Arthur Lira perdeu a aposta em Elmar Nascimento como seu sucessor no comando da Câmara. Queria anunciar em agosto um candidato de consenso. Não conseguiu. Para se manter no jogo, uniu-se ao vice-presidente da Casa, Marcos Pereira — outro que não conseguiu apoio suficiente para prosseguir na disputa. Conversaram, Pereira anunciou sua desistência e tirou da cartola um substituto, o deputado Hugo Motta, líder de seu partido, o Republicanos.
Lira, porém, ainda não anunciou formalmente o apoio a Motta como solução ao impasse em torno de Elmar. Tampouco disse que o deputado baiano não tinha mais chances — até agora, as declarações públicas couberam a Pereira. Lira esteve três vezes com Lula, num balé que revela as dificuldades dos dois lados para chegar a um acordo satisfatório, ou seja, que dê ao deputado alguma perspectiva de não cair no ostracismo quando deixar o cargo — destino dos antecessores — e garanta a Lula certa segurança na metade final do mandato.
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Marcos Pereira culpou o presidente do PSD, Gilberto Kassab, pela desistência da candidatura. Kassab alegou que o partido tem candidato próprio, Antonio Britto. Sem disfarçar a mágoa, e antecipando um desejo de vingança, Pereira disse à Globonews: “Nossa relação vai continuar a mesma, mesmo depois desse episódio. Mas, obviamente, quando eu olhar para ele vou sempre lembrar. Não tenha dúvida.”
Kassab é um equilibrista da política. Seu partido tem assento na Esplanada de Lula, enquanto ele comanda a Casa Civil do governador paulista, Tarcísio de Freitas, principal nome do Republicanos de Pereira. O PSD tem o maior número de prefeitos do país e bancada de 44 deputados federais — idêntica às de MDB e Republicanos. A candidatura do baiano Antonio Britto à presidência da Câmara tem sido trabalhada por Kassab desde o início da legislatura, no ano passado. Ela continua de pé — assim como a de Elmar Nascimento, do União Brasil. Kassab tem um acordo com o MDB de Isnaldo Bulhões, outro candidato. Mas, por enquanto, do partido só se ouve o silêncio.
Hugo Motta tem apenas 34 anos, mas já é um político experiente. Foi um aliado de Michel Temer e de Jair Bolsonaro. Fez tudo o que o então ministro da Economia, Paulo Guedes, quis ao relatar a emenda constitucional que mudou regras de parcelamento de precatórios, também conhecida como PEC do Calote, que adiou uma dívida de R$ 90 bilhões para que o governo tivesse mais dinheiro para gastar. Motta já procurou Lula e Bolsonaro tentando se impor como nome de consenso. Apesar do aparente sucesso da manobra, é cedo para que comemorem. Seu lançamento a cinco meses da eleição dá um bom tempo para os adversários o desgastarem — no que já estão trabalhando ao lembrar, por exemplo, sua proximidade com o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha.
O discurso oficial no Planalto é o de não se envolver na disputa da Câmara. Não se faz outra coisa ali. Lula já teria oferecido a Lira um ministério no ano que vem, para suavizar a descida à planície. Há muitos outros cargos em jogo: a composição da Mesa Diretora, a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e a relatoria do Orçamento de 2026, por exemplo, sem falar numa vaga no TCU, que será aberta em 2026, com a aposentadoria de Aroldo Cedraz.
PublicidadeApoiar Motta, porém, não parece o melhor dos negócios para o presidente da República. Significaria concordar em dar o imenso poder que tem a presidência da Câmara ao partido de Tarcísio de Freitas, esperança do bolsonarismo para voltar ao poder em 2026.
O União Brasil, o confuso partido de Elmar Nascimento, tem reunião na semana que vem para decidir se vai insistir na candidatura dele, se vai para a banda de Kassab, que espera contar com o MDB, ou se entra no bonde do Republicanos de Pereira e Motta.
Se Lula não pode ter um aliado na Câmara, também não pode se dar ao luxo de fortalecer potenciais adversários. Lira, depois de quatro anos no poder, não quer voltar ao baixo clero. Dar os passos certos nessa dança do poder é o desafio de ambos. Kassab tem lembrado que em política cinco meses são uma eternidade. Tem toda razão.
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