O candidato pelo PSDB nas eleições presidenciais de 2014 e atual deputado federal Aécio Neves conseguiu duas vitórias em iniciativas que coordenou no Congresso Nacional nesta semana. Ele emplacou um aliado como líder do partido na Câmara dos Deputados e teve sucesso na articulação de uma proposta de emenda à Constituição que facilita repasse da União para estados e municípios.
Após uma disputa violenta entre Celso Sabino (PA), apoiado por Aécio, e Beto Pereira (MS), apoiado pelo governador de São Paulo, João Doria, o candidato do mineiro obteve sucesso e se tornou líder dos tucanos na Câmara nesta sexta-feira (13).
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Depois de uma série de reviravoltas, a expectativa é que Sabino fique na liderança. O deputado do Pará venceu por 16 a 15, uma pequena margem de votos, e o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, terá o desafio de dar coesão ao PSDB.
As duas vitórias da semana contrastam com um período político difícil vivido por Aécio desde maio de 2017, quando foi citado na delação premiada de Joesley Batista, dono da JBS. Apesar de não ter sido condenado, o mineiro foi alvo de pelo menos nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) desde então.
Um desses casos evoluiu e transformou o mineiro em réu, que é o que trata do empréstimo de R$ 2 milhões pedido pelo tucano para bancar sua defesa na Lava Jato.
Com uma trajetória política em ascensão, passando pelos postos de presidente da Câmara, governador de Minas Gerais, senador e candidato à Presidência, em menos de 20 anos, o episódio narrado pelo dono da JBS impactou os rumos da carreira do político mineiro.
Dos mais de 51 milhões de votos recebidos em 2014 na eleição presidencial, o capital eleitoral de Aécio minguou quatro anos depois para pouco mais de 100 mil votos, na eleição de 2018. Sem expectativa de conquistar a vaga no Senado, Aécio optou por uma vaga na Câmara, ficando em 19º lugar no estado.
De acordo com um deputado do PSDB ouvido pelo Congresso em Foco, Aécio é um “animal político muito capaz” e ganha força dentro da sigla com a eleição do seu aliado para a liderança da legenda na Câmara.
A aproximação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também é citada como fator para entender a aprovação da PEC 48/2019, que retira a necessidade da Caixa Econômica Federal celebrar contratos e facilita repasses para municípios. A medida foi aprovada a tempo das eleições municipais de 2020.
Aécio foi o relator da matéria em uma comissão especial na Câmara. Mesmo após terminada a análise pelos deputados, o tucano continuou na articulação e se reuniu mais de uma vez com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Durante a cerimômia de promulgação da PEC, Aécio participou e discursou representando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estava na Europa.
Essa foi a primeira iniciativa de destaque do tucano desde que saiu do Senado e assumiu o mandato como deputado federal em 2019. Aécio era alvo de um processo interno dentro do PSDB que previa sua expulsão do partido, mas conseguiu anular a representação por ampla vantagem de votos.
A proposta relatada por Aécio é de de autoria da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), que organizou a PEC quando era senadora em 2015.
Entre as mudanças feitas por Aécio na PEC original de Gleisi estão restrições aos repasses feitos por meio de títulos de doação, como a proibição de que o dinheiro seja usado para despesas com funcionários.
O tucano usou a relatoria com um trunfo político em sua base eleitoral, em Minas Gerais. Ele promoveu eventos com prefeitos de cidades mineiras para apresentar a iniciativa, que facilita a transferência de verbas para os municípios.
Alvo de pedido de expulsão
O movimento para expulsar Aécio do PSDB foi iniciado por João Doria, que quer expurgar da legenda quadros envolvidos em denúncias de corrupção. Doria queria usar essas ações como trunfo para uma candidatura presidencial em 2022.
No dia 21 de agosto, quando o pedido de expulsão foi arquivado, o ex-governador mineiro disse que havia uma intenção de reforçar a candidatura de Doria ao Planalto em 2022:
“Claramente com uma percepção eleitoral. O partido simplesmente disse que aqui existem regras e essas regras que vão fortalecer qualquer que seja o candidato do partido. O governador Doria tem qualidades. Obviamente que é um projeto ainda em construção, vai passar substancialmente pelo êxito de sua administração em São Paulo pela qual todos nós torcemos”, afirmou Aécio.
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Contra PT e Bolsonaro
De postura comedida durante a maior parte deste ano, o tucano vem nas últimas semanas se posicionando tanto contra o governo de Jair Bolsonaro quanto contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele criticou a ideia do governo federal de extinguir municípios com menos de 5 mil habitantes e que não tenham pelo menos 10% de receitas próprias.
“É extremamente simplista a proposta do governo de extinção de 1254 municípios do país. Minas Gerais, pelos critério definidos, perderia mais de 200. A população dos municípios continuaria viver nessas comunidades passando a enfrentar maior dificuldade no acesso a serviços básicos”, disse em texto publicado nas redes sociais.
O tucano cobra que seja criado pelo governo um plano de fomento e regras tributárias diferenciadas para as cidades. “Extinguir os municípios é mera ilusão. Os problemas não serão extintos”, declarou.
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No dia 11 de novembro, ao comentar a soltura do ex-presidente Lula, o mineiro pregou uma união de políticos não identificados nem com o PT, nem com Bolsonaro.
“O radicalismo se retroalimenta. Ou o centro toma coragem e reage, ou o Brasil vai sofrer mais do que poderia imaginar”, disse ao jornal Folha de São Paulo.
Aécio foi escolhido relator da PEC que prevê transferências diretas da União para estados e municípios após garantir a permanência no PSDB e deixar claro que tem o apoio da maioria dos colegas para se manter no partido.
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