Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão
A família do ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi fez 42 viagens, das quais pelo menos dez ao exterior, por meio da cota de passagens aéreas da Câmara. As viagens saíram das cotas de 12 parlamentares diferentes e tiveram como passageiros sete integrantes da família.
João Carlos comandou o setor de RH do Senado até março, quando abandonou o posto depois da divulgação da informação de que havia repassado um apartamento funcional aos filhos. No ano passado, sete parentes dele trabalhavam na instituição até o Senado começar a cumprir a súmula antinepotismo do Supremo Tribunal Federal (STF).
As passagens saíram da cota dos deputados Enio Bacci (PDT-RS), Julião Amin (PDT-MA), Armando Abílio (PTB-PB), Cezar Silvestri (PPS-PR), Nazareno Fonteles (PT-PI), Valadares Filho (PSB-SE), Nilson Pinto (PSDB-PA), Aníbal Gomes (PMDB-CE), Veloso (PMDB-BA), Francisco Tenório (PMN-AL), Zé Geraldo (PT-BA) e Ayrton Xerez (DEM-RJ), que está licenciado do mandato.
O Congresso em Foco procurou todos os deputados que estão no exercício do mandato. Apenas Enio Bacci, Julião Amin, Nazareno Fonteles e Valadares Filho retornaram o contato feito em seus gabinetes. Os quatro se mostraram surpresos ao serem informados sobre o uso da cota pela família Zoghbi e negaram ter autorizado a emissão dos bilhetes. Xerez não foi localizado.
Por meio da assessoria de imprensa do Senado, João Carlos Zoghbi afirmou que não tinha nada a declarar sobre o uso de passagens emitidas na cota dos parlamentares.
Internacional
Paris, na França, foi o destino de uma das viagens da família Zoghbi com as cotas parlamentares de passagens aéreas. Em 2 de fevereiro de 2007, foi emitido um bilhete para o filho de Zoghbi, o dentista Ricardo, voar do Rio até a capital francesa. O retorno se deu pelo aeroporto de Guarulhos. A viagem foi feita pela TAM e saiu da cota do deputado Aníbal Gomes.
Ricardo Zoghbi ocupou um apartamento funcional do Senado na Asa Norte, em Brasília, segundo reportagem do jornal Correio Braziliense.
Outra viagem internacional da família foi para Madri, na Espanha. No dia 27 de fevereiro de 2008 e no dia 3 de março daquele ano, foram emitidos quatro bilhetes em nome de Luís Fernando Zoghbi pela cota de Armando Abílio. Os voos da TAM, de ida e volta, partiram de Guarulhos para a capital espanhola.
No final de março de 2008, João Carlos e a mulher, Denise Zoghbi, também tiveram bilhetes emitidos para Madri, de ida e volta pela TAM. O primeiro valeu-se da cota do deputado Raimundo Veloso. Denise voou com o benefício de Zé Geraldo. Ela foi exonerada pelo Senado no final de 2008, quando a Casa passou a cumprir a súmula antinepotismo do Supremo Tribunal Federal.
De acordo com os registros da GOL, em 29 de agosto de 2007, João Carlos, o filho Marcelo (também exonerado pelo Senado) e Luís Zoghbi voaram na cota do deputado Francisco Tenório. O trecho voado não foi identificado pelo site.
A maioria das viagens da família Zoghbi foi pela TAM, com 18 voos. Há 14 trajetos pela Gol e dez pela Varig.
Conheça todos os voos dos Zoghbi. Clique aqui.
O que dizem os deputados:
Enio Bacci (PDT-RS)
O deputado gaúcho informou ao site que não reconhece as passagens emitidas em nome da família Zoghbi. São três voos com origem em Brasília e com destino São Paulo. Foram emitidos no dia 4 de janeiro de 2008. Os passageiros são Denise, João e Luiz Zoghbi. Enio Bacci disse que vai investigar como estes bilhetes foram emitidos sem a sua autorização.
O deputado admitiu que no final de cada ano entregava bilhetes para os funcionários de seu gabinete. Bacci informou que os valores variavam de acordo com o estado de origem dos assessores.
Julião Amin (PDT-MA)
O deputado Julião Amin informou por meio de sua assessoria que os voos emitidos em nome da família Zoghbi não constam dos seus registros no gabinete. O deputado do PDT disse que vai pedir informações à Diretoria-Geral sobre o caso.
Nazareno Fonteles (PT-PI)
Veja a nota enviada pela assessoria de imprensa do deputado:
“1. O deputado Nazareno Fonteles não conhece ou mantém qualquer tipo de relacionamento com nenhum membro da família Zoghbi;
2. O deputado Nazareno Fonteles não sabia que, da sua cota, saíram passagens para um integrante dessa família. O caso parece inserir-se no mesmo contexto em que se deram outras retiradas irregulares na cota do parlamentar e que custearam a compra de passagens internacionais (já divulgadas pelo Congresso em Foco e outros veículos de comunicação) para pessoas que ele não conhece (fato que está sendo investigado por sindicância da Câmara).
3. Assim como a Câmara e os contribuintes brasileiros, o deputado encontra-se estarrecido com esta ação criminosa. As providências que ele tomou estão expressas na nota abaixo e em ofícios enviados segunda-feira e hoje à Presidência da Câmara dos Deputados e cujas cópias envio anexadas.
Atenciosamente,
Juarez Martins – jornalista/chefe de gabinete do deputado Nazareno Fonteles”
Valadares Filho (PSB-SE)
O deputado negou conhecer qualquer integrante da família Zoghbi. “Não conheço essa família nem autorizei viagem alguma com a minha cota”, disse o deputado. O sergipano afirmou que vai pedir esclarecimentos à Câmara sobre o uso indevido de sua cota por terceiros.
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