Ter vencido uma das edições do Big Brother Brasil, o reality show exibido pela TV Globo é apenas um dos capítulos da vida do deputado Jean Willys (Psol-RJ). É assim que ele vê a sua passagem pelo programa, quando dividiu a casa cheia de câmeras com a hoje atriz Grazzi Massafera, entre outros. O deputado diz não ver problemas na associação que as pessoas fazem dele com o programa, mas ressalta que sua história devida mais bem além disso.
Para ele, a constatação feita pelos jornalistas que cobrem o cobrem o Congresso, que, pela segunda vez consecutiva, o colocaram entre os deputados que mais se destacaram no ano, na disputa pelo Prêmio Congresso em Foco é, porém, a melhor evidência de que ele conseguiu ultrapassar a condição de mera celebridade instantânea. Sua atuação em defesa dos direitos humanos e das minorias vem, segundo a sua avaliação, sendo percebida.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com Jean Willys:
Congresso em Foco – Em seu segundo ano de mandato, é a segunda vez que o senhor é indicado pelos jornalistas como um dos melhores parlamentares do ano e como um dos mais atuantes com menos de 45 anos. O que isso significa para o senhor?
Jean Wyllys – Fico superfeliz, porque é uma vitória. No ano passado, na categoria de melhor deputado, perdi para o Chico Alencar, que é um cara maravilhoso e companheiro de bancada. Entre os jovens, perdi para o Lindbergh Farias. São dois políticos veteranos, que têm uma história e base eleitoral constituída. Para mim, eu venci. Este ano, mesmo que não venha a ganhar em alguma categoria, a simples indicação pelos jornalistas que cobrem o Congresso me colocando entre os melhores já é uma vitória. A coisa já poderia se encerrar por aí. Se vencer no voto popular, vai ser uma consagração.
Leia também
Que importância esse tipo de reconhecimento, tanto por parte dos jornalistas quanto dos internautas, tem para um parlamentar?
As pessoas valorizam esse reconhecimento. O público mais qualificado, a população mais atenta à política, que lê mais de uma fonte, me para em aeroportos me parabenizando pelo prêmio. Ainda bem que, ao contrário de muitos parlamentares, não sofro bullying por causa da minha atuação. Esse carinho vem de diferentes classes sociais. Mesmo dos estratos mais pobres da população. Por mais que respeite muito o prêmio, minha atuação não é para receber qualquer premiação, atuo por compromisso ético com o meu eleitorado, que me deu o mandato. A política é tão demonizada que as pessoas se afastam da política. O trabalho do Congresso em Foco é o inverso disso. Tenta valorizar os bons parlamentares e reaproximar as pessoas da política.
O senhor avalia que é ainda mais difícil ser reconhecido por sua atuação parlamentar por ser o primeiro deputado assumidamente homossexual a defender as bandeiras LGBT no Congresso?
O Chico Alencar tem uma pauta e uma imagem com a bandeira da ética. Esse é um tema que cala muito fundo na classe média. Não é por acaso que o Pedro Taques e o Randolfe Rodrigues estão na frente [o primeiro foi indicado para concorrer em quatro categorias, o segundo, em cinco]. Eles combatem a má utilização do dinheiro público. O que faz com que minha indicação seja ainda mais importante, porque trabalho com questões do direito reprodutivo da mulher, da regulamentação da prostituição, do combate à exploração da criança, dos direitos LGBT.
E a que o senhor atribui essa indicação dos jornalistas?
Acho que me indicaram pelo conjunto da obra. Este ano, mudei de comissão. Saí da Comissão de Finanças e Tributação e fui para a Comissão de Educação. Participei da discussão do marco civil, distribuí meu trabalho para outras áreas. Atuei em outros fronts que me deram mais visibilidade. Embora parte da mídia destaque só o trabalho LGBT, meu mandato é plural. Não foi só a primeira impressão de um primeiro ano. Não houve uma queda. Fui indicado com pessoas que têm história muito maior na política que a minha.
Quando chegou ao Congresso, o senhor era destacado como parlamentar “celebridade”, por ter participado do Big Brother Brasil. O senhor pensa em seguir na política e disputar a reeleição?
Estou pensando. Optei por fazer deste um mandato significativo. Entrar na disputa faz parte do meu horizonte. É importante. Estarei na disputa de alguma maneira. Sempre tive comigo o compromisso de que faria este mandato como se fosse o único. Se for o único, espero que tenha sido significativo, relevante politicamente e que tenha feito conquistas importantes. Senti essa necessidade de estar no Congresso para defender os direitos da comunidade que represento, das pessoas beneficiadas ou diretamente atingidas. Mas há também minha vida pessoal. Entrar em um mandato com essas características impõe ameaças de morte, custo na relação pessoal e com a família. Para outro parlamentar que conduz o mandato de maneira diferente, isso não é problema. Não há vigilância sobre o mandato dele. É apenas mais um entre os 513. Não é o meu caso. Faço um mandato federal. Não tenho como priorizar meu domicílio eleitoral porque o Brasil inteiro demanda a minha presença, seja nas audiências, em palestras ou nas atividades com o movimento social. Sempre cumpri essa agenda, isso é muito desgastante.
Ainda lhe incomoda ser tratado como ex-BBB? O senhor acredita que sua atuação no Congresso já o desassociou dessa imagem?
A redução à figura de ex-BBB não vem por maldade. Vem, muitas vezes, por ignorância, por desconhecerem o meu passado. Quando se referiam a mim apenas como ex-BBB, eu dizia que não tinha nascido ali, que tinha uma história de vida que precisava ser recuperada. Uma história maior do que três meses na vida de qualquer pessoa. Não me incomodo em ser chamado de ex-BBB. Tenho a imagem de uma figura televisiva. O importante é sustentar na esfera pública a questão da homossexualidade. Se as palavras convencem, o exemplo arrasta.
E que exemplo o senhor acredita que está ficando?
O fato de ser deputado federal homossexual assumido com atuação reconhecida pela imprensa especializada vai contra a bandeira pejorativa a que os homossexuais foram confinados. Nada contra maquiadores e cabeleireiros, que merecem todo nosso respeito. Mas sempre se impôs que os homossexuais tinham de assumir essas funções. Até por conta do armário. A minha atuação leva muita gente a se assumir e sair do armário, conjugando com suas outras funções na vida. Isso tem uma representação positiva. Quando o pai disser ao filho adolescente que ser gay é ser marginal, o garoto vai poder responder: “Isso não é verdade, pai. Olha lá a atuação do deputado”.
Deixe um comentário