ÉPOCA
O segredo das mulheres felizes
Corpo: ignore a ditadura da perfeição. Trabalho: invista na carreira sem culpa. Sexo: marque hora se for preciso. Família: lugar de homem é na cozinha. Entrevista: “O feminismo mentiu para as mulheres”, diz Camile Paglia.
Exclusivo: os bastidores do tráfico de influência na Receita Federal
Um auditor que se diz amigo do secretário da Receita Federal foi demitido por tráfico de influência. Uma de suas ações pode elevar o preço da bebida mais tradicional do Brasil
O preço do cafezinho deve subir. E logo. Pouco mais de 3%. Não se trata de aumento de demanda, problemas na safra ou pressão inflacionária. A causa pode estar relacionada a uma das mais resistentes pragas que habitam o poder público brasileiro: o tráfico de influência. Onde? Nada menos que na Receita Federal. Documentos obtidos com exclusividade por ÉPOCA descrevem em detalhes as irregularidades cometidas dentro do órgão responsável pela arrecadação de tributos no país. O autor das irregularidades, Pedro dos Santos Anceles, não está mais nos quadros da Receita. Ex-auditor fiscal, ele foi demitido no final de 2011 por ter repassado a empresas privadas informações restritas do Fisco. Sem apoio interno, Anceles talvez não tivesse conseguido agir com tamanha liberdade. Ele vangloriava-se de ser próximo do próprio secretário do Fisco, Carlos Alberto Barreto. “Nós somos amigos”, disse ele a ÉPOCA. “Ele é uma pessoa bem acessível.”
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A ordem para que Anceles fosse demitido por improbidade administrativa partiu do ministro Guido Mantega (Fazenda), em novembro. A decisão teve por base um relatório da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que recomendou a exclusão de Anceles do serviço público. O documento descreve um festival de trambiques. Anceles deu palestras e cursos a seus clientes particulares – e foi remunerado por isso –, faltou ao trabalho para prestar consultorias a empresas privadas e participou, como julgador da Receita, do julgamento de um recurso movido por um de seus próprios clientes contra multas do Fisco. O processo contra as práticas de Anceles foi aberto em agosto de 2009 pela Corregedoria da Receita. O período investigado compreende os anos de 2006 e 2007. Nessa época, o superior hierárquico de Anceles era Carlos Alberto Barre-to, que ocupava o cargo de secretário adjunto da Receita. Da abertura do processo contra Anceles até o início da gestão de Barreto como o número um do Fisco, em janeiro de 2011, foi coletado vasto material contra o então auditor. Diante desse quadro, era de esperar que Anceles fosse afastado de suas funções enquanto as investigações não fossem concluídas. Mas ocorreu o contrário: ele foi transferido para uma função mais importante.
O trabalho dos investigadores do Fisco começou a partir da denúncia de outro órgão federal, a Controladoria-Geral da União (CGU). Em janeiro de 2008, técnicos da CGU identificaram que Anceles constava como sócio-administrador de uma empresa pri-vada chamada A Ensinante Ltda. Ele usava a empresa como uma espécie de biombo para repassar informações restritas do Fisco a seus clientes particulares, de acordo com a Corregedoria da Receita. Um dos casos mais graves ocorreu em 2007 e envolveu um fabricante de refrigerantes do Rio Grande do Sul, a CVI Refrigerante Ltda. A empresa fora autuada pelo Fisco em três processos distintos por sonegação de tributos, incluindo PIS e Cofins – contribuições sociais pagas por quase todas as empresas de médio e grande porte. Se-gundo a corregedoria, Anceles prestou consultoria para a CVI Refrigerante. “Constata-se que a natureza do trabalho prestado é in-compatível com o cargo de auditor fiscal e de delegado de julgamento, haja vista que foi verdadeira consultoria tributária, atividade que configura patente conflito de interesses”, escreveram os procuradores da PGFN. Nessa época, Anceles era delegado de julgamento da Receita no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Num dos processos, em que a CVI Refrigerante recorreu da autuação do Fisco, a raposa foi convocada para cuidar do galinheiro. Na primeira instância administrativa, dentro da própria Receita, o caso foi parar justamente nas mãos de Anceles, como presidente da 1ª Turma de Julgamento da Delegacia da Receita em Santa Maria.
