O PT escolheu, na noite desta sexta-feira (2), a presidente Dilma Rousseff como sua pré-candidata às eleições deste ano. Em um ato simbólico, em São Paulo, o presidente da legenda, Rui Falcão, pediu que os militantes, reunidos em Congresso Nacional em São Paulo, levantassem suas mãos e crachás para escolher a candidata. A escolha, feita sob o coro de “Um, dois, três, é Dilma outra vez”, é um passo para tentar abafar o coro de petistas descontentes com a administração federal e desejosos de que o ex-presidente Lula volte a se candidatar.
Os petistas ainda tentaram se desvincular da imagem do deputado André Vargas (ex-PT-PR) e das irregularidades da Petrobras, apontadas em investigação da Polícia Federal. Sobraram críticas à imprensa, considerada “o principal partido de oposição” tanto por Lula quanto por Falcão.
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Além de reduzir o “Volta, Lula”, que só não é maior porque o próprio Lula rebate essa possibilidade, o congresso servirá ainda para definir estratégias da campanha. Falcão disse que não se pode ter “salto alto” na hora de disputar o cargo contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) e sua vice, Marina Silva (PSB e Rede).
Em seu discurso, Lula convocou a militância a interromper o “Volta, Lula”. “Não existe candidata que não seja a Dilma neste partido”, afirmou o ex-presidente. “Não podemos gastar energia com coisa secundária”. Ele recomendou que Dilma faça mais discursos e a elogiou pelo pronunciamento à nação na TV na quarta-feira (30), antes do feriado do Dia do Trabalhador, porque ele deixou a oposição “nervosa”. “Faça 12 discursos por dia, minha filha. Quem tem que falar bem de você é você mesma”, aconselhou.
Dilma disse que aceita a missão “honrosa” e desafiadora” de ser pré-candidata. Ela destacou a tarefa “avassaladora” e “hercúlea” que foi suceder Lula em 2010 e tomar posse no Palácio do Planalto.
Jogo garantido
Lula e Rui Falcão recomendaram cautela na disputa eleitoral “Não teremos uma campanha fácil”, disse o ex-presidente da República. “Estamos com o jogo mais ou menos garantido, mas não podemos entrar com sapato salto. Não é só eleger a Dilma, é eleger governadores, senadores, deputados estaduais, garantir ao governo uma grande maioria não apenas nossa, mas da base aliada”, continuou Lula.
Mídia
Em seu discurso, o ex-presidente centrou fogo na imprensa. Após afirmar que não se tratava de um “ataque”, disse que os meios de comunicação são uma legenda partidária. “O principal partido de oposição é a nossa gloriosa imprensa”, afirmou Lula. Ele disse que o PT é “democrático” porque anuncia nos jornais e, nas páginas seguintes o noticiário “esculhamba” o partido – “e a gente não reclama”.
Lula e Falcão defenderam uma lei para regular a mídia. Durante o discurso de Falcão, a plateia aplaudiu e aproveitou para criticar as organizações Globo. “A verdade é dura: a rede Globo apoiou a ditadura”, cantaram os petistas.
Lula disse reclamou da falta de noticiário do mensalão mineiro, que foi remetido para Belo Horizonte. “Ninguém comenta”, criticou, lembrando da quantidade de notícias sobre os petistas presos por serem condenados por corrupção no processo do mensalão – como José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares.
Petrobras e ingratidão
O ex-presidente criticou a elite brasileira por, segundo ele, ser ingrata ao seu governo, que aumentou os mercados consumidores e a fez enriquecer nos 11 anos de PT.
Ele também criticou a exposição de irregularidades Petrobras. Afirmou que isso só acontece em época de campanha eleitoral e insinuou que alguns políticos chantageiam a estatal com CPIs. “Tem gente querendo fazer caixa de campanha ameaçando, em toda época de campanha, com CPI da Petrobras”, disse Lula.
Lula disse que, após viagens internacionais, estará “por conta da campanha” de Dilma. Disse que também apoiará candidatos do PT mesmo onde houver acordos da direção nacional com outros partidos. “Não estou subordinado aos acordos do Rui Falcão. Sou apenas um cidadão brasileiro. Está na hora de a gente falar grosso em nome do nosso partido”, disse Lula.
Herança maldita
No discurso de Falcão sobraram críticas para Aécio, dizendo que ele contém a “herança maldita” deixada por Fernando Henrique Cardoso em 2002. “E que agora, como pré-candidato, anuncia medidas ‘impopulares’, como a flexibilização das leis trabalhistas e o fim da lei do salário mínimo”, afirmou o presidente do PT.
Eduardo Campos e Marina Silva também foram atacados. “É preciso desmascarar os que prometem uma nova política. Prometem um futuro de consequências danosas”, condenou. Ele disse que a proposta de reduzir a inflação a 3% ao ano pode aumentar o desemprego em até 60%.
Polícia Federal e autocrítica
No encontro, alguns membros do PT tentaram afastar o fantasma do ex-petista André Vargas, que deixou o partido para não ser expulso após ser flagrado pela Polícia Federal fazendo lobby para um doleiro denunciado por lavagem de dinheiro.
Lula tocou no assunto duas vezes sem mencionar o deputado federal envolvido com o doleiro. “Se alguém fez coisa errada, tem que pagar”, disse inicialmente. Depois, ele foi mais duro. “A gente não pode compactuar com pessoas que, em nome do nosso partido, com mandato do nosso partido, façam coisas em caráter pessoal, sem se importar com o nosso partido”, criticou, aplaudido. Ele defendeu um “processo de recuperação da imagem” do PT, que também afirmou ser alvo de “perseguição” da imprensa pela quantidade de notícias sobre os presos do mensalão.
O governador da Bahia, Jacques Wagner, afirmou que a militância não pode ficar acuada. “Não temos que nos acanhar com erros de humanos de qualquer agremiação tem”, disse ele. “Mas temos que ver o saldo”, continuou ele, ao comentar conquistas sociais dos últimos anos.
Lula fez uma autocrítica. Disse que o poder do dinheiro está contaminando o partido. “Nosso partido nasceu para ser diferente de tudo o que existia, para fazer política de maneira mais digna”, afirmou. Segundo o ex-presidente, “hoje parece que o dinheiro resolve tudo” e que não há mais cabos eleitorais voluntários. “Hoje é tudo uma maquina de fazer dinheiro que está fazendo o partido parecer um partido convencional”, afirmou o ex-presidente.
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