Responsável pela defesa da deputada Carla Zambelli (PL-SP), o advogado Daniel Bialski a orientou a ficar calada durante o depoimento que ela prestará à Polícia Federal (PF), às 14h, nesta segunda-feira (7). A oitiva foi agendada para a parlamentar esclarecer a suposta contratação de Walter Delgatti, o hacker de Araraquara envolvido nos vazamentos que deram origem à Vaza Jato, para invadir órgãos do governo e para tentar obter dados do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O depoimento será realizado em São Paulo.
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Zambelli também será questionada sobre a reunião que promoveu entre o hacker e o ex-presidente Jair Bolsonaro para tratar sobre uma possível invasão às urnas eletrônicas. “Ela quer falar, mas eu, como advogado dela e porque não me foi fornecida vistas dos autos, a orientei a dizer que prestará todos esclarecimentos posteriormente, assim que franqueada vistas dos expedientes e procedimentos”, disse Bialski ao Congresso em Foco.
Na quarta-feira (2) da semana passada, a Polícia Federal realizou uma operação contra a deputada e o hacker Walter Delgatti Neto. Os policiais cumpriram mandado de prisão contra o chamado “hacker da Vaza Jato”, que ficou conhecido por invadir telefones de autoridades envolvidas na megaoperação, e de busca e apreensão no gabinete e no apartamento da deputada em Brasília.
Segundo a PF, a Operação 3FA tem o objetivo de esclarecer a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Entre os documentos forjados, havia um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Efeito dominó
Carla Zambelli (PL) procurou blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro de qualquer envolvimento com o hacker, mas assumiu que promoveu um encontro entre ambos. Em entrevista coletiva cedida no mesmo dia da operação da PF, a deputada afirmou que é inocente de tentativas de golpe de estado e não temem cassação.
A Polícia Federal chegou às 7h no gabinete da deputada e permaneceu cerca de 40 minutos no interior da sala para reunir material com o propósito de reunir provas que tragam novos desdobramentos para a operação. A própria deputada afirmou que a PF não retirou nada de seu gabinete durante a ação.
Questionada se não se preocupou com a reputação e fatos relacionados a Delgatti, Zambelli buscou uma justificativa para aproximar o ex-presidente e o hacker na manhã do dia 10 de agosto de 2022. “As nossas urnas eletrônicas não são auditáveis. Então, você me desculpa, se você não vê qualquer motivo para perguntar a um hacker se a urna pode ser fraudada, eu não vou poder te responder”, disse a deputada ao responder a uma pergunta de jornalista.
Armas, passaporte, sigilo bancário e convocatória para a CPMI
Ainda no mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a apreensão do passaporte, de armas e outros bens pertencentes à deputada. O ministro também determinou a quebra do sigilo bancário da deputada, assim como do hacker que foi preso. O ministro também ordenou a quebra de sigilo bancário, no mesmo período, de Jean Hernani Guimarães Vilela, assessor da deputada na Câmara dos Deputados, e de Renan Cesar Silva Goulart, ex-assessor de Carla Zambelli.
Já senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e os deputados Rogério Correia (PT-MG) e Duarte Jr. (PSB-MA) protocolaram na mesma quarta-feira um requerimento na CPMI dos Atos Golpistas para a realização de uma audiência com Walter Delgatti. Duarte também pediu a convocação da deputada Carla Zambelli (PL-SP).
“A oitiva do Walter Delgatti Netto, conhecido como ‘hacker de Araraquara’, poderá auxiliar esta comissão a esclarecer como a deputada Carla Zambelli atuou de modo a questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro nas eleições de 2022”, afirma Eliziane Gama, que é a relatora da CPMI, em seu requerimento.
Conselho de Ética
Paralelamente aos acontecimentos, o relator João Leão (PP-BA) leu também na quarta-feira, durante reunião deliberativa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o voto que admitiu a representação do deputado Duarte Júnior (PSB-MA) contra a deputada. O motivo foi uma ofensa cometida por Zambelli contra o deputado em uma audiência da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada em 11 de abril de 2023.
Zambelli mandou o deputado Duarte “tomar no cu” em uma sessão que contava com a presença do ministro da Justiça, Flávio Dino, para dar explicações sobre visitas feitas à comunidade do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
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