Alvo de seis mandados de busca e apreensão da Polícia Federal no início da manhã de quarta-feira (2), Carla Zambelli (PL) procurou blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro de qualquer envolvimento com o hacker Walter Delgatti, mas assumiu que promoveu um encontro entre ambos. Em entrevista coletiva nesta quarta, a deputada afirmou que é inocente e não teme cassação. A deputada prestará depoimento à PF na segunda-feira (7).
A Polícia Federal chegou às 7h no gabinete da deputada e permaneceu cerca de 40 minutos no interior da sala para reunir material com o propósito de reunir provas que tragam novos desdobramentos para a operação.
Questionada se não se preocupou com a reputação e fatos relacionados a Delgatti, Zambelli buscou uma justificativa para aproximar o ex-presidente e o hacker, responsável por vazar informações da Lava Jato, na manhã do dia 10 de agosto de 2022. “As nossas urnas eletrônicas não são auditáveis. Então, você me desculpa, se você não vê qualquer motivo para perguntar a um hacker se urna pode ser fraudada, eu não vou poder te responder”, disse a deputada ao responder a uma pergunta de jornalista.
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O advogado de Zambelli protocolou na Polícia Federal uma petição informando que a deputada estava inteiramente à disposição da PF e do Judiciário para prestar qualquer tipo de esclarecimento. Zambelli afirma que Bolsonaro e Delgatti não trocaram contatos e assumiu responsabilidade pela ligação com o hacker ao dizer que era a única a ter seu contato. “Se houver qualquer coisa relacionada ao Walter Delgatti, é Carla Zambelli quem responde. O [ex-]presidente Bolsonaro não tem nada a ver com isso”, ressaltou a deputada.
Ela ainda disse que foi com muita surpresa que recebeu a PF em casa, às 6h, com o filho e a mãe dormindo em casa. “Foram apreendidos meu passaporte, os meus dois celulares e mais um HD que tem coisas da minha vida aqui do legislativo e dos meus últimos quatro anos e meio da mandato”, explicou a deputada, que acrescentou que nada foi levado pela PF de seu gabinete.
Como Zambelli conheceu o hacker?
Zambelli descreveu o início da relação com Delgatti ao encontrá-lo em um dia após sair de um hotel. Conforme a deputada, ele teria pedido o telefone dela. “Ele a cada momento mudava de telefone ou apagava as mensagens, sempre queria falar ao vivo, mas foram dois ou três encontros, no máximo, em que a gente conversou sobre tecnologia. Uma vez ele veio a Brasília com ajuda financeira minha.”
A deputada afirmou que Delgatti disse que teria provas para apresentar e serviços a oferecer ao PL. O hacker foi levado ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, para um reunião. “Sabendo que ele tinha muito conhecimento na área, mas não sabia qual espectro ideológico que ele estava, sinalizei a Valdemar que não o contratasse.”
Na versão da deputada, Delgatti ofereceu como serviço uma espécie de auditoria das urnas eletrônicas durante o primeiro e o segundo turno das eleições. Depois disso, segundo Zambelli, ele foi conhecer Bolsonaro porque disse que tinha muitas informações sobre tecnologia. A conversa, ressaltou a parlamentar, foi privada.
“O presidente perguntou a ele se as urnas eram confiáveis e ele respondeu que nenhum sistema tecnológico é confiável. A partir dali não houve qualquer contato com o presidente Bolsonaro”, disse Zambelli, que procurou blindar o ex-presidente de qualquer acusação ou até mesmo associação com o hacker. “A impressão que tenho é que estão tentando envolver o presidente através de mim pelo fato de eu ser bastante ligada ao presidente.”
De acordo com uma matéria da Globo News desta quarta, o ex-presidente não recebe a deputada desde janeiro. Zambelli vive um processo de desgaste no PL desde a eleição do ano passado, quando apontou e ameaçou com uma arma um jornalista em São Paulo na véspera do segundo turno.
Pagamentos ao hacker
Zambelli contou que fez pagamentos a Delgatti para que ele fizesse serviços em sua página, mas que ele não conseguiu terminar o trabalho. A deputada disse que não pediu o dinheiro de volta porque entendia que o hacker estava passando por um momento financeiro difícil. “Mas são baixos valores e sem relação com as acusações feitas a mim”, disse a deputada ao classificar a invasão ao Conselho Nacional de Justiça como brincadeira de mau gosto.
Entretanto, a deputada se confundiu ao tentar explicar como financiou os serviços de Delgatti. Primeiro, ela afirmou que o pagamento veio de cotas parlamentares destinadas à comunicação, mas, orientada por assessores, disse que a informação não procedia e que o dinheiro era de sua conta pessoal.
Depois das eleições houve pagamentos feitos a Delgatti em novembro de 2022. A deputada disse que subcontratou o hacker para que ele conectasse as redes sociais dela a um site pessoal, chamado Exijo Liberdade.
Conhecido como hacker de Araraquara, Walter Delgatti foi preso preventivamente pela Polícia Federal na manhã desta quarta por receber o total de R$ 13,5 mil em depósitos realizados por dois assessores de Carla Zambelli, Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Guimarães Vilela. O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes mandou apreender armas e bens da deputada durante a manhã de terça.
Walter Delgatti e Carla Zambelli farão depoimentos à PF para dar suas versões sobre a invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e sobre a inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Entre os documentos forjados, havia um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
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