Em seu quarto episódio, o Congresso em Foco Podcast recebeu a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). Advogada e empresária, a parlamentar foi eleita em 2018 pelo extinto PSL, somando-se à geração de candidatos puxados pela campanha de Jair Bolsonaro. Ao longo do mandato, decepcionou-se com o ex-presidente e concorreu pelo União Brasil à Presidência da República em 2022. Idealizadora da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, ela apresenta sua avaliação dos resultados alcançados. Apesar de alegar sabotagem interna para que atores de dentro do parlamento não fossem investigados, ela garante: o inquérito da Polícia Federal “vai chegar nos políticos”.
Confira a íntegra da entrevista:
Soraya Thronicke foi a primeira senadora a apresentar um requerimento de instalação de CPI após os ataques de 8 de janeiro de 2023. Na época, o pedido não foi pra frente por uma tecnicalidade: as assinaturas foram colhidas antes da posse dos parlamentares eleitos em 2022 – ou seja, parte dos apoiadores do requerimento era da legislatura anterior. Isso não impediu a parlamentar de atuar como titular na CPMI, oriunda do requerimento de André Fernandes (PL-CE).
A senadora avalia que o saldo final das investigações realizadas pelo colegiado foi positivo, principalmente ao se observar a reação das autoridades judiciais diante do material colhido pelos parlamentares. “Estava ocorrendo uma investigação, e realmente está. Diferentemente da CPI da Pandemia, em que tudo que nós apuramos foi arquivado, nesta, concomitantemente, as investigações já estavam em curso”, apontou.
Soraya revelou manter diálogo com o novo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre os resultados alcançados. “O relatório da CPMI [dos Atos Golpistas] foi anexado a seis inquéritos. Nos foi dito que tudo aquilo que nós levantamos de informação está servindo dentro desse conjunto probatório”.
Por outro lado, a senadora lamenta que o relatório não tenha conseguido chegar a atores políticos, limite que, ao seu ver, foi estabelecido graças à sabotagem interna de parte da comissão. “Nós tínhamos, dentro da CPMI, investigados. Então eles fizeram tudo para boicotar a CPMI. Nós não conseguimos ouvir diversos nomes, e também não conseguimos investigá-los, por óbvio. Tínhamos ali dentro, por exemplo, o Delegado Ramagem (PL-RJ), um dos investigados que estavam conosco”, relembrou.
Alvo de espionagem
O deputado Ramagem, além de ser um dos investigados nos inquéritos que tratam dos ataques de 8 de janeiro de 2023, é suspeito pela Polícia Federal de ter feito uso político do aparato da Agência Brasileira de Inteligência no período em que foi seu diretor. Ele é investigado sob indícios de ter conduzido a estrutura da Abin para atender a interesses de quadros da cúpula do governo Bolsonaro, formando o que ficou conhecida como a Abin Paralela.
Dentre as acusações em sua gestão da Abin, está a de ter feito a contratação do sistema de monitoramento israelense First Mile, capaz de rastrear a localização de aparelhos celulares sem o conhecimento do dono, para espionar rivais de Jair Bolsonaro, incluindo jornalistas, ativistas políticos e parlamentares. Soraya Thronicke está entre os supostos alvos, de acordo com as investigações.
No podcast, a senadora se manifestou sobre a suspeita de espionagem sobre seu aparelho celular. “Eu me senti invadida. Invadida. A quem interessa saber onde eu estou? Geralmente, as pessoas ao pensar em monitoramento de telefone, imaginam que estão escutando a sua conversa. Mas saber onde eu estou? Para quê? Para quê tanto trabalho para saber onde as pessoas estão?”, questionou.
A parlamentar acredita que as descobertas da Polícia Federal sobre a Abin paralela e sobre os esforços de membros da cúpula do antigo governo na execução de um golpe de Estado ainda sejam apenas uma pequena parcela de um esquema mais amplo.
Deixe um comentário