Na semana em que hospitais de Manaus sofrem com a falta de oxigênio para atender pacientes com covid-19 – cuja falta de ar aguda é um dos principais sintomas –, viralizou um vídeo em que influenciadores dizem “queremos respirar”, condenam o uso de máscaras e de medidas mais severas de distanciamento social, e defendem o “tratamento precoce” da doença.
Por quatro minutos e vinte e oito segundos, influenciadores, religiosos, um empresário investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e três deputadas federais emprestaram rostos para o clipe “Brasil vencendo a covid-19“.
Na gravação, o grupo defende medidas apoiadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, como o uso precoce de medicamentos como a hidroxicloroquina e a azitromicina, sem eficácia comprovada contra a covid-19.
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As medidas defendidas no vídeo são as mesmas que Pazuello pressionou a cidade de Manaus a adotar, e as mesmas defendidas pelo Ministério da Saúde nas redes sociais. A maioria dos vídeos foi retirada do ar, mas algumas permanecem disponíveis.
O vídeo abaixo foi postado por Otávio Fakhoury, que aparece nas filmagens defendendo práticas não recomendadas por autoridades em nenhum dos países que venceram a pandemia, nem em aqueles onde a doença está sob controle. Apesar de a Constituição prever a liberdade de expressão, pairam dúvidas se o apelo à retirada de máscaras pode configurar crime, uma vez que o uso dela é uma medida obrigatória por lei.
Após ir contra a proposta de lockdown como defendido no vídeo, a capital amazonense agora passa pelo segundo colapso do seu sistema de saúde em um ano, com hospitais e cemitérios abarrotados.
Em defesa das medidas propostas pelo presidente, Marta Serrat – que se apresenta em seu LinkedIn como “Jornalista e Produtora Cultural Multimídia, Relações Públicas e Corretora de Imóveis complexos” – propôs a canção, e outro jornalista, Nando Baltazar, filmou alguns os médicos que idealizaram a campanha. Outros aparecem em vídeos gravados com o celular.
Ambos pediram a Moses Gomes, um produtor musical, para compor a música.
Ao Congresso em Foco, Moses afirmou que “a pior guerra que existe é a guerra do medo”, e diz ser “de sangue verde e amarelo, um patriota”. O produtor também é autor de uma obra em homenagem ao general Eduardo Villas Bôas.
“Por isso combinamos de fazer uma música forte, uma melodia pungente e colocar um pouco mais de coragem nas pessoas, para que elas não venham a sucumbir ao medo”, explicou.
Elogiando as atitudes de Eduardo Pazuello, Moses disse intenção da letra não era confrontar as autoridades de saúde.
“Eu não sou médico – imagina– eu sou músico […] Mas eu sempre tive uma preocupação muito grande de buscar, através da nossa música, sempre me perguntei como nossa música pode ser usada para injetar um pouco de coragem”, afirmou.
A primeira versão da canção teria uma letra mais agressiva, segundo Moses, mas a mensagem foi abrandada nas versões seguintes. Enquanto as filmagens ocorriam, o compositor se encarregou, segundo ele, de todas as vozes, do piano, baixo e linhas de percussão da música.
O produtor musical disse ter se inspirado no clipe de “We Are The World”, canção produzida por Quincy Jones em 1985 com um coral de dezenas de artistas famosos, em prol da luta contra a fome na África. Limitações dadas pela pandemia impediram de que o coral brasileiro fosse a um estúdio, mas o clipe saiu.
Todos aparecem dublando a música, que conta com a participação de ao menos 44 pessoas, sendo oito deles apresentados como médicos, todos retirando sua máscara em algum momento.
Há uma constelação de conservadores no vídeo:
- o empresário Otávio Fakhoury, doador de campanhas ligadas ao bolsonarismo e investigado pelo STF por financiar atos antidemocráticos no ano passado;
- o professor de cursinho e delegado Paulo Bilynskyj, colecionador de armas e principal suspeito de assassinar a sua noiva, Priscila de Bairros, com seis tiros;
- a juíza Ludmila Lins Grilo, que responde a uma reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por incentivar aglomerações no ano novo, tomando o sorvete que lhe deu fama.
No vídeo, estão também presentes as deputadas Chris Tonietto (PSL-RJ), Caroline de Toni (PSL-SC) e Bia Kicis (PSL-DF). Enquanto Chris Tonietto e Caroline de Toni não foram localizadas pelo Congresso em Foco, Bia Kicis disse que aceitou o convite feito pelos idealizadores do vídeo.
A deputada confirmou que a gravação foi idealizada pelos oito médicos como forma de incentivar o tratamento precoce. “O propósito é salvar vidas”, disse, ressaltando que o ato de tirar a máscara que todos os participantes fazem seria simbólico.
Bia Kicis aparece em dois momentos do clipe – em um deles segurando um exemplar da Constituição de 1988, no trecho onde a letra diz que “A Constituição já foi rasgada à força”.
O Congresso em Foco buscou o Conselho Federal de Medicina (CFM) para entender se a entidade, que regulamenta a profissão no Brasil, considera apropriada a manifestação, e se endossa o que nela foi apresentada.
O CFM respondeu com um artigo de abril do ano passado, no início da pandemia, onde deixa a cargo do médico a aplicação dos remédios do suposto “tratamento precoce”, desde que com consentimento do paciente.
No artigo, o conselho cita que “não existem evidências robustas de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica para a covid-19.”
Por fim, perguntada sobre que mensagem daria às famílias das mais de 200 mil vítimas da covid-19, Bia Kicis enviou à reportagem o seguinte texto:
“Minha mensagem é de apoio ao tratamento precoce, tendo em vista evidências de que ele salva vidas. O uso de máscaras artesanais deve ser facultativo na forma de um projeto meu”, disse. “Vamos lembrar que ‘supremo é o povo’, todos devemos obediência à CF e chega de tirania. Estão violando nossos direitos e garantias constitucionais. Basta!”.
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É só verificar os gráficos!…90% das mortes é de pessoas que já chegaram aos sessenta ou mais, e esse grupo está entre os com menos contaminação, pouco mais de 10%. Assim fica claro é que os mais velhos é que tem que ficar espertos, os mais velhos tem menos da metade das células disponíveis que os mais jovens, e o que o vírus da Covid quer e busca são novas células.
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