A sucessão de denúncias de corrupção envolvendo o Ministério da Saúde reforçou o discurso dentro do PSD de afastamento do presidente Jair Bolsonaro. Vice-líder da bancada na Câmara, o deputado Fabio Trad (MS) fez, nesta quarta-feira (30), um apelo ao presidente do partido, Gilberto Kassab, para que a legenda se afaste definitivamente de Bolsonaro.
Para Trad, não há comparação entre as acusações feitas contra Bolsonaro e as que resultaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. No caso de Dilma, observou, o questionamento era sobre uma manobra orçamentária. Agora, destacou, as denúncias são de crime, tanto em relação ao comportamento do presidente diante da pandemia quanto à suspeita de que o Bolsonaro prevaricou, ao não determinar investigação de um esquema de corrupção na compra de vacinas.
“O Ministério da Saúde é a Petrobras de Bolsonaro”, disse Trad ao Congresso em Foco Insider, em alusão aos desvios na estatal petrolífera que desencadearam a queda de Dilma.
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O deputado conta que há um “silêncio sepulcral” nos grupos de Whatsapp dos quais participa com parlamentares do Centrão. “Nos grupos de parlamentares de esquerda e centro-esquerda há um clima de euforia com as denúncias. Nos grupos do Centrão, todos fazem de cara de paisagem”, revelou. Os deputados não saem em defesa do presidente nem do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), suspeito de participar de um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin. “A CPI hoje está mais forte que o Centrão”, acrescentou ele.
O vice-líder do PSD acredita que a CPI da Covid já reúne elementos suficientes para aprofundar as investigações. “O impacto do nome do Ricardo Barros na CPI foi uma bomba”, disse Fábio Trad. “O presidente não pode dizer que não sabia o que ia acontecer. Foi alertado pelo deputado Luis Miranda e pelo seu irmão. Praticou ato incompreensível. Deveria ter mandado investigar. Investigar não é mandar mensagem pelo Whatsapp”, ressaltou.
PublicidadeTrad faz parte do grupo do PSD que nunca apoiou Bolsonaro. Embora não se declare governista, o partido abriga o atual ministro das Comunicações, Fábio Faria, que virou um dos principais porta-vozes do presidente. “Eu já fui mais minoria dentro do PSD. Essa minoria está crescendo”, disse o deputado ao comentar a divisão dentro da legenda. Gilberto Kassab tem feito acenos ao ex-presidente Lula e defendido a candidatura presidencial, pelo partido, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Para o deputado de Mato Grosso do Sul, o Centrão tende a se descolar de Bolsonaro se sentir a pressão das ruas. “A centro-esquerda já está nas mobilizações. O centro, a centro-direita, a direita lavajatista e a direita do Novo também podem aderir aos protestos, pelo discurso anticorrupção”, afirmou Trad, ao comentar a possibilidade de impeachment do presidente.
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