Moisés Marques*
O continente europeu ainda está às voltas com o socorro aos países que podem colocar em xeque a Zona do Euro. A Grécia nada mais é do que a ponta de lança de uma crise que envolve várias nações, inclusive algumas das antes consideradas intocáveis, recentemente rebaixadas pelas suspeitas agências de classificação de riscos.
O problema europeu, no entanto, ainda parece basal. O que se quer do Velho Continente? Para onde vai o projeto de integração? O referendo irlandês nada mais é do que a recidiva de um antigo dilema: é a Europa saint-simoniana das confederações ou é a Europa das Nações preferida por De Gaulle?
A passagem do bastão da presidência do bloco da Polônia para a Dinamarca indica uma das origens do problema. Encalacradas em um ativismo sem precedentes, as instituições europeias não conseguem dar vazão às necessidades prementes dos cidadãos do bloco. Não que isso venha em detrimento do processo democrático em geral consolidado nos países mais tradicionais do continente, mas evidentemente abre espaço para lideranças pouco comprometidas com o projeto integracionista e que vêem na desvinculação dos países mais pobres do euro a panaceia.
Se for para haver retrocesso no que tange à moeda, instituição decantada por Michel Aglietta como imbuída de uma violência pouco conhecida (basta lembrar da hiperinflação da República de Weimar), por que continuar a cobrar diretrizes oriundas do Tratado de Maastricht?
Se for para remendar o recente Tratado de Lisboa, vale a pena reconhecer sua obsolescência neonatal e buscar uma saída honrosa em outro tipo de institucionalização.
Se for ainda para buscar substitutos aos líderes da Comissão, da União ou do Conselho, talvez estejamos acreditando demais nas lideranças e deixando as instituições aos leões.
No início de 2013, em tese, a Croácia quer adentrar ao bloco. Vários outros países, como Sérvia, Ucrânia, Bósnia, e quem sabe a Turquia, também fazem coro às reivindicações de poderem ter acesso privilegiado ao mercado e às instituições do bloco.
O equilíbrio delicado entre a necessidade de ir em frente e a fragilidade conjuntural amalgamada às decalagens institucionais carece de algo com difícil tradução no português: statecraft. É a capacidade política de tecer instituições a partir de recursos dados em conjunturas críticas que pode salvar a Europa, neste momento.
O problema é que Sarkozy, Merkel e Cameron parecem estar muito longe de representar os papéis que De Gaulle, Churchill e Adenauer desempenharam na criação do bloco. Surgirá um deles no Velho Continente?
* Moisés Marques é coordenador e professor do bacharelado em Relações Internacionais da FASM e mestre e doutor em Política Internacional pela USP
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