Educação: Como o ministro Aloízio Mercadante se tornou doutor
“Se fosse pelos critérios de antigamente, seria aprovado com distinção e louvor”, disse ao novo doutor em ciências econômicas o então diretor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mariano Francisco Laplane. Era sexta-feira, 17 de dezembro de 2010. Umas 150 pessoas lotavam o auditório do IE, no campus de Barão Geraldo, em Campinas, para assistir à defesa de tese do então senador, já indicado ministro da Ciência e Tecnologia do governo Dilma Rousseff, e hoje ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Antes de conceder-lhe o título de doutor, a banca – formada pelos professores doutores Delfim Netto, Luiz Carlos Bresser Pereira, Ricardo Abramovay e João Manuel Cardoso de Mello – o arguiu por três horas e meia.
A tese, de 537 páginas, chama-se As bases do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula (2003-2010). Nas palavras do autor: “O ponto fulcral desta tese é que o Brasil, ao longo do governo Lula, começou a construir um Novo Desenvolvimentismo, um novo padrão de desenvolvimento substancialmente distinto tanto do neoliberalismo quanto do antigo nacional-desenvolvimentismo predominante no passado”.
O sociólogo Mariano Laplane foi um dos principais responsáveis pela volta de Mercadante à Unicamp, como aluno de pós-graduação, mais de uma década depois de ele ter abandonado os estudos acadêmicos em prol da política. Sua readmissão foi aceita em março de 2010, a pedido de Laplane, por uma comissão de pós-graduação do Instituto de Economia. Professor licenciado do IE e amigo de Laplane, Mercadante era senador, líder da bancada do PT no Senado e candidato a governador de São Paulo. Estava afastado da universidade havia 12 anos – mais precisamente desde 1998, quando, eleito para o segundo mandato de deputado federal, abandonara um doutorado iniciado em 1995, sob a orientação da professora Maria da Conceição Tavares. Em 2001, quando venceu o prazo de seis anos para concluí-lo, sua matrícula foi cancelada. A Unicamp permite, excepcionalmente, que qualquer pós-graduando nessa condição possa ser readmitido, desde que cumpra regras regimentais específicas.
Convidadíssima para a banca, Maria da Conceição, a primeira orientadora do doutorado de Mercadante, não foi. Mandou uma carta, que Laplane leu: “Estou prostrada com uma forte gripe. Você não sabe como isso me dói, pois o considero meu discípulo e amigo dileto. Diga à banca que acho a tese muito boa e informativa, além de considerar extremamente importante o debate sobre o novo estilo de desenvolvimento, com eixo no social”. Substituiu-a, de última hora, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Abramovay. É outro amigo de Mercadante e pai do advogado Pedro Abramovay, que comandou a Secretaria Nacional Antidrogas no governo Lula e foi, mais de uma vez, ministro interino da Justiça.
Naquela sexta-feira, o senador e futuro ministro candidato a doutor ocupava uma mesa lateral, à direita da comissão examinadora. Usava bigodão, blazer azul-marinho e camisa branca, sem gravata. Aos 56 anos, parecia feliz, confortável e tranquilo. Cada membro da banca tinha o seu massudo exemplar de As bases do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula (2003-2010). Faltavam 13 dias para o segundo governo Lula acabar.
Na hora da arguição, Delfim Netto, por ser o mais velho, foi o primeiro a quem Laplane passou a palavra. Professor doutor aposentado da prestigiada Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Delfim, ministro da Fazenda durante a ditadura, tem se mostrado um fã público dos governos petistas, interlocutor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Guido Mantega – além de um velho amigo de Mercadante, desses de dar conselhos políticos em momentos cruciais. Depois dos elogios de praxe, como “profissional absolutamente brilhante”, Delfim atacou a ideia central da tese: que os governos Lula representaram uma mudança no paradigma de desenvolvimento do Brasil. “O que o Lula fez, na verdade, não foi uma mudança, não foi a construção de um novo paradigma”, disse Delfim. “Ele simplesmente aprofundou aquilo que precisa ser aprofundado e que já está dentro da Constituição de 1988. Foi muito bem feito e não vou discutir, porque nunca brigo com os fatos.”
