Filho do presidente Jair Bolsonaro, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) declara há oito anos à Justiça eleitoral guardar R$ 20 mil em dinheiro vivo. O valor registrado agora é o mesmo que ele informou possuir nas eleições de 2012 e 2016. Se tivesse sido aplicada apenas a correção monetária do período pelo Índice Geral de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), o montante hoje seria superior a R$ 30 mil.
A prática, aos olhos da Justiça eleitoral, não indica ilegalidade – não atualizar o valor de bens declarados em tempos eleitorais não significa necessariamente, um crime eleitoral. O uso de recursos em espécie por Carlos e sua família, porém, está em evidência. Reportagens recentes apontam que o filho “zero dois” do presidente comprou em dinheiro vivo imóveis por valor abaixo do preço de mercado, em manobra que pode sugerir lavagem de dinheiro.
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A declaração de bens de Carlos Bolsonaro em 2020 mostra que ele, em tese, perdeu patrimônio nos últimos quatro anos. O total dos bens arrolados pelo vereador, em 2020, é de R$ 591 mil, contra R$ 608 mil apresentados há quatro anos. Carlos é investigado pela suspeita de se apropriar de parte de salário dos funcionários de seu gabinete. Seu irmão Flávio, senador do Rio de Janeiro pelo Republicanos, também é suspeito de participação em esquema de “rachadinha”, na Assembleia Legislativa do Rio, e usou recursos em espécie na compra de imóveis.
Há outras questões que chamam a atenção na prestação de contas do vereador. Quase nenhum dos bens declarados por Carlos sofreu alteração no último ciclo eleitoral, nos últimos quatro anos. Os quatro imóveis declarados pelo vereador de 37 anos são um apartamento na Tijuca, avaliado em R$ 195 mil nas eleições de 2008 e em R$ 205 mil nas eleições de 2012, 2016 e 2020; um apartamento em Copacabana, avaliado em R$ 70 mil, em 2012, e R$ 85 mil, em 2016 e 2020; e um apartamento na região central do Rio de Janeiro, avaliado em R$ 180 mil, em 2016 e 2020.
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O parlamentar municipal também aponta ter um veículo HB20X 2015, avaliado em pouco mais de R$ 61 mil. A considerar apenas as declarações do vereador, a conclusão que se tira é que o carro não sofreu nenhuma depreciação nos últimos quatro anos. Segundo dados da tabela Fipe, que orienta a avaliação de bens no setor, o mesmo modelo deveria valer entre R$ 41 e R$ 43 mil no dia de hoje.
As diferenças principais estão em uma poupança no Banco do Brasil que ficou menor no período, e uma moto declarada em 2016 por R$ 11 mil que já não aparece na declaração deste ano.
Segundo o especialista em Direito eleitoral Eduardo Tavares, não há necessariamente um crime em não se atualizar valores nas declarações eleitorais. Tavares, que é um dos fundadores da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), aponta que o objetivo desse tipo de declaração é diferente: “A essência é saber se houve acréscimo patrimonial, que é a forma que o eleitor tem de saber se ele valeu da vida política para enriquecer”. “É preciso que ele declare a atualização dos bens, e não necessariamente os valores”, explicou.
Carlos também declarou para as eleições de 2020 sua participação de R$ 249 na empresa Bolsonaro Digital Ltda., que abriu em abril de 2017 com os irmãos, o pai, e a mãe, Rogeria Nantes Bolsonaro. A empresa, segundo o seu cadastro, atua com mala direta e edição de livros, e seria utilizada principalmente para monetização de vídeos da família Bolsonaro no YouTube. Rogeria, que perdeu a cadeira que ocupava na Câmara Municipal em 2000 pelo próprio filho, declarou agora possuir patrimônio de R$233.171,61.
O Congresso em Foco buscou contato com Carlos Bolsonaro e Rogeria em diversos telefones de contato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e na sede local do Republicanos – mas não foi possível localizá-los.
A empresa está cadastrada em um endereço de Vila Isabel, bairro na zona norte da capital fluminense, e declarado como de propriedade da mãe de Carlos. Também candidata pelo Republicanos à Câmara do Rio de Janeiro, Rogeria Bolsonaro apresentou em sua declaração de bens uma participação no capital social da empresa, de R$ 4.
Em 2003, quando tinha apenas 20 anos, o vereador pagou R$ 150 mil em dinheiro vivo por um imóvel. O montante corresponde hoje a R$ 366 mil, corrigidos pelo IPCA.
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Clássicas perguntas. E o Lula? E a Dilma? E o PT? Como era? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk