassinato de Marielle: o primeiro dirigiu o carro utilizado para perseguir a vereadora, e o segundo disparou contra ela utilizando uma submetralhadora.
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Na delação, Élcio revelou já conhecer sobre o intuito de assassinato desde a virada do ano de 2017 para 2018. Ele mantinha uma amizade próxima com Ronnie Lessa, que desabafou alcoolizado na festa de fim de ano sobre o plano de tirar a vida da parlamentar. Ele e o ex-bombeiro Maxwell Simões, conhecido como Suel, monitoravam Marielle desde o mês de agosto. Em dezembro, prepararam uma emboscada contra ela, em que Suel ficaria encarregado de pilotar o carro. O plano foi abortado em função de uma falha mecânica.
Em 2018, poucas horas antes da nova tentativa, Élcio foi contactado por Lessa para substituir Suel. O atirador não confiava mais no bombeiro, acusado por ele de ter provocado propositalmente a pane da emboscada anterior. Até a delação, Maxwell estava em regime domiciliar, suspeito de ter fornecido o carro utilizado no atentado e de tentar obstruir a investigação. Após o depoimento, foi preso preventivamente, desta vez respondendo pela participação direta no crime.
Queima de arquivo
Até o momento da delação, tudo indicava a coordenação de Lessa na execução do assassinato. Élcio de Queiroz revelou que ele seguia ordens de um personagem até então não conhecido na investigação: Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Também oriundo da Polícia Militar, Macalé estava também dentro do carro utilizado no crime, portando um fuzil e ficando encarregado de dar cobertura em um eventual tiroteio.
De acordo com Queiroz, Macalé foi quem contratou Ronnie Lessa para matar Marielle Franco, tornando-se a ponte entre o executor e o autor intelectual, ainda desconhecido, do crime. Ele também participou diretamente no monitoramento da vereadora ao longo dos meses que antecederam o ataque. Os dois eram figuras ativas nas milícias do Rio de Janeiro.
Macalé foi assassinado em novembro de 2021 em Bangu, bairro fluminense que hoje é alvo de disputas intensas entre milícias e facções criminosas. Ele caminhava na rua até seu carro quando foi abordado por um outro veículo ocupado por atiradores, que o fuzilaram e foram embora. O vínculo entre ele e Lessa já era conhecido, mas não se sabia qual era seu papel no atentado contra a parlamentar.
Envolvimento familiar
Além de revelar o papel desempenhado por Sul e Macalé, Queiroz também relatou a participação de Denis Lessa, irmão de Ronnie. Ele recebeu o grupo no Méier, bairro da Zona Norte onde encerrava a rota de fuga do plano. Lá, recolheu uma bolsa contendo as armas utilizadas e chamou um táxi que os levou até a casa de Ronnie, na Barra da Tijuca.
O grau de conhecimento de Denis sobre o crime é desconhecido pela Polícia Federal. Após a delação de Queiroz, ele foi chamado para prestar depoimento.
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