Charles Alcantara*
Tão logo o vi, deixei-me seduzir.
Foi mais forte que eu, o que não chega a ser surpreendente dada a profunda abstinência de democracia a que fui submetido involuntariamente de uns anos pra cá.
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Não bastasse a carência democrática que já me maltrata desde 2016, fui submetido em 2020 à privação do encontro com os companheiros e companheiras de luta, do abraço caloroso, do cumprimento efusivo, do bate-papo animado.
Acometido dessas duas carências que se mancomunaram, tal qual fizeram Cunha e Aécio, Moro e Dallagnol, eis que me aparece um manifesto intitulado “Estamos Juntos”.
Uma bela estampa, gente pra caramba assinando, inclusive muita gente de quem sou fã e outras tantas por quem tenho enorme respeito.
Juntar as pessoas (coisa que há três meses não acontece comigo) para defender a democracia (coisa que falta ao Brasil há mais de 4 anos)?
Não deu pra resistir. Embarquei na hora!
Mal começo a dar umas voltinhas de reconhecimento nesse grande navio (muito maior que as embarcações que riscam as “ruas de água” da Amazônia), começo a me deparar com gente que eu não escolheria como companhia de viagem.
Não cheguei nem perto da cabine de comando. De longe, notei que os vidros espessos da cabine não permitem que a gente enxergue o piloto.
Notei também que não há botes suficientes pra todo mundo.
De repente, me veio um medo de que justamente aquela gente com quem eu não gostaria de viajar esteja no comando desse troço.
Vou me esgueirando por aqui, indagando, observando e tentando organizar um plano de sobrevivência em caso de naufrágio.
O lugar não é seguro. Não dá pra relaxar.
Andei escutando por aí que esse navio é parecido com uma gigantesca embarcação chamada “Diretas Já!”, que foi a pique em 1984.
Naquela oportunidade, havia uma euforia, um clima de confiança, todo mundo navegando na mesma direção.
Antes que chegasse ao destino, a tripulação junto com a turma do camarote principal adernaram a embarcação e deixaram uma multidão a ver navios.
Por via das dúvidas, vou ficar atento à movimentação dos músicos.
Falando sério, à guisa de conclusão, confesso-me incapaz de criticar quem embarcou, tampouco quem não embarcou nesse navio.
Não me sinto mais à vontade, nem mais inteligente, nem mais humilde, nem mais democrático do que os que não embarcaram.
Há problemas, sim, nesse troço!
Se uma liderança da dimensão do Lula e um partido da dimensão do PT foram chamados para embarcar num navio construído por engenheiros e pilotado por comandantes aos quais não foram sequer apresentados, fizeram bem os convidados quando decidiram permanecer em terra firme. Afinal, essa guerra não será vencida por um único navio, por maior e mais vistoso que seja, mas por uma esquadra.
*Membro do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia
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Deus nos socorra!!!