Esta última quinta-feira, 10 de setembro de 2015, já pode ser considerada um marco na história política do Brasil. Um dia depois da queda do grau de investimento do país, pela conceituada S&P, deputados deixaram os pudores de lado e começaram a falar abertamente no impeachment da presidente Dilma. A senha foi dada por um fundador do PT, o jurista Helio Bicudo, que protocolou um pedido de impedimento na Câmara dos Deputados.
Pois nesta quinta-feira foi lançado no mítico Salão Verde da Câmara o chamado Movimento Parlamentar Pró-Impeachment, capitaneado por parlamentares da oposição, mas também integrado por membros da base aliada do governo. Ao todo, 50 nomes subscrevem o movimento, que pretende conseguir apoio da sociedade civil.
Para tanto, até um site foi criado, o www.proimpeachment.com.br. Nele, qualquer cidadão pode assinar uma petição em apoio à ideia, conhecer a íntegra do texto de Helio Bicudo e compartilhar com seus contatos nas redes sociais.
O objetivo é mostrar a outros parlamentares ainda hesitantes que a sociedade não suporta mais pedaladas, meias verdades, contabilidades criativas, inchaço da máquina pública, aparelhamento nas instituições de Estado, aumento de impostos, serviços públicos ineficientes, ingerência do Estado na vida dos cidadãos e tudo o mais que se vem denunciando há tantos anos.
Acabou. Pede pra descer, dona.
Não deverá ser difícil demonstrar aos indecisos o que a sociedade pensa, mesmo que eles não tenham entendido o recado depois tantas e explícitas manifestações nas ruas. Com apenas algumas horas no ar, a petição pró-impeachment já contabilizava mais de 450 mil assinaturas. E isso antes da grande mídia se atentar para o que estava acontecendo e começar a noticiar a iniciativa.
Para Dilma e seu entorno, a perda do grau de investimento do Brasil pode muito bem ter selado o seu destino. Mas ainda temos um Congresso Nacional não menos enrolado com a Justiça. O próprio Congresso em Foco vem se debruçando sobre essa questão faz tempo e, na última estimativa, revelou que cerca de 26% dos deputados federais da nova legislatura são suspeitos de participação em crimes. No Senado, o índice já se aproxima de 40% de parlamentares respondendo a ações do Supremo Tribunal Federal. E o número pode ainda ser maior conforme novos dados vão sendo contabilizados.
A saída de Dilma é vista como um alívio na pressão político-econômica, mas precisamos compreender que não existe mágica. O que deve existir é responsabilidade política. Os partidos políticos precisam fazer o seu dever de casa na hora de escolher e apresentar seus candidatos aos cidadãos eleitores. Os cidadãos, por sua vez, devem compreender que o seu maior dever de cidadania é uma permanente vigilância sobre os mandatos, os governos e os orçamentos. Afinal, na qualidade de pagadores de impostos, somos nós quem bancamos o sistema. Somos os verdadeiros patrões, para o bem ou para o mal.
Na qualidade de donos da “casa”, devemos lutar por uma reforma realmente cidadã, e que contemple não apenas as questões meramente eleitorais. Propostas existem, como mostra o nosso programa Agentes de Cidadania, e algumas até já estão sendo debatidas no Congresso. Pois vamos participar e discuti-las a fundo.
Até mesmo para não termos que passar daqui a pouco por um terceiro processo de impeachment – estamos em vias de começar o segundo, em pouco mais de 30 anos – coisa traumatizante até mesmo para democracias mais consolidadas que a nossa.
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