Em cem dias de governo, Lula cumpriu um terço das suas promessas de campanha. O levantamento é do G1, um veículo jornalístico, não de governo, o que torna o dado bem menos suspeito. Assim, está longe, bem longe, muito longe, de ser pouco, visto que o governo tem ainda 1.360 dias pela frente.
Na verdade, dadas as circunstâncias, está mais para uma proeza. Lula venceu a eleição mais apertada da história. Segue governando um país dividido como nunca. Com uma oposição agressiva como jamais houve igual. Pela primeira vez, Lula tem contra si uma militância. Não é mais somente Lula e o PT quem as tem. Uma oposição que tem demonstrado muito maior capacidade de utilização das novas ferramentas do mundo da internet, como mostrou recente pesquisa do Instituto Quaest. O planeta assiste à guerra entre a Rússia e a Ucrânia torcendo para que ela não seja o início de uma guerra mundial. Nuclear. Ou seja, as circunstâncias internacionais estão longe de ser como eram nos governos anteriores.
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E, em cem dias, um terço do que foi prometido na campanha foi cumprido. Para marcar esses 100 dias, Lula escolheu como slogan: “O Brasil voltou.
Boa parte daquilo que já foi cumprido diz respeito a fazer retornar um país que esteve ameaçado pela era Jair Bolsonaro nos quatro anos anteriores. Trata-se de recuperar a preocupação com as minorias, como se viu na atenção dada ao povo Yanomami. Trata-se de trazer de volta programas sociais com reconhecimento inclusive internacional. Trata-se de trazer de volta o respeito à ciência e ao conhecimento.
E trata-se especialmente de trazer de volta a democracia e o respeito às suas instituições. Duas cenas, nesse sentido, serão para sempre emblemáticas desses primeiros cem dias. A primeira, a faixa colocada em Lula por representantes da sociedade brasileira. A segunda, a descida da rampa do Palácio do Planalto após o 8 de janeiro acompanhado de todos os governadores e dos presidentes dos demais poderes. A primeira cena marca o retorno do diálogo com a sociedade. A segunda, o retorno do diálogo com as instituições. Que inclui também a imprensa, com quem Lula tem conversado seguidamente. A última delas, no café da manhã da última quinta-feira (6).
Mas seria um exagero já a essa altura dizer que “o Brasil voltou”. Aqui, o Brasil que se deseja: fraterno, otimista, em crescimento. Dadas todas as enormes dificuldades, esse Brasil, é claro, ainda não está de volta. As dificuldades econômicas se somam às dificuldades políticas como obstáculos para a volta de um país em crescimento, otimista. Talvez caso obtenha as aprovações da reforma tributária e do arcabouço fiscal se criem assim as condições para isso.
Mas, especialmente, ainda teremos que caminhar muito, infelizmente, para trazer de volta um país fraterno, mais tolerante e solidário. As mensagens de ódio dos últimos quatro anos parecem eclodir no menino que esfaqueia a professora. Ou no homem que mata crianças de três anos a machadadas em uma creche. Nos vândalos que destruíram os três principais prédios da República brasileira no 8 de janeiro.
Alguém poderá dizer que tal Brasil nunca tenha de fato existido. Existiu, sim. Se, é claro, sempre foi desigual e violento, em muitos momentos o Brasil respirou ares de otimismo. Não cultivou o ódio como princípio. Esse Brasil ainda não voltou.
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