Delfim estava afiado. Ao relativizar a afirmação, na tese, de que o governo Fernando Henrique Cardoso se enquadrava no conjunto de ideias econômicas de matriz liberal que ficaram conhecidas, nos anos 1980 e 1990, como Consenso de Washington, ele provocou gargalhadas: “O governo Fernando Henrique é uma coisa muito simples: ele sabia que 30% dos problemas são insolúveis e que 70% o tempo resolve. Não tem nada de Consenso de Washington”. Mais adiante, ao usar um proposital “nós” para referir-se aos governos petistas, Delfim deu uma pitoresca explicação: “É porque tenho uma solidariedade tribal com o Lula, absolutamente inexplicável, mas é uma coisa profunda”. Mais risadas. O proselitismo militante de Mercadante foi caracterizado por Delfim do seguinte modo: “O nosso navio estava no mar. O mar subiu e o navio subiu junto. De vez em quando, o governo pensa que foi ele que elevou o nível do mar”. Gargalhadas. Mercadante registrou, na resposta a Delfim, “a ironia que é impossível não admirar”.a
Genoino pode voltar à Câmara
Ganhou nova vida o projeto para arranjar uma vaga na Câmara dos Deputados para o ex-presidente do PT José Genoino. Suplente de deputado por São Paulo, ele espera a vez de assumir um mandato como assessor do Ministério da Defesa. As mudanças no ministério abrem duas oportunidades para Genoino. A primeira: entrar na vaga de Vicentinho, que pode ser agraciado com o Ministério da Igualdade Racial. A segunda: herdar a cadeira de Paulo Teixeira, cotado para a Cultura e o Desenvolvimento Agrário.
No banco de reserva
A petista Marta Suplicy não jogou a toalha. Ainda diz a seus colegas de Senado que poderá disputar a prefeitura de São Paulo contra o tucano José Serra. Como, se seu partido já lançou outro candidato para a disputa? Marta acredita que o ex-ministro da Educação Fernando Haddad pode desistir da campanha. Nesse caso, seria ela a aposta óbvia dos petistas.
José Serra: De olho em São Paulo e no Brasil
Conhecido pela falta de pontualidade, José Serra parecia mudado. O ex-governador paulista chegou cinco minutos antes do programado à casa na Zona Sul de São Paulo onde anunciou, na quinta-feira, sua pré-candidatura à prefeitura da capital. Trajava calça bege, blazer azul e um sorriso amarelo. Num espaço decorado por um painel com sua foto e os dizeres “Serra Presidente do Brasil”, remanescentes da disputa de 2010, ele passou uma hora explicando por que se lançava ao pleito municipal. “Sou candidato por necessidade e gosto”, afirmou. Será a quarta campanha de José Serra para prefeito paulistano. Na única vez que venceu, em 2004, ficou apenas um ano e três meses no cargo.
Uma semana antes do Carnaval, ele evitava o assunto. “Serra escorraçava qualquer um que aventasse essa possibilidade”, diz um aliado. “Ele estava totalmente voltado para o projeto nacional, uma nova candidatura a presidente.” Embora Serra argumente que tem “prazer em administrar”, a necessidade foi o fator definitivo para empurrá-lo à disputa. Sua resistência a oferecer seu nome como candidato levou o PSDB a um processo de prévias. Os quatro postulantes tucanos – Bruno Covas, Andrea Matarazzo, José Aníbal e Ricardo Trípoli – tinham pouca chance de ganhar e se mostraram incapazes de atrair partidos para formar uma coligação capaz de enfrentar o candidato apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT-SP). Além do distanciamento de antigos aliados, como DEM e PPS, os tucanos ficaram alarmados com o namoro com ares de noivado que o prefeito Gilberto Kassab (PSD), afilhado político de Serra, cultivou com Lula e o PT. Lideranças nacionais, estaduais e municipais do PSDB, capitaneadas pelo governador Geraldo Alckmin, empreenderam uma romaria ao escritório de Serra. “Se ele não se lançasse e o partido perdesse a disputa, ele seria responsabilizado pela derrota”, diz um tucano graduado.
