Aos 42 anos, Adriano Silva se prepara para deixar de ser um empresário do ramo de suplementos e farmácia – e bombeiro socorrista voluntário – para se tornar o prefeito de Joinville, cidade de 597 mil habitantes no norte de Santa Catarina. A eleição de Adriano chamou a atenção por ser o primeiro e único cargo no executivo municipal alcançado pelo partido Novo, em um ano onde as expectativas sobre o partido acabaram frustradas.
Nesta entrevista ao Congresso em Foco, Adriano apontou que sua eleição tem a ver com uma mensagem, passada pelos eleitores locais, de cansaço a nomes locais tradicionais. O plano de governo, diz Adriano, tem a colaboração de gente do partido em todo o país, o que aponta que a experiência do partido na cidade será uma espécie de “laboratório” da filosofia partidária. Exemplo seria o concorrido processo seletivo para os cargos comissionados na cidade, que receberam 17 candidatos por vaga.
Filosofia que, aliás, estará em prática desde o início do mandato: perguntado qual será sua principal prioridade após primeiro de janeiro de 2021, Adriano disse que deve ser a desburocratização da máquina pública, e a parceria público-privada para enxugar a máquina pública – Adriano não citou detalhes sobre o que pretende fazer. “Ao diminuir a burocracia, a gente diminui o custo operacional para qualquer empreendedor, então mesmo que a gente não tenha uma ação direta, essa ação indireta é bem significativa”, disse, por telefone, nesta segunda-feira (7).
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O senhor terminou em segundo lugar no primeiro turno, mas conseguiu a virada no segundo. Voltando ainda mais atrás, como que se construiu sua campanha?
Começou já no ano passado, com o partido confiou em mim a pré-candidatura. Fiz as provas do partido em 2019 e, assim que passei nas provas, a gente começou a se organizar, com mais de 70 voluntários trabalhando nos planos de governo – e isso, quer queira ou não, vai criando corpo ao longo do tempo. Decidimos fazer uma campanha totalmente propositiva, sem ficar criticando o atual governo, e apresentar projetos.
E muita visita pessoal, de 12 a 20 delas por dia, justamente para explicar o que que era o partido Novo, que estava em sua primeira eleição na cidade – por que que o Novo é novo. E isso começou a reverberar muito bem, porque os dois concorrentes principais são políticos de carreira, um é deputado estadual [Fernando Krelling, do MDB] e outro é deputado federal [Darci de Mattos, do PSD, com quem Adriano disputou o segundo turno]. E as pessoas não queriam que essas pessoas deixassem seu cargo para se tornarem prefeitos.
Também pesou um histórico de voluntariado: aqui em Joinville o Corpo de Bombeiros não é militar, e sim uma organização social, onde todos os bombeiros são voluntários. E eu me formei há 17 anos e dou plantão nas ambulâncias. Dessa forma eu conheci todos os bairros, coordeno a central solidária (que é uma central de arrecadação de alimentos e donativos quando acontecem as enchentes de Joinville, e elas já foram doze)…esse histórico todo começou a aparecer. As pessoas viam me procurar e encontravam isso. Um novo político com novas ideias, com um formato político a ser desenvolvido novo.
Que tipo de mensagem que os eleitores quiseram passar com a sua eleição?
Que se quer uma mudança de verdade no sistema político, que foi nossa principal mensagem. Nós, falando matematicamente, não tínhamos qualquer chance lá no início, lidando com um representante do atual governo e outro deputado federal que concorria pela terceira vez à prefeitura de Joinville, nomes largamente conhecidos. Foi uma vontade muito grande de mudança por parte da população. aliada a uma capacidade de perceber que nossa campanha se diferenciava dos demais.
Sua eleição ganhou projeção nacional por ser a primeira do partido Novo em âmbito municipal. Sua administração pode ser um laboratório das ideias do partido em âmbito municipal?
Algumas mudanças [propostas pelo Novo] não alteram o dia-a-dia da gestão pública, como estas regras políticas de começar e terminar seu mandato – então não chega a ser um laboratório. Questões sobre políticos abrirem mão de seus privilégios é algo que também não se alteram.
O que faremos de inédito – e que já começam a ser percebidos – é que já abrimos processo seletivo para cargos comissionados. São em torno de 500 cargos comissionados no município e ontem à noite, quando fechou a inscrição, eram 8500 inscrições. Isso sim não são coisas comuns em outros municípios, e passa a ser uma experiência nova para todo mundo que está no processo. Não que o processo seletivo seja algo totalmente novo pra mim, já que nós que somos administradores somos acostumados a fazer isso no dia-a-dia, mas isso no ambiente público chama a atenção.
Mas vejo como uma grande oportunidade termos os olhar para as demais lideranças do país, ter essas portas abertas e com outras pessoas nos ajudando a dar certo. Este apoio todo estamos sentindo no partido NOVO: em todas as esferas e todos os estados, há alguém dando uma orientação e uma ajuda a nós, o que é muito bom.
Após sua posse, qual passa a ser sua prioridade número um?
É a desburocratização. Nosso município tem sofrido demais porque perdemos muitas empresas nos últimos anos em virtude de burocracia, com estas empresas indo se instalar em cidades vizinhas, e justamente com a pandemia se aumentou o desemprego. Precisamos fazer esse mutirão, e eu vou estar conduzindo diretamente esse mutirão para dar esse legado à cidade e deixá-la mais livre, no sentido do empreendedorismo.
Como é sua relação com Romeu Zema, o governador de MG e por enquanto único chefe de executivo do Novo?
Eu tenho uma relação muito boa com o governador Romeu Zema, e essa experiência de ele estar ai quase dois anos na nossa frente na gestão, nos tem nos ajudado com suas orientações. Essa proximidade é sempre muito boa, e sou do tipo de pessoa que sempre aceita todo tipo de ajuda, e gosto de escutar outras ideias e opiniões, então é algo sempre muito bom.
O Novo tem uma agenda muito voltada a ideais de liberdade, com propostas muito ativas para impostos e tributações – mas estas são questões nacionais, definidas em âmbito federal, algo mais difícil de ser feito em âmbito municipal. Como seu governo pretende aplicar esta agenda partidária dentro de uma esfera municipal?
A questão da burocracia é uma delas. Ao diminuir a burocracia, a gente diminui o custo operacional para qualquer empreendedor, então mesmo que a gente não tenha uma ação direta, essa ação indireta é bem significativa. Há também muitas ideias de parcerias público-privadas para equipamentos que oneram o município e que poderão nos trazer receita, ajudando na questão do orçamento e de fugir de aumentos tributários.
Outra é a ideia do “imposto amigo”, cultivar o consumo na cidade, onde quem emite a nota consegue descontos. Uma pessoa que pede a nota de serviços poderia vir a ter bônus na cidade ou descontos. Ainda não criamos um modelo adequado para a cidade, mas seria algo como o “CPF na nota” que o estado de São Paulo usa muito.
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É preciso mesmo acabar com cargos comissionados de recrutamento amplo, que visam dar uma “boquinha” para os amigos. Essa história de fazer seleção para cargos comissionados é a mesma farsa que o Zema fez em MG. Tudo mentira, os selecionados são os que querem, tem “QI”, mas já transfere uma grana para o selecionador. O NOVO nasceu morto.
O que deveriam fazer era EXTINGUIR os cargos comissionados. Todo funcionário público deveria ser concursado. Como a quantidade de funcionários é exagerada, deveriam fazer remanejamento para preenchimento de vagas e nunca admitir comissionados.