As intervenções do relator da CPI da Petrobras, deputado Marco Maia (PT-RS), e uma apresentação inicial da presidente da estatal, Graça Foster, ocuparam mais de três horas da reunião da comissão de inquérito desta quarta-feira (11), o primeiro depoimento do colegiado. O relator fez 139 perguntas à comandante da petroleira. Os dois gastaram 44% das sete horas e meia de toda a sessão para apurar supostas irregularidades em compras e obras de refinarias, acusações de suborno de fornecedores e falta de segurança em lançamento de plataformas. A oposição e até mesmo parte da base aliada reclamaram da postura, adotada por Maia e pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Num depoimento que, para Maia, “não trouxe nenhuma novidade”, as perguntas iniciais do relator eram genéricas. Era a quarta aparição de Graça Foster no Congresso para responder a denúncias e ela fez, novamente, uma apresentação de quase uma hora semelhante às outras exibidas anteriormente. A reunião começou às 14h30 e terminou à beira das 22h, quando muitos parlamentares já haviam deixado a sala na ala Nilo Coelho, do Senado, para tentar pegar um avião e voltar para seus estados. Nesta quinta-feira, começa a Copa do Mundo no Brasil, com o jogo da seleção brasileira contra Croácia, em São Paulo.
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O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) condenou a atitude de Vital e Maia. “É uma tentativa do presidente e do relator. Fazer 139 perguntas? Começar questionando ‘quando foi a campanha do ‘o petróleo é nosso’?”, ironizou.
Logo no início, quando Vital do Rêgo explicou que o relator faria 139 perguntas, os parlamentares criticaram. Mas Marco Maia disse que, se alguém quisesse, poderia ir embora porque ele poderia ficar até de madrugada na reunião. “Ele [Marco Maia] disse que era importante ouvir, mas, quando começaram as nossas perguntas, se ausentou por mais de duas horas”, criticou Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), integrante de uma ala mais independente do partido. Para o deputado, tratou-se de “uma estratégia” montada pelo governo. “Não estou aqui como base ou oposição, mas para apurar”, disse Vieira Lima ao site.
Para Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o objetivo foi “esconder a roubalheira da Petrobras”. “É diferente de tudo o que vi em CPI”, afirmou.
Expor tudo
Parlamentares do governo negaram qualquer tentativa de postergar os trabalhos. Eles optaram para expor tudo no início, respondendo a qualquer questionamento, e assim não dar holofotes à oposição. Um efeito colateral disso foi evitar atitudes de ‘show’ da oposição, bate-bocas e situações que trazem relevância e imagens de TV indesejáveis mesmo em um debate morno e com poucas novidades.
O ex-ministro e deputado Antonio Florence (PT-BA) não admitiu nenhuma estratégia, mas disse que, na prática, foi desmontada a intenção da oposição de ganhar protagonismo no primeiro dia de trabalho efetivo na CPI. “Pra quê? Para eles ficarem falando e não ela [Graça Foster]?”, ironizou ele. “É disputa política da oposição.”
De acordo com Marco Maia, não houve nenhuma intenção de atrasar os trabalhos ou esvaziar a reunião. “É preciso investigar. O relator precisa também fazer as perguntas mais chatas e enjoadas e que às vezes não agradam que está no plenário”, afirmou ele ao site.
Para Maia, há um “açodamento” da oposição, que na sua opinião, não quer trabalhar. “Quem entrou pra CPI tem que entrar pra trabalhar. Vai ter que enfrentar três, cinco, dez horas de trabalho. Quem não tiver condições e paciência, que não venha pra CPI.”
“Diferente em tudo”
Na CPI, a presidente da Petrobras, Graça Foster, afirmou que o negócio da compra da refinaria de Pasadena foi “diferente em tudo”. Comprada por US$ 42 milhões de dólares e mais um investimento que resultou em US$ 360 milhões em despesas pela Astra Oil, a unidade de refino acabou sendo adquirida pela petroleira brasileira a um custo de US$ 1,2 bilhão.
Graça Foster disse que uma série de fatores prejudicou esse negócio. Entre eles, o baixo consumo de derivados de óleo, a competição maior do mercado e até a posterior descoberta do pré-sal. Isso porque, segundo ela, a Petrobras teve que reduzir seus investimentos em refino e reforçar o setor de exploração. “É um caso incomum mesmo. Um negócio ruim, ficou ruim, esse é o ponto”, disse ela, repisando declarações prestadas anteriormente aos congressistas.
Vergonha
Graça Foster embargou a voz ao falar do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, que hoje foi preso pela segunda vez na Operação Lava Jato, que investiga lavagem de dinheiro na estatal e em outras organizações. “Envergonha, envergonha com as suspeitas”, disse ela.
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