Na última semana participei de um webinar promovido pelo sigalei para falar do tema título desta coluna. Pra entender os desafios e o contexto das áreas de Relações Governamentais me vali de uma série de evidências apuradas por pesquisas e sobre as quais gostaria de refletir com você, leitor, para ao final compartilhar uma reflexão.
Desafios
1 – A pesquisa Managing Government Relations for the Future realizada pela consultoria McKinsey mostra que governos e reguladores estão entre os stakeholders com maior impacto econômico em suas empresas para os próximos anos (atrás apenas do grupo ‘clientes’). O engajamento com eles deve se dar de forma proativa e regular, independentemente do interesse imediato, ou seja, na construção de um relacionamento de longo prazo.
2 – Casos como os dos carros autônomos e da carne artificial dão conta de como a ciência tem impactado negócios globalmente. Imagine o que essas tecnologias significam para um país que é um dos maiores mercados automotivos do mundo e um dos maiores produtores/exportadores de carne bovina. Paralelo a isso, pesquisa da Universidade da Pensilvânia indica um crescente aumento de think tanks em todo o mundo, adensando cientificamente o debate de políticas públicas. Esses e outros dados estão no livro Relações Governamentais e Inovação.
Leia também
3 – A ciência também adentra na metodologia de formulação de políticas públicas. A nova cultura do governo de análise de impacto regulatório e de formulação e avaliação de políticas públicas baseadas em evidências desafia os profissionais de relações governamentais e de políticas públicas a compreenderem essa nova linguagem e a utilizarem técnicas de diagnóstico, co-desenho de políticas a análise de alternativas para defenderem seus interesses em políticas públicas.
4 – A atividade legislativa cresce exponencialmente e sem perspectiva de redução. Me refiro aqui tanto ao volume de proposições analisadas a cada ano quanto ao tempo de tramitação, cada vez mais veloz. Isso se dá principalmente por conta da aplicação de ferramentas de TI no processo legislativo. E a consequência é uma montanha (em crescimento) de temas e propostas para serem gerenciadas pelas equipes.
5 – Também existe grande um número de profissionais e de organizações atuando no universo do lobby. Pesquisa do Pensar RelGov dá conta de 96 mil lobistas e mais de 40 mil entidades em todo o Brasil. Lidar com tantos agentes e interesses é outro grande desafio das equipes.
6 – No mundo, firmas de lobby estão cada vez mais incorporando serviços digitais em sua estratégia de Relações Governamentais. As atividade digitais incluem advocacy, análises, gerenciamento de stakeholders, gerenciamento de issues e monitoramento legislativo. É o que demonstra a pesquisa de Lucas Veiga no livro Relações Governamentais e Inovação.
Contexto
Para lidar com esses desafios que estão transformando o mundo das relações governamentais, como é hoje o cenários para as equipes? Aqui seguem outros insights para melhorar nossa reflexão.
1 – Segundo a pesquisa o Perfil do Profissional de Relações Governamentais, do Pensar RelGov, as equipes de RelGov em geral são pequenas, sendo cerca de 40% compostas por até 3 profissionais. E 64% possuem até 6 colaboradores. Ou seja, são times via de regra pequenos para dar conta de desafios tão grandes.
2 – Pesquisa publicada na Revista Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais n. 3 de 2017 mostra que os profissionais de Relações Governamentais em geral têm um altíssimo nível de capacitação e de profissionalização, difícil de encontrar em outras atividades.
3 – Dentre as diversas etapas do processo de relações governamentais o monitoramento é uma das que mais consome tempo da equipe – em média 2 horas-homem/dia. Mas esse tempo pode ser reduzido em 75% com uso de tecnologia para automatizar o processo de monitoramento. Esse é o resultado da pesquisa de OLIVEIRA e ERVOLINO no artigo ‘O impacto da tecnologia para o mundo de Relações Governamentais’, no livro Relações Governamentais e Inovação.
4 – Estudo conjunto das universidades de Waterloo, no Canadá, e Cornell, em Nova York, aponta que falar pessoalmente é 34 vezes mais eficiente que por e-mail e recomenda o “olho no olho” para solicitar algo ou convencer uma pessoa. Esse fato nos indica que a articulação e influência, fases da ponta do processo de defesa de interesses, jamais serão substituídas por algoritmos.
Os desafios de ontem não são como os de hoje. O cenário pode assustar, mas fechar o olho não vai afastar o problema. As equipes e os profissionais precisam antever cenários (afinal não é o que fazemos sempre com a política?) e nos prepararmos para o futuro próximo. Mas como lidamos com isso?
Desafios postos e contexto definido, a experiência prática tem revelado que profissionais bem treinados, processos bem estruturados e uso de tecnologia são fatores chave para se estruturar equipes de alto desempenho capazes de gerenciar um grande volume de temas e de agentes, com alto grau de impacto e de complexidade. Ter um time de profissionais com as competências que o mercado exige é a base do sucesso. Com equipes enxutas, é preciso otimizar os processos, automatizando as tarefas mais repetitivas e que consomem boa parte do tempo e simplificar as fases, permite alocar o principal ativo, o capital humano, nas atividades de maior refino intelectual e que agregam mais valor aos resultados da equipe, como inteligência, articulação e negociação.
Profissionais capacitados + tecnologia é a fórmula fundamental para estruturas equipes de Relações Governamentais capazes de superar os novos desafios na definição de políticas públicas.
>>Experiências nacionais e internacionais em lobby e em políticas públicas
Deixe um comentário