Há aproximadamente três anos, no primeiro do governo Rollemberg, publiquei um artigo no Correio Braziliense intitulado Dados para um novo governo. Era uma espécie de alerta, mas também de convite ao governo, para que passasse a dar atenção aos dados públicos e tirar proveito deles – que, obviamente, são de todos mas estão sob seu domínio primário.
Nenhum outro elemento pode ser tão poderoso para resolver problemas complexos quanto a inteligência coletiva aplicada à informação, ou gerada a partir dela. Produzir informação fidedigna, que expresse a realidade, é função da quantidade e qualidade dos dados que se tem sobre determinado universo. Quem mais poderia usufruir desse vantajoso mecanismo de maneira tão incisiva que não os governos e, por extensão, a população que é usuária dos serviços e políticas públicas?
Com a oferta de dados governamentais abertos, o poder público passa a “convocar” outros atores da sociedade – principalmente usuários! – a participar do desenvolvimento e cocriação de soluções que reduzem dificuldades e aprimoram políticas. Tim O’Reilly, o guru da tecnologia que cunhou termos como “Web 2.0” e “Government as a Platform”, afirma que informação é tão importante para o desenvolvimento das sociedades que os governos deveriam tratá-la como riqueza nacional.
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Thiago Rondon, em artigo de anteontem, escreve como essa participação da sociedade é fundamental. Em geral, startups se debruçam sobre desafios públicos e ajudam os governos a produzir, de forma compartilhada, ferramentas tecnológicas que dão conta de problemas complexos.
Para apoiar o governo a resolver um dos graves problemas de saúde do DF: a alocação eficiente de equipes e o dimensionamento inteligente do corpo técnico da Secretaria – atualmente, de cerca de 34.000 profissionais –, o Observatório Social de Brasília e o Instituto de Fiscalização e Controle convocaram a sociedade, com apoio de diversas instituições públicas e privadas, para participar do desenvolvimento de soluções por meio de um hackathon, a primeira iniciativa desse tipo a trabalhar com dados da saúde pública do Distrito Federal. Nascia o 1º HackSaúde DF.
O objetivo era conseguir construir respostas para o seguinte desafio: “Como aproximar o profissional de saúde de quem mais precisa da saúde pública no Distrito Federal?”. O valor público a ser construído era a sistematização e disponibilização de informações ao gestor e à população, se possível em tempo real, para permitir uma distribuição mais racional das equipes técnicas.
No último final de semana, na Campus Party BSB 2018, as equipes apresentaram seus trabalhos, que foram mentorados e avaliados por um time de craques. Três dessas experiências, já prototipadas, foram premiadas. O 1º HackSaúde DF, ao longo dos últimos meses, mobilizou dezenas de profissionais, teve mais de 70 participantes inscritos, com 12 equipes finalistas e 7 apresentações de soluções que, agora, podem finalmente ser testadas!
Essa é a novidade! Muitos eventos desse tipo terminam por conceber soluções incríveis que acabam não sendo incubadas por falta de patrocínio político ou vontade da Administração Pública. Com o 1º HackSaúde DF vai ser diferente! Teremos em breve um evento no Hospital de Base de Brasília, com coordenadores de toda a Secretaria de Saúde, para que as equipes apresentem seus projetos, mesmo aquelas que não tenham sido premiadas. A ideia é aproveitar todas as soluções que tenham consistência e possam ser avaliadas na prática para possível uso em escala.
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Como no restante do país, a situação da saúde pública no Distrito Federal não anda bem. No entanto, apesar das várias críticas que fazemos – além das muitas que ouvimos de gente que conhece o setor de perto –, um dos papéis mais importantes que cabe à cidadania, afora fiscalizar e exigir bons serviços do poder público, é o de ajudá-lo a superar as dificuldades que, no fundo, são de todos nós.
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Na última quarta-feira (4), o Portal da Sala de Situação da Secretaria de Saúde foi lançado, em parceria com Fiocruz. Nele, vários outros dados da saúde pública estão disponíveis. Com acesso a dados de qualidade, cidadãos e empresas podem ajudar a pensar em como resolver os graves problemas que a saúde pública de Brasília enfrenta. Quem sabe vêm mais “hacks do bem” por aí?
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