Dia desses, lendo o jornal “Mail Online”, lá do Reino Unido, encontrei uma longa e contundente reportagem sobre o suplício imposto aos pacientes dos hospitais daquele país. Transcreverei, a seguir, em tradução livre, os trechos mais importantes.
Começo pela chamada de capa: “Estado chocante da saúde: meio milhão de pacientes foram forçados a aguardar 30 minutos em macas até serem admitidos”. Estas macas, segundo constatou a reportagem, ficaram nas ambulâncias ou até mesmo pelos corredores.
E prossegue a notícia: “Centenas tiveram que esperar mais de duas horas. Pelo regulamento, os pacientes devem ser admitidos dentro de 15 minutos a contar da chegada ao hospital”.
Seria este quadro algo restrito às áreas mais pobres do país? Não: “Em Londres, uma das áreas mais afetadas, o serviço de ambulâncias revelou que 42.248 pacientes esperaram do lado de fora dos hospitais por mais de 30 minutos durante o ano de 2011, e 10.053 tiveram que aguardar mais de 45 minutos”.
Em seguida o jornal denuncia o caso de Reg Storer, um ancião conduzido ao setor de emergências de um hospital público: “Um idoso foi deixado em uma ambulância ao longo de três horas porque a equipe médica estava muito ocupada para dar-lhe tratamento. Reg Storer foi levado ao Hospital Morriston por conta de complicações seguidas a um derrame. Lá, porém, os médicos não puderam conduzir Mr. Storer para dentro porque não havia leitos disponíveis e nem espaço nos corredores para as macas. O filho de Mr. Storer, Allan, declarou que “aparentemente havia uma longa fila de ambulâncias esperando”. Seu pai foi mantido do lado de fora entre 16:30 e 19:30, quando então foi admitido no hospital”.
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Diante de tal descalabro – uma espera de três horas – chamou-me a atenção o comportamento da administração pública: “Pedimos desculpas. Nossa equipe trabalhará de forma excepcionalmente dedicada a fim de que fatos assim não voltem a acontecer”.
Os jornalistas ingleses decidiram ouvir a Associação dos Pacientes. Seguem as declarações de Katherine Murphy: “Isto é chocante – quando as pessoas precisam de assistência médica hospitalar, esta tem que ser imediata”.
O governo daquele país foi chamado às falas. Assim, um representante do Departamento de Saúde declarou, de forma absolutamente humilde, que “toda pessoa tem que ser prontamente atendida quando chegar a um hospital, principalmente se lá chegar conduzida por uma ambulância. É inaceitável que pacientes sejam deixados esperando do lado de fora”.
Seria este quadro dramático decorrente de algum eventual aumento no número de doentes? Não: “Houve uma elevação de apenas 6% no número de atendimentos feitos por ambulâncias, o que indica que o problema não pode ser atribuído simploriamente ao fato de existirem mais pacientes”.
Quanto ao mais, a reportagem traz uma séria advertência: “As longas esperas são ruins para os pacientes e para as equipes das ambulâncias, que ficam retidas nas portas dos hospitais e, portanto, indisponíveis para novos atendimentos”.
Logo abaixo desta notícia havia um espaço para comentários dos leitores. Chamou-me a atenção uma manifestação em especial, de um cidadão que se identificou como “Kenny”, morador da cidade de Kent: “bem-vindo ao Terceiro Mundo, Reino Unido”. Que tal pensarmos sobre esta reportagem, enquanto habitantes de um país infinitamente mais rico? Afinal, como exclamou Francisco Carlos de Holanda, “cego é aquele que olha e não vê o cego na sarjeta”.
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