O ataque público do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deve travar a apreciação dos vetos presidenciais pelo Congresso Nacional. Prevista para ocorrer na próxima semana, a sessão para analisar os vetos do presidente Lula(PT) corre o risco de ser adiada até que a poeira baixe, a fim de não causar prejuízos ao governo.
A sessão que vai analisar os vetos foi convocada pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para o dia 18 de abril. O governo, contudo, sabe que ainda não tem votos suficientes para manter os vetos de Lula. Parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco avaliam que, nessa queda de braço, Lira pode impor derrota ao Planalto. O governo espera que Pacheco, que é o responsável pela convocação da sessão, entre em campo para acalmar os ânimos. O senador já deu sinais de que não vai colocar mais gasolina na fogueira.
“O que eu posso dizer é que eu me esforço muito para manter uma boa relação com o governo, com o próprio ministro Alexandre Padilha, por quem eu tenho afeição, eu tenho simpatia, e o considero também competente. Da parte do Senado Federal, nós vamos buscar ter o melhor relacionamento possível com o governo e com o próprio ministro Padilha”, afirmou Pacheco nessa quinta-feira.
A relação instituída entre Lira e Padilha não percorre mares tranquilos há mais de um ano, mas nesta semana tomou proporções públicas que surpreenderam até mesmo aliados do presidente da Câmara. Nos bastidores, Lira nunca escondeu o seu descontentamento com as negociações feitas por Padilha. Mas, pela primeira vez, veio a público ontem para qualificar Padilha como “um desafeto, além de pessoal, um incompetente”.
Nesta sexta-feira (12), em um evento no Rio de Janeiro, Padilha evitou devolver as ofensas a Lira na mesma moeda. Citou o rapper Emicida para elaborar resposta pública ao presidente da Câmara. “Sobre rancor, a periferia da minha cidade, São Paulo, produziu uma grande figura, o Emicida. Que diz: ‘Mano, o rancor é igual a tumor, envenena a raiz. A plateia só deseja ser feliz'”, disse o ministro, que ainda afirmou que não vai “descer a esse nível”, referindo-se diretamente às declarações feitas pelo presidente da Câmara.
Enquanto as divergências pessoais entre Lira e Padilha se intensificam, o governo amplia a relação de vetos para os quais precisa de apoio no Congresso. Lula vetou parte do projeto que elimina as saídas temporárias de presos durante feriados e datas comemorativas. O veto à lei publicada no Diário Oficial da União foi direcionado apenas à disposição que restringia as saídas temporárias para visitas familiares de presos. A chamada “saidinha” se aplica a detentos já em regime semiaberto.
O governo já foi avisado de que não tem votos suficientes para manter o veto, o que pode pesar na decisão por um adiamento da sessão já convocada. Esse item, porém, não está na pauta da próxima semana. Mas parlamentares querem incluí-lo para dar uma resposta imediata ao presidente. Aliados do governo consideram menos prejudicial o adiamento da análise do que um derrota em plenário, o que enfraqueceria ainda mais as relações de Padilha com os parlamentares, que em parte já estão estremecidas.
Há ainda na gaveta os vetos do presidente Lula a trechos do arcabouço fiscal, que estavam previstos para entrar na pauta do Congresso Nacional nesta semana, travaram e agora caminham junto com os do marco temporal. A bancada ruralista da Câmara quer que os vetos do presidente ao PL 2903/2023, que institui o marco temporal, sejam colocados em apreciação na mesma sessão.
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