Hora de colocar ordem na casa
Bem-sucedido na condução da economia em meio à crise internacional, Mantega enfrenta desgaste por não controlar seus subordinados
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, poderia estar no nirvana. Há seis anos no cargo, Mantega acumulou força e prestígio ao atravessar – até agora – de forma bem-sucedida a maior crise da história recente do capitalismo mundial, desencadeada pela quebra do banco Lehman Brothers em 2008. No ano passado, Mantega pilotou uma manobra de pouso suave da economia brasileira, que afastou os riscos de um superaquecimento e da volta da espiral inflacionária e iniciou um processo de redução das altas taxas de juros. Apesar disso, Mantega vem, em 2012, acumulando problemas no Ministério da Fazenda – e eles não estão relacionados à excessiva valorização do real ou aos efeitos da crise do euro. O mais explosivo deles está relacionado a uma disputa interna por poder em duas instituições, o Banco do Brasil (BB) e a Previ (o fundo de pensão dos funcionários do BB), que, por ser abarrotadas de recursos, só deveriam ser fontes de boas notícias para o governo.
A disputa por poder – que se arrasta há algum tempo entre facções lideradas pelo presidente do Banco do Brasil, Adelmir Bendine, e o presidente da Previ, Ricardo Flores – transbordou para as páginas dos jornais e ganhou contornos de uma briga de rua, com dossiês e outros golpes sujos. Na terça-feira, o jornal Folha de S.Paulo publicou informações bancárias sigilosas do ex-vice-presidente de Negócios Internacionais do BB Allan Toledo. Segundo investigação atribuída ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Toledo recebeu quase R$ 1 milhão provenientes de uma conta de uma aposentada em 2011. A reportagem sugeria que a aposentada fora intermediária no repasse de recursos de um sócio de um dos donos da Marfrig, frigorífico que contraiu empréstimos no Banco do Brasil e onde trabalha um irmão de Toledo.
ISTOÉ
Superalunos
Eles não são gênios, mas conseguiram entrar nas melhores universidades do Brasil e do exterior. Saiba como esses jovens chegaram lá.
A farsa na morte de Marighella
“Eu vi os policiais colocando o corpo no banco de trás do carro”, revela o fotógrafo que registrou a imagem do guerrilheiro executado. Essa testemunha desmancha a versão dos militares para esconder como foi abatido o inimigo número 1 da ditadura
A primeira foto acima, à esquerda, correu o mundo depois da noite de 4 de novembro de 1969. Ela era vista como prova da iminente vitória do governo contra a oposição armada à ditadura militar brasileira. Carlos Marighella, 58 anos, o terrorista mais caçado do País, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização responsável por dezenas de assaltos a bancos e explosões de bombas, estava morto. Amigo de Fidel Castro, celebrado pela Europa como principal comandante da guerra revolucionária na América do Sul, Marighella tinha levado quatro tiros numa emboscada policial na alameda Casa Branca, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Segundo a versão dos militares, o guerrilheiro fora atraído para um “ponto” com religiosos dominicanos simpatizantes da ALN e trocara tiros com os agentes que varejavam o local do encontro. Um conceituado fotógrafo da revista “Manchete”, Sérgio Vital Tafner Jorge, então com 33 anos, fez o clique da câmara rolleiflex que registrou Marighella estirado no banco traseiro do fusca dos dominicanos. Barriga à mostra, calça aberta, dois filetes de sangue escorrendo pelo rosto.
