Tales Faria*
Este artigo chegou ao site com dois dias de atraso. Eu havia mandado um outro texto dizendo que simplesmente me recusava a acreditar na história do Dossiê Freud. Desculpem a imodéstia, mas o artigo era muito bem escrito. Falava de como meus antepassados sempre viveram na contramão, que minha avó brigou com Carlos Drummond de Andrade e Villa-Lobos e que eu também não tinha medo de andar na contramão. Portanto, não ia embarcar nessa onda capitaneada pelos conservadores.
Enfim, dizia que eu simplesmente me recusava a acreditar numa história mirabolante como esta: o comando da campanha petista, com a vitória assegurada, resolveu gastar uma baba para produzir um dossiê contra o tucano José Serra; algum gênio armou contato com os Vedoins – faladores profissionais que vivem em regime de delação remunerada, digo, premiada – e mandou para as negociações simplesmente o segurança do presidente da República. Não dá ara acreditar! Aliás, até agora tenho dificuldade de acreditar no nome do sujeito: Freud. É que minha mulher é psicanalista e, por conta disso, aprendi a nutrir um certo respeito pelo nome.
Fiz o artigo, enviei para este Congresso em Foco e, orgulhoso, mostrei ao pessoal mais íntimo. Depois fui navegar na internet. Aí apareceu quem era o tal de Osvaldo que o noticiário vinha apontando como misterioso negociador do dossiê: é o Bargas. Puxei pela memória: Oswaldo Bargas, Ministério do Trabalho… Sim! Almocei com o sujeito uma vez no Piantella: secretário-executivo do Ministério do Trabalho. Ele contou como era importante, amigo íntimo do presidente. Não tinha sido indicado para o cargo pelo então poderoso José Dirceu, nem pelos ministros da pasta, os também poderosos Jacques Wagner e Ricardo Berzoini, mas sim por seu velho amigo de luta sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Tratava-se de Oswaldo Bargas, pouco conhecido do público, mas um homem importantíssimo na Esplanada dos Ministérios, com linha direta com o presidente Lula, responsável, por exemplo, pelos andares e desandares das reformas trabalhista e sindical. Oswaldo Bargas…
Sou um otário! Não é que eu escrevi um artigo apostando todas as minhas fichas na tese de que essa turma tinha um mínimo de inteligência? Telefonei rapidamente para o Congresso em Foco. Ainda bem que o Sylvio Costa (diretor deste site) não tinha posto o artigo no ar. Condescendente, ele entendeu meu desespero e tirou aquela bobagem da lista de futuras publicações. Prometi mandar outro rapidamente. Este mesmo que você, leitor, teve a paciência de ler até aqui. Ei-lo: uma expiação pelo pecado da inocência. Um pecado mortal, em se tratando de jornalistas.
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