“Não mudou nada. Não vamos trocar o capitão pelo general”.
O Congresso em Foco colheu as palavras acima de um importante líder do Centrão, a coalizão de partidos de direita e de centro que reúne 221 dos 513 deputados federais. Basta ter 171 votos – um terço da Câmara – para impedir que o processo de impeachment, ou um pedido de investigação criminal, contra o presidente da República tenha andamento.
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Em outras palavras: se tiver o Centrão unido ao seu lado, Jair Bolsonaro poderá prosseguir no cargo, por mais que isso choque os seus críticos ou contrarie as percepções de quem se espantou com as explicações de Moro para sair. Entre os motivos principais, como se viu e ouviu, não aceitar interferência política na Polícia Federal nem proteção a pessoas sob investigação (em inquérito que ele ainda não revelou qual é).
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A demissão de Sergio Moro decepcionou alguns aliados e colocou outros em rota de colisão aberta com o presidente. “Inadmissível, uma catástrofe. Nem o PT tomou atitude desse tamanho”, disse à Veja o deputado paulista Capitão Augusto, líder da bancada da segurança pública e filiado ao PL, um dos partidos que compõem o Centrão. Mas ele e outros integrantes da chamada bancada da bala parecem estar em minoria dentro do Centrão, no qual vários parlamentares já faziam há bastante tempo restrições a Moro e à Lava Jato. Sim, muitos deles estão sob investigação ou respondem a ações criminais.
Incomodado com Bolsonaro, no início de março o Centrão ameaçou formar um megabloco parlamentar junto com a oposição. Nos últimos dias, por iniciativa do presidente, voltaram a se falar. Como é próprio desse gênero de conversas, somente uma pequena parte das negociações veio a público. Os entendimentos envolvem cargos de direção no Banco do Nordeste e em outras instituições federais, talvez um ou mais ministérios, o controle do bilionário Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), postos estratégicos nos estados (especialmente na área da saúde, agora engordada pelos recursos destinados ao combate à covid-19) e o compromisso de cerrar fileiras para barrar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como presidente da Câmara.
Publicidade“Bolsonaro faz a velha política debaixo da mesa”
“Bolsonaro a gente conhece”, diz o líder parlamentar mencionado no início deste texto. “Quer se dar bem com a velha política debaixo da mesa e bate na velha política em cima da mesa. É o preço, a gente aceita. Do ponto de vista político, é muito melhor negociar com Bolsonaro do que com Mourão. A gente sabe como isso funciona. Ele é general, não chegou lá à toa, tem senso de estratégia, pode endurecer. Para que trocar? Alguém vai tomar mais cargo dele do que de Bolsonaro? Não vai funcionar”.
Para esse congressista, “Moro vinha criando um clima difícil por causa da sua indisciplina”: “Ficou contra o governo ao tentar dar prioridade ao pacote anticrime quando a gente discutia a reforma da Previdência, não aceitou a posição do presidente sobre o juiz de garantias e sobre o voto de qualidade no Carf. O presidente é militar, acho natural ele exigir disciplina e hierarquia. O Moro nunca esteve nem aí para o governo. O projeto que tinha era dele, não do governo. E o Mandetta foi na mesma linha. Ganhou as graças da mídia oposicionista quando começou a desafiar Bolsonaro. Virou estrelinha. Quando Bolsonaro percebeu que demitir Mandetta não era nenhum bicho de sete cabeças, resolveu enfrentar e substituir o diretor da Polícia Federal, que é da prerrogativa dele e era o que ele vinha pedindo há mais de um ano”.
Já se encontram em conversação PP, PL, PSD, MDB, Republicanos, PTB. O toma-lá-dá-cá deverá incluir também Solidariedade, PSC e outros partidos menores, como o Avante. As expectativas são altas entre os parlamentares, que sabem que presidentes fragilizados tendem a ceder mais. Nem por isso o apoio do Centrão, hoje certo, é dado como permanente ou à prova de novos terremotos políticos.
“Guedes não está na linha de tiro”
“Hay gobierno soy a favor”, brinca um deputado também em off (ou seja, falando sob o compromisso de não ter a identidade revelada). “Essa é a situação de hoje. Tirando o pessoal da bancada da segurança e um ou outro mais próximo ao Moro, neste momento parece que a maioria está com o Bolsonaro. Mas isso muda, né? Não sei como vai ser no futuro. Não faço a menor ideia. Semana passada, se colocassem em votação, o impeachment passava”.
Uma outra dica vinda dos profissionais da política abrigados no Centrão – do qual, aliás, Bolsonaro é originário – é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, só deixa o governo se quiser. “O Guedes é diferente. Não está na linha de tiro. Não teve enfrentamento contra o presidente nem virou estrelinha. Está ajudando, mas sem querer aparecer o tempo todo”, soprou uma das fontes de informação ouvidas para esta breve incursão no mundo da política, tal como ela é.
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