Vou envelhecendo, o que não é novidade, e vendo e ouvindo coisas que não imaginava. Como, por exemplo, a existência do “professor de estupro”.
A violência contra a mulher já é exagerada, e ainda vem um degenerado dar aulas para outros degenerados sobre como praticar estupro. No Brasil, uma mulher é assassinada a cada duas horas. Assassinada pelo marido, namorado ou companheiro, ou seja, é assassinada por alguém de relação íntima.
Não há estatísticas e é impossível saber quantas são as mulheres violentadas (por hora), todos os dias. Violentada no sentido amplo da palavra: ou não é violência o que os homens fazem nas ruas ao dirigirem comentários machistas às mulheres? Além dessa violência psíquica e emocional (cotidiana) das ruas, há a violência física e sexual na rua e dentro da própria casa.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou que 50 mil mulheres registraram, em 2013, queixa de terem sido vítimas de estupro, o que corresponde a um estupro a cada dez minutos. Como há uma enorme subnotificação, estima-se que 143 mil mulheres foram estupradas no Brasil no ano passado.
Mas não precisamos de estatísticas para saber o quanto o homem é machista, agressivo e violento em relação à mulher. E com toda essa violência, há aquele que se apresenta como “professor” de estupro, ou seja, o professor do crime de gênero.
Esse professor se chama Julien Blanc que já viajou vários países dando aulas de estupro. Suas aulas estimulam o desrespeito às mulheres, o estupro, a agressão psíquica, emocional e física e também o racismo.
Blanc já teve seu visto cancelado e foi extraditado da Austrália e Reino Unido. Também teve várias “conferências” canceladas em diversos países.
Este “professor” do crime, segundo foi divulgado, estará no mês de janeiro de 2015 nas cidades do Rio de Janeiro e Florianópolis dando “conferências” de como os homens devem agir para “pegar mulheres”.
Quanto a essa vinda ao Brasil, circula na internet um abaixo-assinado organizado pela “avaaz.org” pedindo que o Itamaraty não conceda a ele o visto de entrada no Brasil. Assino embaixo.
Este “professor” é dono, contratado ou contrata uma empresa que é responsável pelas suas conferências, a Real Social Dynamics (RSD). O site da RSD, empresa norte-americana, promete “fazer mulheres pedirem para dormir com você”. Para obter esse “favor”, nas aulas são ensinados métodos pautados na violência, intimidação e humilhação da mulher. Método que, segundo Blanc, ativa na mulher o instinto de “prostituta que existe dentro delas”. Absurdo.
Acredito que muitos dos apoiadores do PL nº 478, de 2007 (Estatuto do Nascituro) que tramita na Câmara dos Deputados, e que estabelece um valor (em real) mensal para a mulher vítima de estupro que engravidar e optar em não abortar, não devem se incomodar com a entrada do “professor” Julien Blanc no Brasil. Pois, para essas pessoas, a violência contra a mulher não deve ser criminalizada, tanto que o PL propõe fazer do criminoso o genitor.
Não bastasse isso, o PL obriga a mulher, que já é vítima do estupro, a conviver com o criminoso. Essa situação submete a mulher à humilhação cotidiana. A mesma humilhação que o “professor” reforça em suas aulas.
O PL deixa também de criminalizar o criminoso para criminalizar a mulher. O criminoso vai ser olhado por parte da sociedade como um homem de bem por ter “assumido a paternidade”. Sim, isso pode ocorrer, pois o PL estabelece que o estuprador sustente a criança vítima de seu crime. Não só a mulher é vítima, a criança fruto do estupro poderá, no futuro, ao tomar conhecimento de como ele foi gerado, fruto do crime e não do amor, se sentir vítima.
Como cidadão e como deputado, jamais tinha imaginado que também houvesse pessoas que apresentassem esse tipo de projeto de lei. É que na sociedade machista em que vivemos tudo vale contra a mulher.
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