“Foi tudo uma farsa”, revela agora à ISTOÉ Sérgio Jorge, que está com 75 anos. “Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”. Naquela noite, Jorge estava no Estádio do Pacaembu à espera dos melhores ângulos de um Corinthians x Santos quando ficou sabendo da morte do guerrilheiro. Ele abandonou o estádio antes mesmo de a notícia ser confirmada pelos alto-falantes do Pacaembu e recebida com um urro de comemoração pela torcida. Acompanhado de outros quatro fotógrafos, Jorge chegou à alameda Casa Branca pouco depois das 20 horas. O que ele viu ali – e foi proibido de documentar – era diferente do que aparece na famosa foto estampada depois nas páginas da “Manchete” e em dezenas de outras publicações. Jorge está decidido a contar para a Comissão da Verdade, que o governo federal vai instalar no próximo mês, a armação que testemunhou. Já foi pensando nisso que, no mês passado, com a ajuda de um amigo que serviu de modelo e um fusquinha emprestado, Jorge procurou reproduzir numa nova foto exatamente o que presenciou no dia 4 de novembro de 1969. O resultado é a segunda cena da página anteior, à direita: o amigo de Jorge, representando Marighella, ocupa o banco da frente do carro, numa posição distinta daquela que a polícia fez questão de espalhar. Eram os anos de chumbo e havia muita coisa para ser escondida.
Sucatas do tráfico
Bens apreendidos de traficantes, avaliados em R$ 2 bilhões, demoram mais de 14 anos para serem leiloados. O desperdício prejudica o programa antidrogas do governo
Depositado de forma precária em pátios descobertos de delegacias e galpões improvisados, um patrimônio estimado em cerca de R$ 2 bilhões espera para ir a leilão. São bens apreendidos de traficantes nos últimos anos e que deveriam ser vendidos para abastecer o Fundo Nacional Antidrogas, mas, em vez disso, se deterioram à espera de decisões judiciais liberando a venda. As falhas dos órgãos públicos responsáveis por promover os leilões elevam para mais de 14 anos a média de tempo de espera entre a apreensão e a alienação dos bens. E esse prazo alentado consegue transformar belas mansões, veículos de luxo e aeronaves em sucatas sem valor de mercado.
O retrato fiel da deterioração dos bens que deveriam reforçar o patrimônio público foi mostrado, em detalhes, por duas auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) concluídas no início de fevereiro. “Os bens ficam estocados e armazenados durante longo período, principalmente em pátios a céu aberto, aguardando o trânsito em julgado da sentença e o leilão. Isso acarreta uma perda no valor econômico, causando prejuízo para a União”, ressalta o ministro Aroldo Cedraz, responsável pelo estudo.
A busca pelos gargalos nesse processo mostra um emaranhado de problemas e expõe a dificuldade de sintonia dos órgãos oficiais quando o assunto é a apreensão de bens de traficantes. No Executivo, o entendimento é de que a demora e os prejuízos são causados pelo Judiciário. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, ligada ao Ministério da Justiça, diz que os juízes resistem a autorizar leilões antes do trânsito em julgado dos processos. Uma postura que caminha na contramão da Lei 11.342/2006, que prevê a alienação antecipada dos bens de traficantes e o depósito do resultado em conta judicial até o fim do processo. “O problema é que muitos juízes resistem a liberar a venda antes da condenação final. Então, os bens se deterioram e perdem seu valor. Um carro de R$ 10 mil, por exemplo, não vale mais nada após dez anos”, diz o delegado Silverio de Andrade, diretor da Secretaria de Administração da Polícia Civil do Distrito Federal.
A última tacada de Serra
Quais as razões que levaram o ex-governador a mudar de ideia e concorrer à Prefeitura de São Paulo, numa eleição com ares de disputa nacional em que o futuro da oposição está em jogo
O notívago José Serra começou a trabalhar cedo na última semana. Às 9 horas da manhã da segunda-feira 27, o ex-governador de São Paulo comunicou publicamente o desejo de concorrer à Prefeitura de São Paulo e fez com que a eleição na capital paulista ganhasse de forma irreversível ares de disputa nacional. “Hoje comunicarei por escrito à direção do PSDB de São Paulo minha disposição de disputar”, escreveu em seu perfil no Twitter. A mensagem com menos de 140 caracteres nem parecia ser de autoria da mesma pessoa que, há menos de dois meses, se irritava ao ter seu nome ventilado para concorrer ao pleito deste ano e chegou a comparar a candidatura a um enterro. Serra, porém, com a experiência de quem já concorreu duas vezes à Presidência da República, percebeu a mudança da conjuntura política e passou a vislumbrar no horizonte um cenário tenebroso para ele e para a oposição. Caso não disputasse, assumiria com o PSDB o risco de entregar de bandeja para o PT o principal bunker da oposição. Diante de uma provável derrota na capital paulista, a consequência natural seria a perda do governo de São Paulo, há duas décadas o mais importante posto tucano, e uma nova vitória petista nas eleições presidenciais em 2014. E a força governista, hoje já hegemônica, assistiria ao completo esfacelamento do principal partido oposicionista do País.
