Desde já estamos vendo pelas redes sociais muitas articulações para uma nova rodada de manifestações contra a presidente e o seu partido, a princípio marcadas para o próximo dia 16 de agosto.
E, desde já, dizemos: muita calma nessa hora. Ainda que o ato de manifestar-se seja um dos pilares da cidadania atuante, o simples ir às ruas e bradar gritos de guerra e palavras de ordem não vai produzir o efeito esperado por todos. Principalmente se o objetivo for o fortalecimento das instituições, o respeito aos ritos processuais do Direito, a difusão de conceitos e valores fundamentais para a formação cidadã e por aí vai.
Espera-se o quê com a movimentação? Conscientizar as pessoas para os imbroglios envolvendo políticos influentes e empresários corruptos? Isso o atual denuncismo da mídia de massa já faz com esmero. Marcar posição contra o desempenho do governo federal? As pesquisas já demonstram isso com clareza cristalina. Ou tentar algum tipo de solução extrajudicial que não virá e somente fará reforçar no imaginário social o sentimento de que “não tem como mudar tudo isso que está aí“?
Somente em fins de agosto o Tribunal de Contas da União (TCU) emitirá seu parecer sobre a legalidade das contas de 2014 do governo federal e a sua “contabilidade criativa”, conhecidas como “pedaladas fiscais”. Antes disso, e ressalvando que mesmo se o parecer for contrário ao governo ainda assim a matéria deverá ser decidida em plenário na Câmara dos Deputados, nada deve acontecer.
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Além desta seara, o Tribunal Superior Eleitoral ainda decidirá sobre a cassação do diploma da chapa Dilma/Temer, pedida por partidos de oposição sob a alegação de que a campanha eleitoral da dupla foi irrigada com dinheiro ilegal. O que já está em processo final de investigação pela Polícia Federal e Ministério Público, no âmbito da Operação Lava Jato.
Em ambos os caminhos, a distância institucional ‑ democrática e republicana ‑ a ser percorrida ainda é longa e com certeza vai ultrapassar em muito o dia 16 de agosto.
Nas redes sociais, já podemos assistir a uma profusão de vídeos convocatórios, alguns deles se apropriando de falas que celebridades globais gravaram quando das manifestações de março último. Vários deles apócrifos ou assinados por grupos cujos líderes não “mostram a cara”, o que compromete ainda mais sua credibilidade. Vale lembrar que o artigo 5º da Constituição Cidadã, em seu inciso IV, estabelece sem sombra de dúvida que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato“.
Um duplo problema, pois, afora a questionável oportunidade do evento, é de se avaliar o quanto realmente mobilizam a sociedade mensagens de atores e atrizes inseridos na grande máquina de corrupção de valores que se transformou a mídia de entretenimento de hoje, capitaneada por produtores de conteúdo que não escondem o viés socializante de seu pensamento.
Portanto, não se justifica colocar o carro à frente dos bois. O Brasil dá mostras de que as instituições estão funcionando e bem, apesar das tentativas em contrário. No que concerne ao caso das investigações envolvendo o atual partido no poder, seus aliados políticos e empresários, a Justiça de primeira instância tem trabalhado de maneira irretocável, em conjunto com Polícia Federal, Ministério Público e auditores de controle externo.
Manifestar e sair às ruas, sim. Pressionar por uma representação política transparente e ética, sim. Incentivar outros cidadãos a fazer o mesmo, sim.
Agora, tentar acelerar o processo quando tudo está correndo a seu tempo, definitivamente, não. A pressa pode comprometer o devido processo legal. Afinal, estamos falando nada mais, nada menos, que da Presidência da República e as ações precisam de total consistência!
Muita calma nessa hora.
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