Antonio Vital |
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Ninguém aposta um centavo, em Brasília, pela permanência do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, no cargo que ocupava, até uma semana atrás, com tanta desenvoltura e prazer. Não interessa mais, a essa altura, se Waldomiro Diniz usava o Palácio do Planalto como escritório particular para conciliar interesses milionários da jogatina nacional com projetos e licitações do governo. O que importa é que Waldomiro foi posto ali para fazer o que sempre fez, aliás com muita competência: lobby. Colocar um lobista de primeiro escalão em um cargo estratégico é apenas mais uma demonstração do pragmatismo de Dirceu. O problema é que este mesmo pragmatismo, que já rendeu a ruptura do PT com muitas de suas bandeiras históricas, agora está cobrando seu preço. Publicidade
O perfil de Waldomiro cabia perfeitamente em suas funções e foi determinante, por exemplo, para a aprovação das reformas constitucionais no ano passado. Publicidade
O comprido e engomado auxiliar de Dirceu estava presente em todas as votações importantes. Dialogava de igual para igual com os líderes encarregados das negociações. Ou estava com o deputado Professor Luizinho ou com o senador Mercadante. Tinha poder de aceitar ou não, de pechinchar e de oferecer contrapartidas em troca de votos. Sempre educado, sempre discreto. Waldomiro falava baixo, ao pé do ouvido do interlocutor, hábito antigo de quem está acostumado a lidar com segredos. Quando queria mencionar algo importante e comprometedor, o fazia por escrito, na primeira folha de papel à mão. PublicidadeWaldomiro Diniz tem o figurino, a tarimba e a natureza do lobista. E, até o episódio Carlinhos Cacheira, ostentava no currículo uma respeitável folha de serviços prestados ao PT. O que surpreendeu quem o conhece foi a diferença entre o que a câmera de TV captou e a imagem que passava. Waldomiro, no período em que fazia assessoria parlamentar para o governo de Cristovam Buarque, em Brasília, vivia em constante aperto financeiro. Morava em um apartamento funcional do governo do Distrito Federal e não era segredo que passou por séria crise financeira depois que o PT perdeu as eleições para Joaquim Roriz. A ida para o Rio de Janeiro, a convite de Garotinho, pareceu salvá-lo do buraco. A relação com o casal Garotinho, aliás, foi pouco explorada até agora. Waldomiro cuidava dos interesses do governo Garotinho em Brasília. Ia pegar o governador no aeroporto, acompanhava-o em visitas ao Congresso ou a ministros, atrás de verbas. A confiança era tamanha que depois foi presidir a Loterj, mesmo quando Garotinho rompeu com o PT. Waldomiro sabe das coisas. O governo tem toda razão em querer sepultar qualquer CPI. O ex-assessor de Dirceu não demonstra ter preparo emocional suficiente para suportar um interrogatório duro, com provas e evidências. Vai abrir o bico. Melhor faria o PT se tentasse, enquanto é tempo, resgatar o pouco que resta das velhas bandeiras sepultadas pelo pragmatismo da era Dirceu antes que isso aconteça. |
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