Derrubado pelo mensalinho, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), renuncia hoje ao mandato em meio à acusação de que também teria envolvimento com o mensalão. Ouvido durante todo o dia em reunião conjunta de três comissões parlamentares de inquérito (CPIs), o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, guardou para a sessão reservada a principal denúncia: a de que o PP teria recebido R$ 8 milhões, entre abril e maio deste ano, em troca de apoio ao governo. Mais uma vez, no entanto, o doleiro não apresentou prova da acusação.
O dinheiro teria sido repassado pela corretora Bônus-Banval, pelo empresário Marcos Valério Fernandes e pelo doleiro Dario Messer, a pedido do PT. Parlamentares que participaram da reunião informaram que Barcelona disse ter tomado conhecimento do repasse por meio do doleiro Najun Turner, com quem dividiu cela. Mesmo sem especificar valores, Barcelona disse que parte dos recursos teria sido destinada ao próprio presidente da Câmara. Outro beneficiário do suposto esquema seria o líder do PP na Câmara, José Janene (PP-PR), que teria recebido mensalmente R$ 1,5 milhão.
Valério seria responsável pelo repasse de R$ 5 milhões. Os outros R$ 3 milhões teriam sido transferidos por Messer. Com o dinheiro, dirigentes do PT teriam tentado convencer Severino a não fazer oposição ao governo após assumir a presidência da Câmara, afirmou o doleiro. O presidente da Câmara não se pronunciou sobre a denúncia.
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) confirmou o relato de Barcelona em entrevista. "Foi via Bônus-Banval. Hoje o Barcelona confirma que o dinheiro chegou a Severino nessa operação que já era de conhecimento do valerioduto. O que o Toninho (Barcelona) fala é isso: que o Janene intermediou", disse Faria de Sá.
A véspera da renúncia não foi um dia fácil para Severino. Relatório reservado do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda, confirmou que o presidente da Câmara foi mesmo beneficiário do cheque de R$ 7,5 mil apresentado semana passada pelo empresário Sebastião Augusto Buani. De acordo com Buani, o cheque faz parte de uma mesada que pagou a Severino, entre 2002 e 2003, para garantir a renovação do contrato do restaurante Fiorella com a Câmara.
O saque foi feito no dia 30 de julho de 2002. O Coaf identificou que R$ 6.810 foram repassados a Severino. Os R$ 690 restantes teriam ficado com a própria secretária em nome de quem foi emitido o cheque: Gabriela Kênia Martins. O valor, aliás, está assinalado no verso do cheque.
Contradições
PublicidadeEm depoimento à Polícia Federal, Gabriela apresentou duas versões. Primeiro, negou ter conhecimento do cheque. Confrontada pela apresentação do papel, disse que o dinheiro teria sido repassado a Severino Cavalcanti Ferreira Junior, filho do presidente da Câmara. Candidato a deputado estadual em Pernambuco em 2002, ele morreu num acidente de carro às vésperas da eleição. O valor não consta da prestação de contas de Junior à Justiça Eleitoral, o que configuraria crime eleitoral.
O documento que prorrogava a concessão passou por perícia do Instituto de Nacional de Criminalística e o laudo atestou que a assinatura é do presidente da Câmara. Mas a Polícia Federal afirmou que o resultado não é conclusivo, pois a análise foi feita em uma cópia do contrato, pois o papel original desapareceu. Mesmo assim, a análise será anexada ao inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga o “mensalinho”.
Mais provas
O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, dispensou a quebra do sigilo bancário de Severino. "Os elementos são bastante consistentes", declarou. O procurador ressaltou ainda que novas informações que comprovariam a versão de Buani sobre a cobrança de propina estão surgindo. "Há elementos novos que corroboram a versão do empresário no sentido de que os valores eram destinados ao deputado", acrescentou.
Na última terça-feira, o advogado de Severino Cavalcanti, José Eduardo Alckmin, afirmou que a situação do deputado na Câmara é bastante delicada, já que o julgamento na Casa é político. Mas assegurou que, no foro comum, não haveria qualquer possibilidade de Severino ser condenado. “Não há indícios suficientes que comprovem a participação dele nesse esquema”, afirmou.
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