O Brasil vive hoje uma imensa contradição em relação ao setor de tecnologia da informação do Estado. Se por um lado, o Brasil foi eleito o 7º país com a mais alta maturidade em governo digital pelo Banco Mundial, por outro, a população ainda convive com a falta de dados de saúde em meio ao recrudescimento da pandemia de covid-19.
Essa discrepância tem diversos fatores, e um dos mais importantes é quem está a cargo de cada parte dos sistemas de informação do Brasil. Ao mesmo tempo em que Dataprev e Serpro, empresas públicas de tecnologia da informação, vêm prestando um serviço de ponta, e seguro, ao Estado e aos cidadãos, o mesmo não pode ser dito das empresas privadas que prestam serviços ao governo e aos seus órgãos.
Somente entre o último mês de 2021 e o primeiro de 2022, pelo menos três importantes bases de dados de órgãos públicos – o Ministério da Saúde, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal – sofreram ataques de hackers com intenções criminosas. Com isso, a população ficou privada de informações fundamentais, principalmente em relação à vacinação e a variação do número de casos de covid-19 e influenza. Especialistas em saúde relatam um apagão de informações, e, recentemente, o doutor em microbiologia Átila Iamarino relatou que os pesquisadores têm compilado “à mão” os dados de saúde dos 5.570 municípios brasileiros para tentar entender a situação sanitária do País e conseguir planejar as ações de combate aos dois vírus.
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Porém, ao contrário do esperado, o governo tem buscado acabar com a Dataprev e o Serpro, entregando todos os dados que as duas empresas guardam e tratam à iniciativa privada. Em outras palavras, a situação dos sistemas de informação do País pode piorar ainda mais, não só nos sistemas que já foram invadidos ou tiveram problemas, mas também os sistemas que funcionam, como o processamento das aposentadorias e pensões do INSS, ou a fila única dos transplantes de órgãos, por exemplo.
Especialistas como, Sérgio Rosa, ex-diretor do Serpro e funcionário aposentado do DataSUS e Sérgio Amadeu, Professor da Universidade Federal do ABC, acreditam que o governo deveria estar trabalhando no sentido oposto para solucionar os problemas atuais: fortalecendo a Dataprev e o Serpro. Para os dois, o armazenamento e o tratamento dos dados da população são cada vez mais estratégicos e precisam do compromisso e a excelência que só empresas públicas são capazes de fornecer.
Junto aos especialistas, o Ministério Público Federal e entidades que tratam de privacidade e segurança de dados também se manifestaram contra a privatização dessas empresas.
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