O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, disse em depoimento concedido à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas nesta terça-feira (1º) que ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, determinou que a menção de alertas sobre a gravidade da situação do dia 8 de janeiro entregues a ele fosse retirada de um relatório enviado ao Congresso Nacional.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), iniciou a audiência questionando se o ex-diretor havia adulterado o relatório sobre os alertas que foram enviados ao Congresso para prevenir ataques à Praça dos 3 Poderes.
“Não, eu não adulterei. Eu fiz dois relatórios. Eu fiz o primeiro, uma planilha em que continha os alertas encaminhados a grupos, e continha ali também os alertas encaminhados por mim pessoalmente pelo meu telefone para o ministro chefe do GSI. Eu entreguei essa planilha ao ministro e o ministro determinou que fosse retirado o nome dele dali porque ele não era destinatário oficial daquelas mensagens e que ali fosse mantidas apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de Whatsapp. Ele determinou que fosse feito e eu obedeci a ordem”, declarou Saulo Moura da Cunha em resposta à senadora.
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De acordo com o ex-diretor, a ordem que partiu de GDias não é ilegal e está prevista no regimento da ABIN. No entanto, Eliziane classificou a ordem de arquivamento da informação como absurda. O primeiro relatório foi encaminhado ao Congresso Nacional e o segundo foi enviado à Procuradoria Geral da República
De acordo com Saulo Moura da Cunha, via Whatsapp, GDias foi alertado que 105 ônibus chegaram a Brasília e que havia chance de depredação de órgãos públicos às 8h do dia 8 de janeiro. Ao que GDias teria respondido: “Acho que vamos ter problemas”. O ex-diretor da ABIN então repassou todos os alertas da Agência e também informações da célula integrada de Segurança Pública com manifestantes se preparando para a manifestação violenta.
Saulo disse que havia entre os manifestantes um chamamento, feito com um carro de som em Brasília, para invadir prédios públicos por volta das 13h. “No momento que a marcha saiu [para a Praça dos 3 Poderes], recebi ligação de um colega responsável pela segurança de um dos órgãos dos 3 Poderes e ele me pede para falar com Gdias e ligo para ele por volta das 13h30 por telefone para dizer: ‘Nós temos a impressão, uma certa convicção, de que as sedes dos Poderes serão invadidas e haverá ação violenta e atos extremistas”‘.
PublicidadeEliziane Gama elencou ao menos três militares que teriam transmitido informações a GDias de que a situação de risco na Praça dos 3 Poderes estava durante a ocasião era baixa, o que poderia indicar algum tipo de sabotagem e obstrução por parte de outros órgãos que monitoram a região. A senadora questionou então a utilização de um canal cujo dono é uma empresa do exterior para transmitir informações de cunho sigiloso que tratam de assuntos de segurança nacional.
“Obviamente, não é uma ferramenta ideal, porém em uma situação tática operacional com 48 agências, incluindo o TSE, STF, Congresso Nacional, etc., não há ferramenta sigilosa de comunicação comum. Qualquer sinal de fumaça é um sinal de inteligência”, ponderou Saulo, que concordou que o aplicativo não é o ideal, mas que servia apenas para o envio de alertas e que informações estratégicas classificadas são tratadas por uma plataforma com algoritmo desenvolvido por um centro de pesquisas de comunicações, o correio SISBIN (Sistema Brasileiro de Inteligência).
A Agência Nacional de Transporte (ANTT) identificou uma movimentação atípica com vários ônibus com passagem por Brasília para trazer manifestantes para contestar o resultado das eleições.
No dia 06/01/2023 – 43 ônibus trouxeram 1.622 passageiros
No dia 07/01/2023 – 105 ônibus com mais 3.951 passageiros
No dia 08/01/2023 – 39 ônibus com mais 5.021 passageiros
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