Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado em live do último dia 11 que mantém conversas com o PSL sobre uma possível volta à sigla, membros da executiva nacional, e até mesmo parlamentares aliados do governo, acreditam que as chances de isso ocorrer são próximas de zero. Em transmissão semanal nas redes sociais, o presidente disse que decidiria seu futuro político até o fim de março.
Desde a saída de Bolsonaro em 2019, a sigla se dividiu entre os parlamentares considerados “raiz” – que não se aliaram ao presidente – e os “bolsonaristas”, que votam junto com o governo nas sessões deliberativas e apoiam a maioria das pautas defendidas por ele.
Hoje, Bolsonaro está sem partido, já que os planos de criar o Aliança pelo Brasil foram frustrados pelo lento ritmo de validação de assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral. A previsão é que o partido só esteja formado oficialmente após as eleições de 2022. Sem fazer parte de uma sigla, ele não pode concorrer à reeleição. Outras legendas, como o PTB, o PMB, o DC, e o PSC, estão sob avaliação do presidente. No entanto, como são de menor porte, têm direito a fatias menores dos fundos partidário e eleitoral.
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Resistência na cúpula
Caso o presidente resolva voltar ao PSL, a decisão precisaria ser aprovada pelos diretórios nacionais, e não apenas pela Executiva do partido, presidido hoje pelo deputado Luciano Bivar (PSL-PE), que assumiu recentemente a primeira-secretaria da Mesa Diretora da Câmara. Bolsonaro e Bivar começaram a se desentender por motivos relacionados ao comando da sigla. No fim de 2019, a briga se acirrou, e parlamentares próximos a Bolsonaro passaram a fazer campanha para que o presidente da República também comandasse a sigla.
O Congresso em Foco tentou contato com o presidente nacional do partido, que não retornou até a publicação da reportagem. No entanto, Bivar afirmou à Folha de Pernambuco, em 10 de março, que “não acredita que o presidente, como candidato favorito à reeleição, tenha tempo para esperar a decisão do PSL, quando muitos outros partidos se oferecem para abrigá-lo”.
PublicidadeUm parlamentar ligado à Executiva nacional da sigla afirmou ao Congresso em Foco que embora existam especulações da imprensa e de políticos aliados ao presidente, não existem conversas de Bolsonaro com a Executiva do partido. “São especulações que alguns deputados ligados ao Bolsonaro estão levantando, alguns bolsonaristas que querem muito [a volta do presidente] porque sabem que ele não tem alternativa”, diz. “Esses bolsonaristas não têm qualquer relação com o PSL, não frequentam o partido. A volta de Bolsonaro precisaria ser aprovada pela maioria dos convencionais, o que é praticamente impossível hoje”.
Ainda de acordo com o parlamentar, a Executiva do partido tem “preocupação zero” com a possível debandada de parlamentares aliados a Bolsonaro, caso o presidente opte por outra sigla. A maioria dos apoiadores do chefe do Executivo já decidiu que seguirá Bolsonaro, independentemente do partido para o qual ele for.
“Deputados do PSL ‘raiz’ querem que eles [bolsonaristas] sejam expulsos, e ainda pressionam para que haja essa expulsão. Querem fazer uma limpeza no partido porque essa convivência é tóxica, e também não existe esse medo porque tem muitas lideranças de outros partidos querendo entrar no PSL”, afirmou o parlamentar.
O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP), vice-presidente nacional da sigla, também confirmou ao Congresso em Foco que não há discussões formais dentro do partido sobre o possível retorno do presidente da República. “Nunca teve uma reunião da executiva, uma bancada, uma fala oficial, e eu conhecendo bem o partido que estou, não tem tratativas debaixo do pano. O que existe é uma especulação que parte do Palácio do Planalto porque o presidente está fragilizado do ponto de vista político-partidário”.
Bozella, que se tornou o principal porta-voz da chamada ala bivarista, em oposição a Bolsonaro na queda de braço que resultou na saída do presidente da República do partido, diz que o retorno do presidente à legenda é “totalmente imoral”. “É a mesma coisa que você pegar o marginal que estuprou a sua filha e colocar ele pra morar com ela na sua casa”, considera o deputado, que integrava o partido antes da chegada de Bolsonaro e seus aliados ao PSL.
Também sobram críticas à presidência de Bia Kicis (PSL-DF) na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara. “Você acha que foi bom para o PSL ter concordado com a presidência da Bia Kicis na CCJ? Não! Isso é um escárnio, é um estupro com a historia da República, eu não compactuo com isso, porque ela não tem reservas culturais, políticas, e emocionais, para comandar a comissão mais importante de toda a Câmara. Mas é minha opinião, não falo pelo partido”, alega.
