O Afeganistão é um país destruído pela guerra. Segundo a ONU, 70% de sua população têm desnutrição, 65% são analfabetos e a expectativa de vida mal chega aos 40 anos. Dos 26 milhões de afegãos, somente 13% têm acesso a água potável. Imagine o horror: 42% dos habitantes vivem com menos de US$ 1 por dia.
Enquanto isso, cada um dos porta-aviões norte-americanos que foram deslocados para aquela região custou em média US$ 4,5 bilhões, e consome diariamente o equivalente a uns US$ 500 mil. Dentro dele vão 85 aviões de guerra que custam cerca de US$ 50 milhões cada. Os mísseis que estes aviões carregam chegam a custar US$ 500 mil cada um. Há notícias também de que foram utilizados lá aviões B-2, construídos ao espantoso custo de US$ 2 bilhões a unidade.
Até onde apurei, a implantação de uma rede de água custa cerca de US$ 230 por habitante, e a de esgoto uns US$ 360. Isto significa que com o valor gasto na construção de apenas três porta-aviões seria possível proporcionar aos 26 milhões de afegãos saneamento básico pleno. Se falarmos da fome, a conta fica ainda mais chocante: o valor gasto a cada quatro mísseis disparados seria suficiente para dar uma cesta básica a cada um dos famintos daquele país.
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Ou: se um porta-aviões norte-americano ficasse ancorado em um porto qualquer, à toa, em apenas quatro dias toda a população do Afeganistão estaria alimentada com o dinheiro economizado. Estes são dados que chocam pela insensibilidade que representam relativamente a um povo miserável, desnutrido e sofredor.
Mas deixemos o Afeganistão para lá! Fiquemos aqui pela tão humana, solidária e civilizada América Latina, local onde, segundo o BID, acham-se 200 milhões de pobres – 57 milhões deles vivendo com menos de US$ 1 por dia. Estimou-se que 40% dos habitantes deste continente estão na pobreza, e 15% na mais negra miséria. Só no Brasil são 14 milhões de semelhantes nossos passando fome.
Em nossa região só 25% dos habitantes contam com esgoto e apenas 12% dos dejetos são tratados. Por conta disso, registra-se a morte de 20 crianças brasileiras a cada dia, vítimas inocentes de doenças decorrentes da falta de saneamento básico – isso dá uns três aviões Airbus lotados de crianças a cada mês.
O mais triste é que, sob tanta miséria, a América Latina gastou, em 2008, inacreditáveis US$ 51 bilhões em armamentos! Seriam recursos suficientes para levar saneamento básico completo a 86 milhões de pessoas. E tem gasto ainda mais, importando armas e uma realidade sombria que até poucos anos era exclusiva de outras regiões do mundo.
Não faz muito tempo li em um jornal a descrição do sofrimento de uma pobre senhora, condenada a ficar horas em pé na porta de um hospital segurando o filho doente no colo. Pois é. Com o que se tem gasto em armas a cada ano, daria para construir uns 510 mil postos de saúde na América Latina, proporcionando assistência decente e digna a tantos semelhantes nossos que padecem e até morrem vítimas da falta ou demora de atendimento, sob os nossos olhares tão indiferentes.
Nós, da América Latina, adoramos apontar os exemplos de arrogância e insensibilidade dos norte-americanos. Mas talvez estejamos começando a nos esquecer da advertência de Heinemann: “Quem aponta para o outro com o indicador aponta a si mesmo com três dedos de sua mão”.
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