Há uma tristeza profunda que paira sobre aqueles que de nós, dedicaram décadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), um partido que já foi o orgulho das massas trabalhadoras e marginalizadas do Brasil. Como filiado e atuante por mais de 26 anos, testemunhei de perto a transformação gradual, porém dolorosa, do PT em algo que parece cada vez mais distante de suas raízes e valores fundamentais.
O recente jantar em comemoração aos 44 anos do partido foi um claro sinal dessa deriva preocupante. Os preços dos convites, variando de R$ 300 a exorbitantes R$ 20.000, não apenas excluíram muitos de nossos camaradas, mas também criaram uma divisão simbólica entre aqueles que supostamente representam o partido e aqueles que verdadeiramente o sustentaram ao longo dos anos. A separação de áreas no evento, onde alguns participantes não podiam circular, foi um golpe doloroso, uma representação vívida de uma elite que se distancia cada vez mais das bases populares que um dia o partido prometeu defender.
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O que aconteceu com o nosso partido das massas? O partido que elegeu um operário para a presidência da República agora parece estar imitando as práticas da elite e da direita. Esqueceram-se de suas origens, abandonaram os valores que nos uniram e celebram sua existência com uma elite que parece não entender a gravidade do momento que vivemos.
A elitização do PT não se limita a eventos isolados como esse jantar inacessível para muitos de nós. Está presente nas estruturas de poder do governo, onde uma elite branca e intelectual ocupa cargos de destaque, relegando ao esquecimento lideranças que foram fundamentais na construção do partido ao longo de quatro décadas.
As mulheres, os LGBT+, os negros, as pessoas com deficiência – somos nós que muitas vezes somos deixados de lado nos momentos de crise, enquanto a elite se acomoda confortavelmente em seus gabinetes. A ausência de importantes lideranças no jantar apenas reforça esse distanciamento das bases populares, que eram anteriormente o coração e a alma do partido.
Diante de tamanho deslumbramento e soberba, não sabemos mais o que celebrar. As lideranças do partido parecem não compreender a urgência do momento que vivemos, ignorando a inclinação preocupante à extrema direita no Brasil. Dizer que “nosso partido não estava nesse jantar” é mais do que uma mera declaração – é um grito de alerta para uma liderança que perdeu o contato com a realidade do povo que pretende representar.
É crucial contextualizar a história da esquerda no mundo e compreender o que significa elitizar um dos poucos espaços que temos para transformar a dura realidade que nosso povo enfrenta diariamente. Enquanto, nós LGBT+ continuamos a ser assassinados a cada 27 horas, enquanto os trabalhadores lutam para sobreviver em meio a uma reforma trabalhista desumana, ainda há muito a ser feito.
De acordo com a pesquisa da Datafolha, a reprovação de Lula atingiu 33%, quase empatando com sua aprovação, que é de 35%. Isso nos mostra que precisamos voltar às nossas bases, retomar o diálogo com o povo e reafirmar nosso compromisso com a justiça social e a igualdade. Caso contrário, corremos o risco de ver a direita, cada vez mais popular, retornar ao poder e destruir o sonho de uma sociedade melhor que tanto lutamos para construir.
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