O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marco Edson Gonçalves Dias, negou que ordenou ao ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, a remoção de seu nome de relatórios enviados à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI) e à Procuradoria Geral da República (PGR). A declaração foi dada nesta quinta-feira (31) em depoimento cedido à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas.
Acompanhe a sessão ao vivo abaixo.
Durante a oitiva de Saulo Moura da Cunha, realizada no dia 1º de agosto, ele disse que Gonçalves Dias determinou que a menção de alertas sobre a gravidade da situação do dia 8 de janeiro de 2023 entregues a ele fosse retirada de um relatório enviado ao Congresso Nacional. Contudo, GDias admitiu que sugeriu que o nome fosse trocado pela instituição do GSI em vez de seu nome próprio.
De acordo com o ex-diretor, a ordem que partiu de GDias não é ilegal e está prevista no regimento da ABIN. No entanto, à época, a relatora da Comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), classificou a ordem de arquivamento da informação como absurda. O primeiro relatório foi encaminhado ao Congresso Nacional no dia 20 de janeiro e o segundo foi enviado à Procuradoria Geral da República no dia 8 de maio.
Conforme GDias, ele não mandou ninguém adulterar documento ou retirar o nome dos relatórios. Ele alegou que determinou a Saulo que organizasse as informações que deveriam ser dadas à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI) dentro de uma lógica única: os alertas com informações de fontes abertas foram passados a um grupo de WhatsApp destinado a órgãos públicos e não com nomes individuais.
Pode tirar meu nome?
“Como eu não integrava os grupos e estava sequer usando um celular público naquele momento e não constava o nome de pessoas no relatório, apenas de órgãos, determinei que as informações fossem padronizadas a fim de responder à CCAI com a verdade.”
A senadora Eliziane, no entanto, apresentou uma mensagem fruto da quebra de sigilo telemático de Saulo Moura da Cunha, datada de 17 de janeiro, em que GDias envia o seguinte pedido ao ex-diretor da Abin: “Pode tirar o meu nome?”. Em resposta, Saulo diz: “Claro, o senhor não era parte da operação”. Eliziane então questionou GDias se ele havia fraudado o relatório.
“Todas as mensagens trocadas com Saulo foram do meu celular particular para o dele. Eu nunca fui usuário de um grupo de Whatsapp”, respondeu o general. De acordo com GDias, ele não integrava o grupo chamado SISP Manifestações, criado em 7 de janeiro de 2023, para alertar diversos órgãos de segurança sobre os possíveis riscos de ataques aos Três Poderes por meio de infiltrados do governo nas manifestações.
O militar acrescentou que conhece Saulo desde 2003 e o convidou para trabalhar no GSI. “O que ele disse aqui [em depoimento à CPMI] é absolutamente a verdade. Eu sugeri que ele tirasse o nome porque no lugar deveria estar o GSI porque não era pessoal, não poderia colocar pessoa física porque o Plano Escudo Planalto, uma vez ativado, existe um acompanhamento pela Coordenação Geral da Análise de risco que determina entrar em contato com órgão de inteligência da PM e a Abin.
Reportagem da CNN
A relatora exibiu um vídeo que reproduzia as imagens vazadas à CNN do Palácio do Planalto de 8 de janeiro. As imagens, exibidas em 19 de abril, mostram GDias dialogando e interagindo com manifestantes bolsonaristas e se convertaram no pivô da demissão do general do GSI.
Eliziane questionou a razão para o militar não ter impedido ou prendido os manifestantes enquanto testemunha os ataques. O motivo dado pelo general foi “que não se apaga uma fogueira jogando gasolina em cima” e que o intuito era demover os depredadores das ações e não aumentar o nível de violência.
Deixe um comentário