Em sua primeira entrevista coletiva como líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) disse há pouco em seu gabinete que não fez ou fará qualquer indicação política para cargos no governo. Em seu primeiro mandato como senador e aos 51 anos, Eduardo disse aos repórteres que a população não aguenta mais “as velhas práticas da política” – com essas declarações, mesmo com elogios à liderança “fantástica” de seu antecessor, Romero Jucá (PMDB-RR), ele traz à lembrança o fato de que Jucá tinha um irmão, Oscar Jucá Neto, como diretor da Companhia Nacional de Abastecimento, de onde saiu fazendo denúncias de corrupção, em julho de 2011, e como assessor da Infraero (a mulher de Oscar, Taciana, também era do quadro da estatal).
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“O que diz se um líder foi bom ou ruim são as estatísticas de rendimento. E as estatísticas do senador Romero Jucá são fantásticas”, declarou o novo líder, para depois registrar: “A população não quer mais os velhos métodos, as velhas práticas. Não tenho nenhum cargo [indicado] no governo, nem como porteiro. Não tenho nem farei indicação minha. Sou líder do governo para ser interlocutor do governo, sem obstáculos às pretensões da base”.
Eduardo demonstrava descontração na coletiva – ao contrário do tom ríspido de ontem (segunda, 12), quando evitou comentar a novidade da liderança. A certa altura da entrevista, um assessor adentrou a sala do gabinete, ao celular, falando com um certo “presidente”, e passou o aparelho para o senador. Era o ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), como o próprio Eduardo informou ao desligar o telefone. Era um telefonema inusitado de “cortesia” para o correligionário: Eduardo Braga é um dos integrantes da ala do PMDB que se declara independente – o chamado “grupo dos 8” do partido – e não acata as determinações da atual cúpula peemedebista (Jucá, Renan e Sarney). Mas Eduardo parecia enfatizar a boa relação com Renan e, segundo o diálogo, marcaram um encontro para amanhã (quarta, 14). “Na hora que você marcar”, acertou o novo líder, antes de mandar “um abraço, querido”.
Ontem, Eduardo teve seu nome anunciado para a função, extra-oficialmente, pela assessoria da liderança do PMDB – na sexta-feira na última semana, o senador já havia se reunido com o núcleo de articulação do Planalto, provavelmente para acertar os termos da indicação. Ao falar de como assume a função, ele deu outra declaração indiretamente relacionada à liderança exercida por Jucá.
“A presidenta sabe que nós vamos construir um modelo de trabalho na liderança do governo, para tentar dar uma dinâmica e dar a ela um panorama e um cenário absolutamente verdadeiros, para que ela possa tomar as decisões com as informações corretas na mão”, destacou, dizendo-se preparado para a função mesmo na condição de estreante no Senado.
“Então, eu tenho de trabalhar mais. Vejam, fui prefeito de Manaus aos 33 anos, em 1993, 1994. Foi exatamente com a juventude, com o ímpeto, a ousadia e a vontade de fazer que eu consegui me firmar fazendo o que foi confiado”, respondeu o também ex-governador do Amazonas, tentando demonstrar perfil político diverso daquele representado pelas “raposas felpudas”. “Consegui sobreviver à pressão, fui muito bem avaliado e fiz meu sucessor.”
Assim que deixou a coletiva, o senador foi imediatamente à tribuna do plenário para discursar como líder pela primeira vez. Mais uma referência à gestão Jucá. “Os momentos políticos, muitas vezes, representam a necessidade da alternância do poder, principalmente na democracia. Isso não significa dizer que o líder Romero Jucá deixou de merecer ou obter, por parte da presidenta Dilma, governo, dos seus pares e dos seus colegas de partido, o reconhecimento. Ao contrário”, discursou, ao “fazer esse reconhecimento extremamente importante” em relação ao ex-líder. “Precisarei muito da ajuda do líder Romero Jucá para poder dar continuidade na liderança do governo.”
Poucos senadores prestigiaram o discurso do novo líder – nenhum deles do grupo Renan/Sarney/Jucá. Entre os 18 da bancada peemedebista, apenas quatro: Ricardo Ferraço (ES), Luiz Henrique da Silveira (SC), Eunício Oliveira (CE) e Valdir Raupp (RO). De outros partidos, estavam em plenário o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), Eduardo Suplicy (PT-SP), Inácio Arruda (PCdoB-CE), Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que presidia a sessão.