Esse entendimento dominou a pauta das conversas mantidas nos últimos dias entre os principais líderes da oposição, a partir da aproximação entre o PT e o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Mas, conforme apurou ISTOÉ com tucanos ligados a Serra, o ex-governador entabulou outros cálculos de cunho estritamente pessoal antes de decidir entrar na disputa, possibilidade considerada, até a segunda-feira 27, morta e enterrada por ele. Serra entendeu que, sem máquina para operar e cargos para oferecer a aliados dentro da sigla, sua força política diminuía com rapidez. Também avaliou que, se não atendesse aos apelos para concorrer, estaria carimbado como elemento desagregador dentro do partido e a porta para uma eventual candidatura presidencial em 2014 ficaria totalmente cerrada para ele. Hoje, com a candidatura a prefeito confirmada, Serra diz manter esse sonho “adormecido”, enquanto o ex-presidente Fernando Henrique aposta que Serra naturalmente retorna ao páreo, caso vença a eleição em São Paulo. Ou seja, o cenário já começa a mudar para ele com o simples anúncio da candidatura e a perspectiva de poder.
Mantega, o pacificador
Ao atuar como bombeiro, ministro da Fazenda contorna a crise que opunha o Banco do Brasil à Previ
Na quarta-feira 29, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de participar de uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, na tarde do dia anterior, entrou em seu gabinete mais apressado do que o usual. Logo que chegou, disparou três telefonemas urgentes. Os primeiros a receber a ligação de Mantega foram o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e o da Previ, Ricardo Flores, que nos últimos dias haviam sido levados ao centro de uma polêmica envolvendo uma disputa política nas duas instituições. O ministro foi claro. Disse a ambos que caberia a eles agir com bom-senso e pôr fim a uma pendenga que se tornava pública e ameaçava atrapalhar o bom desempenho tanto do BB quanto da Previ. Aos interlocutores, Mantega afirmou que não haveria outro caminho que não o da pacificação. A mesma orientação foi transmitida ao vice-presidente da área de governo do BB, Ricardo Oliveira. “Essa situação tem de acabar. A atuação dessas instituições não foi prejudicada até agora. E o governo quer um fim nisso logo”, afirmou o ministro. Mantega costuma falar pelo menos duas vezes por semana com os diretores do Banco do Brasil e da Previ, subordinados a ele. Mas o telefonema da quarta-feira 29 foi diferente. A conversa foi mais rápida que as de costume e nem um pouco técnica. A missão de Mantega era dar um basta à contenda política. E assim o fez, conseguindo dissipar as preocupações do Palácio do Planalto com um possível desgaste tanto do BB como da Previ, instituições estratégicas para a política econômica do governo.
Bendine e Flores chegaram aos cargos que ocupam em razão de competências técnicas. Mas, como ocorre em toda administração pública, a participação de agentes políticos acaba muitas vezes se sobrepondo às questões administrativas quando se trata da ocupação de postos estratégicos. Nesse sentido, as diferenças entre os agentes ligados a Bendine e a Flores não são recentes. Em abril de 2009, quando Antônio de Lima Netto deixou a presidência do BB por resistir à redução dos juros, os dois eram candidatos ao cargo e também Ricardo Oliveira. Com o apoio de Mantega, o presidente Lula optou por Bendine, e escolheu Flores para a presidência da Previ, o maior fundo da América Latina, hoje com patrimônio de R$ 153,8 bilhões. Logo os petistas ligados ao ex-presidente da legenda Ricardo Berzoini se aproximaram de Flores. Oliveira ganhou a vice-presidência de governo do BB, cuja principal atribuição é o lobby no Congresso, e reforçou sua ligação com o secretário da Presidência, Gilberto Carvalho.
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