Mais de um ano antes de Jair Bolsonaro se eleger presidente da República, o Congresso em Foco publicou um alentado perfil do então deputado federal, que já naquele momento era recebido aos gritos de “mito” em aeroportos e outros lugares.
Com 11 páginas e o título “Jair Bolsonaro, o mito dos pés de barro“, a reportagem – assinada pela repórter Ana Pompeu – foi o destaque de capa da edição de julho de 2017 de uma revista impressa que publicávamos na época. Alguns leitores chegaram a questionar nossa decisão editorial, questionando a razão de dar tal espaço a alguém que estaria supostamente condenado a ser para sempre um joão-ninguém da política brasileira.
Tínhamos, obviamente, outra avaliação. A matéria chamava atenção para o crescimento do seu nome entre os eleitores, e também para suas contradições e os riscos que elas embutiam.
“Desiludido com a política tradicional, o Brasil assiste à ascensão de um personagem que desperta sentimentos contraditórios, mas é tratado como ‘mito’ por seus admiradores. Mito, segundo os dicionários, é uma ficção, um ser sobrenatural, um herói, uma figura cuja existência não pode ser comprovada e domina o imaginário coletivo. O ‘mito’ Jair Messias Bolsonaro, 62 anos, tem como marcas as posições extremadas, a postura de enfrentamento constante e os discursos agressivos, em que reivindica ser o defensor e restaurador da ordem perdida”, dizia a reportagem, posteriormente reproduzida na íntegra neste site.
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“Vende-se como homem acima de qualquer suspeita”, prosseguia a matéria. “Mas suas três décadas de trajetória política são bem menos épicas do que supõem muitos dos seus seguidores. Já usou verba da Câmara para custear despesas durante viagens em que teve atividades de pré-candidato a presidente. Tornou-se objeto de atenção pública, pela primeira vez, acusado de planejar a explosão de bombas em instalações militares”.
Na época, Bolsonaro usava como trunfo o fato de não estar respondendo a acusações de corrupção. De lá para cá, a situação mudou com as investigações envolvendo tanto ele quanto sua família com as suspeitas de apropriação ilegal de parte de salário de servidores de seus gabinetes, a chamada rachadinha, e a compra por parte dele e de seus familiares de 51 imóveis em dinheiro vivo.
Fizemos outro alerta sobre o “risco Bolsonaro” em editorial publicado durante o segundo turno da disputa presidencial de 2018, na qual o atual presidente derrotou Fernando Haddad (PT). Fundamentado na trajetória do personagem, o editorial trouxe no título uma afirmação que se revelaria profética: “Bolsonaro é o pior que nos pode acontecer”.
Lógico que não temos aí a companhia de milhões de brasileiros que continuam apoiando o atual presidente, mas o tempo mostrou um governante que isolou o país na arena internacional; levou a dívida pública para patamares inéditos; investiu reiteradamente contra os demais poderes, a ciência, o jornalismo, as artes e a educação; e manifestou espantoso descaso diante da pandemia de covid-19.
A desastrosa gestão da pandemia foi o principal argumento usado pelo Congresso em Foco para defender, em 31 de março de 2021, o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A ideia, como se sabe, não teve nem apoio popular nem apoio das principais forças políticas organizadas para prosperar. Mas levou, de novo, o bolsonarismo a exibir sua face mais cruel. Seguiram-se pressões sobre nossos anunciantes e patrocinadores, obviamente motivadas pelo desejo de estrangular financeiramente esta empresa.
Sobrevivemos e temos orgulho de chamar a sua atenção para a primeira grande reportagem sobre o “mito”. Cinco anos depois, ela permanece, em vários aspectos, atual:
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