Ex-diretor-geral de Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o delegado Alexandre Ramagem assumirá a direção-geral da Polícia Federal no lugar de Maurício Valeixo, pivô da saída de Sérgio Moro do governo. Com experiência na Operação Lava Jato no Rio e no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, Ramagem chega ao cargo em momento de grande tensão depois que Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na corporação.
Sua nomeação foi questionada na Justiça antes mesmo de ser publicada no Diário Oficial da União, na edição desta terça-feira (28), junto com a indicação de André Mendonça para o Ministério da Justiça. A oposição questiona ligações pessoais do novo diretor da PF com filhos do presidente Jair Bolsonaro investigados pela própria Polícia Federal.
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Ramagem, de 48 anos, chefiou a segurança de Bolsonaro na campanha de 2018, depois de o então candidato ter sido vítima de uma facada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ele foi o terceiro a assumir a coordenação da segurança pessoal de Bolsonaro, sucedendo Daniel Freitas e Antonio Marcos Teixeira. Antes de assumir o posto, Ramagem foi coordenador de recursos humanos da PF.
Lava Jato e Abin
Na Polícia Federal há 15 anos, o delegado já participou da coordenação de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de 2016, e integrou a equipe da Operação Lava Jato. Em 2017, com a evolução dos trabalhos da Lava Jato no Rio de Janeiro, foi convidado a integrar a equipe de policiais responsáveis pela investigação e inteligência de polícia judiciária no âmbito da operação.
Por indicação de Valeixo, Ramagem assumiria no início do governo Bolsonaro a superintendência da PF no Ceará, mas acabou aceitando convite para ser auxiliar direto de Carlos Alberto Santos Cruz, então ministro da Secretaria de Governo. Ele permaneceu no governo como assessor especial de Luiz Eduardo Ramos, sucessor de Santos Cruz no cargo. Em agosto, foi indicado para chefiar a Abin com apoio dos três filhos políticos do presidente, o deputado Eduardo, escrivão de carreira da PF, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro.
Para chegar ao posto, Ramagem passou por uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado, ocasião em que admitiu que o Brasil se encontrava atrasado na prevenção contra ataques cibernéticos e defendeu a atuação do governo com relação à entrada da tecnologia 5G no país. A indicação foi aprovada por unanimidade pela comissão e recebeu apenas três votos contrários no Plenário.
A proximidade de Ramagem com a família Bolsonaro é o principal motivo de questionamentos sobre sua indicação. Em uma foto no perfil de Carlos no Instagram, na virada de 2018 para 2019, Ramagem aparece com a esposa e outros amigos de Carlos, entre os quais o assessor parlamentar Léo Índio, primo de Carlos. O vereador é suspeito de comandar um esquema de fake news, conforme inquérito da PF, de acordo com vários jornais.
Subordinado ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ramagem foi elogiado pelo chefe por sua atuação à frente da Abin. “Transmitiu a seus subordinados uma nova concepção de inteligência, ágil e focada na informação tática, capaz de competir com a rapidez da Internet, reduzindo o preciosismo em prol da velocidade”, escreveu Heleno em sua publicação no Twitter no início de março.
Ramagem esteve envolvido na polêmica referente à suposta criação de uma Abin paralela. A estrutura funcionaria para grampear ilegalmente opositores do governo e produzir dossiês falsos, segundo o ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), que disse ter abortado a operação junto com o também ex-ministro Santos Cruz.
Expectativas
Na Polícia Federal desde 2005, Ramagem é bem relacionado no órgão e tem a simpatia de parte da corporação, mas chegará rodeado de pressões. Segundo interlocutores, Ramagem já participou de diversas operações, principalmente em etapas importantes da Operação Lava Jato, e tem boa interlocução com a atual diretoria.
Integrantes da PF avaliam que, a despeito de toda a situação, Ramagem tem condições de fazer uma boa administração.
Para o deputado delegado Waldir (PSL-GO), ex-aliado de Bolsonaro, o mais importante é colocar alguém que preserve a autonomia da corporação. “A escolha é do presidente, mas o Parlamento é fiscalizador e nós vamos fazer o nosso papel. Nós vamos brigar pela independência da Polícia Federal, que não é uma polícia de governo, é polícia de Estado”, disse o deputado, que é policial civil.
A chegada de Ramagem vem acompanhada de diversas ações populares que visam barrar sua nomeação, bem como de propostas de emenda à Constituição para garantir a autonomia da Polícia Federal, conforme mostrado pelo Congresso em Foco. As medidas jurídicas questionam a proximidade de Ramagem com a família Bolsonaro. O próprio delegado Waldir afirmou que, se confirmada a nomeação, pretende ingressar com uma ação para impedi-la.
Quando entrou para a PF, Ramagem começou a trabalhar em Roraima e atuou no combate ao tráfico de drogas e outros ilícitos. Em 2007, foi nomeado delegado regional de Combate ao Crime Organizado. Em 2011, foi transferido para a sede do DPF em Brasília/DF com a missão de criar e chefiar Unidade de Repressão a Crimes contra a Pessoa. Em 2013, assumiu a chefia da Divisão de Administração de Recursos Humanos. A partir de 2016, foi responsável pela Divisão de Estudos, Legislações e Pareceres da Polícia Federal.
Perfis falsos
Desde que o nome entrou para a lista de cotados, começaram a aparecer nas redes sociais vários perfis atribuídos a Ramagem, com publicações controversas. Perfis fake podem alterar o nome e a foto, aproveitando-se de um número de seguidores já existente previamente.
Procurada, a assessoria do novo diretor da PF negou que Ramagem fosse dono dos perfis que circularam no Twitter e no Instagram e afirmou que estava pedindo a retirada das publicações falsas. Uma das mensagens, repleta de erros de português, foi compartilhada por bolsonaristas nas redes sociais nessa segunda. “O medo, pavor, e outros sentimentos que pairam sobre minha possível nomeação para dirigir a PF, são apenas choro de corruptos e de ex. ministro banana, que ao meu ver estava em conluio com o sistema para vender livro de autobiografia. Aqui é Brasil, aqui tem testosterona.”
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