A nomeação do deputado Fabio Faria (PSD-RN) para o Ministério das Comunicações nesta quarta-feira (10) pegou os parlamentares do partido de surpresa. Mesmo que e a possibilidade de Faria assumir uma função na Comunicação por ser genro de Silvio Santos tenha sido ventilada informalmente, a escolha do nome não foi acordada com os demais membros do PSD.
Segundo parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco, a escolha não passou pela instância partidária nem pela bancada do partido no Congresso. “Conversei com alguns colegas e presumo que tenha sido uma opção pessoal do presidente da República com outra opção pessoal do Fabio Faria. Uma relação pessoal entre os dois que vem se fortalecendo desde o início do mandato, mas que não foi submetida a nenhuma análise do partido e não tem as digitais do PSD”, afirmou um parlamentar.
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De acordo com o deputado Fabio Trad (PSD-MT), o partido deve continuar mantendo postura independente e deverá ficar de fora do Centrão. “Essa indicação não passou pela instância partidária, é uma escolha pessoal do presidente e do Fabio Faria. […] Não vejo razão alguma para que o partido mude seu posicionamento e, de acordo com a última declaração do presidente [Gilberto] Kassab, o partido continua independente apontando eventuais erros da gestão e não aderindo ao Centrão”, diz.
No entanto, é sabido que há articulações para que seja trocado o comando da Telebrás e que a indicação do novo nome deve caber diretamente ao presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Integrantes da legenda disseram ao site que ouviram sobre a indicação para a Telebrás, mas que isso não está sendo feito pela bancada do partido no Congresso.
PublicidadePara Ricardo Barros (PP-PR), apesar de o nome de Fabio Faria ser uma novidade, a aproximação entre governo e os partidos do centro faz parte da articulação política. “O presidente tinha inicialmente se relacionado com frentes parlamentares e agora está se relacionando com os partidos. As frentes nomearam ministro da Agricultura, Saúde, do Desenvolvimento Social, a frente parlamentar evangélica nomeou vários ministros e agora o presidente, desde fevereiro, está se articulando com os partidos. Isso é resultado natural dessa articulação”, aponta.
Segundo Barros, este é o caminho natural do governo Bolsonaro. “É fazer o que tem que ser feito, construir base parlamentar. Ele tem o segundo maior partido [PSL] que está rachado e ele tem de unir o partido dele e construir uma base sólida”. Bolsonaro anunciou a saída do PSL em novembro de 2019 e não conseguiu dar andamento à criação da Aliança pelo Brasil, sua nova legenda.
Fabio Faria
O deputado escolhido para comandar o novo Ministério das Comunicações está no quarto mandato. Segundo dados do Radar do Congresso, em 2020, Faria esteve presente em apenas 45.5% das sessões. No ano anterior, a presença do deputado foi de 85%.
“Fabio Faria tem seus méritos, se articula bem, já é um deputado com uma certa experiência e tem um componente que não podemos desprezar que é a ligação com um grupo empresarial de comunicação”, aponta um dos congressistas.
Genro de Silvio Santos, em maio de 2019 o deputado homenageou em Plenário o ator, humorista e apresentador do SBT, Carlos Alberto de Nóbrega. A homenagem contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro e surpreendeu os deputados. Bolsonaro fez um breve discurso de agradecimento ao criador do programa A Praça é Nossa, do SBT. “É um homem que ele leva alegria, juntamente com seu pai [Manoel de Nóbrega], que levou no passado por décadas. É uma honra estar aqui neste evento”, disse o presidente.
A partir de agora, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) ficará sob o guarda-chuva da pasta comandada por Faria. A Secom é responsável por definir a destinação da verba publicitárias do Planalto para emissoras de TV, rádio e demais veículos de comunicação. Só no ano passado, a secretaria gastou R$ 197 milhões em campanhas publicitárias. Desde a chegada de Fabio Wajgarten ao comando da Secom, a pasta passou a destinar mais verbas para a Band, Record e SBT, enquanto a Globo, líder de audiência, teve seus repasses reduzidos a um patamar mais baixo que o das concorrentes.
Em 2009, o deputado se envolveu em um escândalo pelo uso de passagens pagas pela Câmara para atores e atrizes participarem de um carnaval fora de época em Natal. Faria também utilizou a cota parlamentar para pagar sete viagens para a ex-namoradora, a apresentadora Adriane Galisteu, e a mãe dela, Emma Galisteu, entre 2007 e 2008. Um dos trechos pagos com recursos da Câmara transportou Emma de Miami, nos Estados Unidos, a Guarulhos.
Na época, Faria admitiu, por meio de sua assessoria, ter usado passagens da cota para viagens da então namorada e disse que ressarciu os cofres da Casa. Mais tarde, a assessoria contrariou sua fala e alegou que, por ser namorada de Fábio Faria, seria “normal” o deputado entregar uma passagem de sua cota parlamentar para ela.
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