O sexto aniversário do 11 de setembro nos convida mais uma vez a refletir sobre seu significado e seus desdobramentos na cena mundial, começando com uma analogia que, naturalmente, já ocorreu a muita gente: numa gestão tão insipidamente venal como a de Bush filho, coincidindo com uma crise de popularidade e credibilidade imperiais dentro e fora dos Estados Unidos, o ataque às Torres Gêmeas literalmente caiu do céu, com o perdão do péssimo trocadilho, assim como o providencial incêndio ao prédio do Parlamento alemão em fevereiro de 1933 serviu de pretexto a Hitler para simultaneamente culpar os comunistas (eliminando assim os grupos de oposição) e aprovar leis de restrição aos direitos civis, impor censura à imprensa e extinguir os sindicatos
Para o filósofo esloveno, Slavoj Zizek, o resultado de 11 de setembro é o fortalecimento inédito da hegemonia americana. A Europa sucumbiu diante de uma espécie de chantagem ideológico-política dos EUA: "Não são mais escolhas econômicas ou políticas que estão em jogo agora, mas nossa própria sobrevivência e, na guerra contra o terrorismo, vocês ou estão conosco ou contra nós". É aqui, nesse ponto em que a referência à simples sobrevivência entra como a legitimação última, que nos vemos lidando com a ideologia política em toda sua pureza.
Falamos que nos "sentimos livres" ocamente, apenas porque nos falta a própria linguagem na qual poderíamos formular nossa ausência de liberdade. Essa ausência significa, hoje, que os termos que usamos para designar o conflito atual – "guerra ao terror", "direitos humanos", etc. – são termos falsos que, em lugar de nos ajudar a refletir sobre a situação, confundem a percepção que temos dela. Ou seja, nossas próprias "liberdades" servem para mascarar e sustentar nossa ausência mais profunda de liberdade. A mensagem básica da mídia é a seguinte: os joguinhos fáceis já terminaram e, agora, todos devem tomar partido (contra ou a favor do terrorismo). E, como ninguém é abertamente a favor dele, isso significa que a própria dúvida em si, a simples adoção de uma atitude de questionamento, é denunciada como apoio disfarçado ao terrorismo.[1]
A propósito, Arantes[2] observa que nas primeiras semanas depois do 11 de setembro começam a surgir nas colunas da imprensa norte-americana insinuações sobre a “reavaliação de antigas técnicas de extração de informação”. Tortura,
E aqui, o uso da palavra “pensar” é pura força de expressão, pois o novo estado de sítio, incrementado pós-11 de setembro, não é apenas mera coação física, mas um arranjo mental destinado justamente a abolir o simples ato de pensar, diz ele atribuindo a Slavoj Zizek, citado anteriormente, o pioneirismo em chamar a atenção para a obscenidade dessas declarações no artigo “A terceirização da tortura” (Folha de S.Paulo, 16/01/2001).
A coisa funciona assim, segundo o articulista do Newsweek: “Não podemos legalizar a tortura; é contra os valores norte-americanos. Teremos de transferir certos suspeitos para nossos aliados menos escrupulosos”. Ou seja, assim como o capital reinventou em sua borda colonial a escravidão moderna, pode-se dizer que o sistema imperial está inaugurando uma nova divisão internacional do trabalho da tortura.
Ou melhor, um sistema de subcontratações múltiplas, operando em rede segundo Zizek: o capitalismo depende cada vez mais da terceirização. Em vez de possuir diretamente as capacidades produtivas, uma empresa norte-americana contrata outra do Terceiro Mundo para fazer o trabalh
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