O parlamentar diz ainda que o partido recebe contatos de líderes nacionais, e que “falta um ajuste fino” para concluir ingressos na sigla, mas não revela, no entanto, quais seriam os nomes cogitados pelo partido.
“Não me importa se vai sair deputado ou se vai vir, o que me importa é que as lideranças que têm qualquer atrativo sentem na mesa, e façam uma discussão de forma responsável, e aí amanhã a gente vê as consequências”. Até porque, para o deputado, o país vai entrar em um processo de “erupção mais rápido que o normal” sob o comando de Bolsonaro.
De acordo com Delegado Waldir (PSL-GO), que também integra a Executiva nacional do partido, ao todo, existem 31 deputados da “extrema direita” do PSL na Câmara, que apoiam diretamente o presidente Bolsonaro. No entanto, outros 21 são contrários, ainda que alguns deles também defendem o seu retorno à sigla. “Esse diálogo dentro do partido já está acontecendo, eles estão se preparando para a possibilidade”, diz.
O deputado afirma não enxergar risco de debandada por parte dos opositores, caso Bolsonaro retorne à legenda. Mas muitos sairão, segundo Waldir, caso o presidente siga para outro partido. O PSL, defende, é hoje “a noiva mais desejada de todas”. “O partido é diariamente procurado por líderes nacionais e mantém diálogo com muitos políticos e correntes”, disse, citando nomes como o do senador Ciro Nogueira (PP-PI) , e o do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP).
“Vou junto”
Para o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), aliado de primeira hora de Bolsonaro, o conflito entre os parlamentares em relação à possível volta do presidente não é mais tão visível quanto antes. Segundo ele, há apenas “quatro ou cinco” deputados contrários ao seu regresso.
Porém, Bibo defende que o chefe do Executivo só volte para o partido se houver um “bom ambiente para isso”, ou seja, se a bancada toda entrar em consenso. “No que depender de mim, vou fazer de tudo para isso acontecer. E como eu acompanho o presidente, se ele mudar de partido, eu vou junto”, disse.
De acordo com o parlamentar, o PSL tem se esforçado para permanecer unido, e as brigas entre deputados a respeito do assunto são “muito pontuais”. “Precisamos nos unir e pensarmos no que é melhor para o partido. Para isso, esses quatro ou cinco deputados contrários deveriam arrefecer seus ânimos e pensar no coletivo”, acrescenta.
Candidatura garantida
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), outra apoiadora do presidente Bolsonaro, também adianta que migrará para o partido que ele escolher, assim como o resto da bancada que o apoia. “Para onde ele for, sei que vai atrair muitos parlamentares, com certeza. Então um partido pequeno também não teria problema, porque iria crescer depois”, afirmou.
Zambelli ainda defende que o presidente “não pode correr o risco de ir para um partido que eventualmente barre sua candidatura à reeleição em 2022”. “Por isso, nós entramos em consenso de que, se ele voltar pro PSL, precisa ser com o comando da sigla”, explica a deputada.
No entanto, um parlamentar aliado ao presidente disse ao Congresso em Foco sob a condição de anonimato, que a melhor saída seria Bolsonaro retornar ao PSL para garantir os recursos e tempo de televisão necessários para sua reeleição. “Se ele for migrar para outro partido, isso pode dividir a base dele que está no PSL, porque essa base vai ter que deixar claro se são ou não a favor do presidente”, disse.
O parlamentar engrossa o coro de Bibo Nunes, ao defender um eventual retorno ao partido exercendo maior comando sobre a sigla. “Dominar o partido é importante para ele, porque existe um mercado de ‘rifar’ candidatos. Então, se o Jair vira um candidato, sem ter comando da sigla, o presidente do partido vai sofrer todo tipo de oferta nacional e internacional para rifar a candidatura dele. O que significa isso? Significa que um cara pode chegar lá e falar ‘toma R$ 10 milhões para lançar um candidato'”, explicou.
O parlamentar alega ter sido testemunha do mercado de rifas de candidaturas quando comandou um dos diretórios nacionais do PSL. “Esse mercado multimilionário é um dos principais problemas da democracia brasileira, e é controlado pelos caciques da política. Em uma determinada eleição, eu ia ser o candidato em São Paulo, mas o PSL recebeu uma oferta melhor do PSDB”, exemplificou.
O deputado alega que é por esse motivo que Jair não quer entregar o comando do partido. “Não é por causa do poder sobre os membros da sigla, porque ele nem vai saber comandar o partido direito, ele não sabe fazer isso. É simplesmente para ter a confiança de que vai ser o candidato principal”, concluiu. Como é muito baixa a chance disso acontecer, diz o parlamentar, o presidente não deve voltar ao partido.
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