Após a bancada ruralista no Congresso cobrar a anulação de questões do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) sob a justificativa de “negacionismo científico” contra o setor, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado aprovou nesta quarta-feira (8) um convite ao ministro da Educação, Camilo Santana, para prestar esclarecimentos. O ministro não é obrigado a comparecer.
O senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) foi o autor do requerimento de audiência pública com Camilo. De acordo com o parlamentar, houve “politização das provas do Enem de 2023, em especial sobre a discriminação do setor agropecuário, com destaque da região Centro-Oeste e seus habitantes”. Outro ponto levantado pelo congressista foi a representatividade econômica da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB).
“Praticamente um terço do PIB do Brasil vem desse segmento. O agronegócio cresce no norte do país e em todas as regiões. E a forma como as questões [do Enem] foram abordadas em relação à soja, ao indígena, ao desmatamento e ao derrame [de agrotóxicos] é prejudicial ao agro brasileiro. Tem que haver respeito a um setor extremamente importante. Se nós somos hoje o maior exportador de soja, suco de laranja, açúcar, cana, boi e frango do mundo, não foi à toa, e o mérito é de quem fez isso”.
O requerimento foi apoiado pelo senador Sérgio Moro (União-PR) na comissão. Para ele, três questões apontam para um direcionamento ideológico. Além disso, sugeriu uma futura audiência pública com Manuel Palácios, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela elaboração do certame. Em publicação no X (antigo Twitter), o senador considerou a prova “confusa e mal redigida”, porém o post foi apagado pois usou a grafia errada para a prova, chamando de “ENEN”.
O presidente do Inep, por sua vez, rebateu as críticas nesta quarta-feira. “Nós estamos falando de professores que foram selecionados em 2020 e que estão exercendo essa atividade até hoje. Se há algum tipo de seleção enviesada, ela vem sendo enviesada há muito tempo”, disse em referência ao fato de que os elaboradores da questão de 2023 foram selecionados há três anos.
Veja as questões
As questões 70 e 89 da prova branca do Enem são referentes à expansão do agronegócio na Amazônia e no Cerrado. Em relação ao Cerrado, a prova utilizou trecho de um artigo publicado na Universidade Estadual de Goiás (UEG) que aborda a expansão de práticas industriais ao agronegócio na região, ressaltando o uso de maquinário pesado, utilização em massa de agrotóxicos, privatização de grandes áreas e precarização do trabalho manual.
Na questão 71, o texto compara a expansão espacial à colonização no país. A charge apresenta um suposto bilionário descendo de uma nave espacial em outro planeta, enquanto um alienígena é alertado em uma videochamada por um indígena para “não confie nesse pessoal”.
Confira abaixo a íntegra das questões citadas pela comissão.
Com informações da Agência Senado
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